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Jayantha Dhanapala*
Consideremos as atuais ameaças globais, 25 anos depois da queda do Muro de Berlim, que simboliza o fim da Guerra Fria, e em vésperas do 70 aniversário das Nações Unidas, o foro criado para harmonizar as ações dos 193 estados membros guiados por Carta para preservar a paz e a segurança.
Temos o quinto Informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), que expressa uma mensagem ambígua de que o fenômeno é consequência das atividades humanas e de que se não se controla derivará em catástrofe.
Temos o problema da desigualdade de interesses em todo o mundo. As um bilhão e 200 milhões de pessoas mais pobres são responsáveis por um por cento do consumo, enquanto o milhão mais rico, de 72 por cento. Isto aumento a frustração e a tensão, especialmente entre os jovens, que constituem 26 por cento da população mundial.
Temos o extremismo religioso, racismo e violência bestial do Exército Islâmico, de Boko Haran e outros grupos anárquicos, que desafiam nossas normas sociais civilizadas e os valores compartilhados.
Temos o terrorismo de Estado de Israel que trava uma guerra desigual contra os palestinos, enquanto ocupam seu território, privando-os de ter seu estado e violando o direito internacional.
Temos mais de 50 milhões de pessoas desalojadas por guerras e violência, 33,3 milhões em seus próprios países e uma 16,7 milhões refugiadas, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Temos o problema da fome, enfermidades, pobreza e violações dos direitos humanos qu continuam desfigurando a condição humana.
As armas nucleares poderão dissuadir tais ameaças?
Ou dito com outras palavras, servirão para resolver esses problemas? Não é mais provável que num mundo de poderosos e despossuídos se de uma crescente proliferação, nas quais figuram atores terroristas não estatais?
A evidência científica mostra que até uma guerra nuclear limitada, se fosse possível algo assim, derivaria a uma irreversível mudança climática e na destruição sem precedentes de vidas humanas e da ecologia que as mantém.
Nós, o povo, temos “a responsabilidade de proteger” o mundo das armas atômicas proibindo-as através de uma Convenção de Armas Nucleares transparente e anulando a todas as outras autoproclamadas aplicações de “responsabilidade para proteger”.
Apesar destas provas colossais, o mundo ainda tem 16.300 ogivas nucleares em mãos de nove países, porém Estados Unidos e Rússia possuem 93 por cento do total, e destas, quatro mil estão em posição operacional.
A possibilidade de ser utilizada por vontade política, ciberataque, a bagatela de um bilhão e 700 milhões de dólares são destinados à armas, em geral, e à modernização das armas atômicas em particular.
Só nos Estados Unidos, e em flagrante contradição com as promessas do presidente Barack Obama, a modernização das armas nucleares custarão 355 bilhões de dólares nos próximos dez anos.
Um general com visão de futuro duas vezes presidente dos Estados Unidos, Dwigth Eisenhower (1953-1961), alertou, há mais de 50 anos, sobre a influência insidiosa do “complexo militar industrial” do país.
Essa influência, reforçada por um desejo insaciável de lucro, se propagou por todo o mundo, avivando as chamas das guerras, mesmo quando a ONU e outros defensores da paz tratam de encontrar soluções pacíficas de acordo com a Carta.
Me orgulho de que a Conferência de Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais, que tenho o privilegio de encabeçar atualmente, leve mais de cinco décadas perseguindo a erradicação das armas nucleares sobre a base do Manifesto de Londres, de 1955, assinado por Albert Eistein e Lord Bertrand Russell.
Joseph Rotblat, um dos país fundadores da Conferência de Pugwash, que abandonou o Projeto Manhattan por se opor de consciência, compartilhou o Prêmio Nobre da Paz com Pugwash em 1995.
Pugwash não é senão um dos movimentos de cidadãos que desde 1945 reivindicam a abolição das armas nucleares. A pressão da sociedade divil fu a que finalmente possibilitou o Tratado de Proibição Completa dos Ensaios Nucleares e outros significativos avanços no rumo da proscrição total desse armamento.
O mundo já conseguiu a proibição de outras categorias de armas de destruição em massa, as biológicas e as químicas.
Duas organizações não governamentais, ICAN e PAX, rastrearam minuciosamente o dinheiro por traz das armas nucleares e revelaram em seu relatório “Don’t Bank on the Bomb” (No financiem as bombas) que desde janeiro de 2011, 411 bancos diferentes, companhias de seguros e fundo de pensão investiram 402 bilhões de dólares em 28 países na indústria de armas nucleares.
As nações com armas atômicas gastam em total mais de 100 milhões de dólares em suas forças nucleares.
Solicito que façam suas próprias contribuições para o desarme nuclear unindo-se à campanha de desinvestimento. A pobre retórica de Obama em seu celebre discurso de Praga, em abril de 2009, sobre um mundo livre de armas nucleares tem pouco do que se vanglorias se no atual junto à sociedade civil.
Tenho visto o mundo superar muitos obstáculos, o colonialismo, o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, o fim do odioso apartheid na África do Sul e finalmente o fim da Guerra Fria.
O desarme nuclear também é um objetivo realizável e não uma miragem, como nos pretendem fazer acreditar os estados nucleares. A conquista de um acordo final pelo programa nuclear do Irã e a próxima Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares em 2015 são oportunidades para que evitemos a proliferação erradicando essas armas
Ha que felicitar a Inter Press Service (IPS) por seu 50 aniversário. Ao servir a causa do mundo em desenvolvimento, a agência tem mantido os importantes princípios de equidade e de justiça nas relações internacionais advogando pelo fim do intercâmbio desigual em todas suas formas.
Estou profundamente agradecido pelo prêmio que honra as organizações com as quais venho trabalhando em uma longa luta por livrar o mundo das armas mais inumanas e destrutivas jamais inventadas.
*Este artigo é parte do discurso de Jayanth Dhanapala em agradecimento ao prêmio de IPS em 17 de novembro. Editado por Kitth Stapp – Traduzido do inglês por Verónica Firme e para o português por PCF.