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Paulo Cannabrava Filho*
É triste, para não dizer trágico, depois de mais de 50 anos de jornalismo e de luta por um país mais justo, chegar a atual conjuntura eleitoral. Não há propostas que visem sair ou nem mesmo amenizar a ditadura do capital financeiro. Cada um busca estar mais a direita que outro, com exceção, claro, da Luciana Genro. A única que se apresentou como gente e botou caca no ventilador.
As propostas de uma das candidatas é de promover a independência do Banco Central, para não dizer privatização, e fortalecer o agronegócio. Até ai tudo bem se seu discurso anterior não fosse a antítese do atual. Do fundamentalismo religioso saltou para o fundamentalismo de adoração ao Deus Mercado. Chico Mendes deve estar indignado se estiver observando de outro mundo.
Do lado dos que se chamam socialdemocratas vemos a antítese da democracia social. O candidato já afirmou que Armínio Fraga vai ser seu ministro da Fazenda e já o tem como coordenador para seu programa econômico. Armínio, o gênio, o cara, a maior Inteligência para repor o país no eixo novamente. Que eixo? Será mesmo o gênio?
Ambas candidaturas é que estão dando a tônica para os discursos eleitorais. Disputa-se quem consegue estar mais à direita. O mesmo ocorre com os candidatos proporcionais. Cada vez é maior o número de parlamentares executivos de empresa, banqueiros e gestores do agronegócio, e, os fundamentalistas que se dizem evangélicos. Pura enganação. Tudo o que fazem é por dinheiro.
Qual o pior? O que será pior?
Armínio Fraga se tornou conhecido por ter sido o principal executivo do sumo sacerdote do Deus Mercado, o “velho e sábio” Jorge Soros. Armínio foi quem ditou a política econômica e monetária nos anos de Fernando Henrique. Agora, de reis da especulação no cassino global, assumiram também o reinado das commodities.
O Brasil volta aos tempos de D. João VI. “Para nossa vela, vender o pavio”… vender minério e comprar trilhos mais barato na China. A indústria brasileira, stricto sensu, desapareceu. O decênio com o PT no governo não conseguiu inverter a lógica imposta pela ditadura do capital financeiro.
É possível que em nenhum outro país existam 40 ou mais montadoras de automóveis. Montadoras, não fábricas como tínhamos nas décadas de 1960-70. Todos os setores mais dinâmico da economia, aqueles de retorno mais rápido e seguro do capital, estão em mãos de transnacionais. É maior a remessa de lucro e dividendos do que em qualquer outro ingresso ou egresso época de nossa história. O capital industrial não se multiplica, serve às matrizes e ao mercado financeiro. Se deixa de dar lucro, fecham as portas, como fizeram no México. Pouco lhes importa que haja desemprego.
Essa disputa por um discurso mais à direita é o que se vê também na Europa. A socialdemocracia, para não perder a corrida com os neonazistas desencadeou a privatização, a submissão ao Banco Central controlado pela Alemanha e o FMI, e a participação nas guerras de conquistas deflagradas pelos Estados Unidos.
Aqui, diante do avanço do discurso da direita Dilma promete mais do mesmo. E é precisamente por prometer mais do mesmo que acentua sua queda nos índices das pesquisas.
Esse cenário está a colocar em êxtase os arautos na grande mídia. Todas as vozes, em uníssono, a escrachar a pobre e indefesa Dilma. Parece estar perdida, e é bem possível que esteja, se não perdida, pelo menos perplexa diante do inesperado isolamento.
Marina, finalmente, tirou a máscara. Ao apresentar seu programa revelou a que realmente veio e a quem serve. Aécio não enganou ninguém e chamou diretamente o Armínio Fraga para o comando da campanha e do governo caso eleito.
E Dilma? Será que também vai revelar a que veio e a quem serve?
São as perguntas que pairam no ar, que exigem respostas claras e rápidas.
Na situação a que se chegou nessa conjuntura pré-eleitoral só um choque para reverter as expectativas. E as eleições estão ai. Como fazê-lo?
Só contando com os caríssimos programas eleitorais comandando por marqueteiros insensíveis, será difícil, se não impossível. Seria preciso no lugar de vender sabonete e perfume apresentar gente e programa de governo. Uma estratégia clara de um Brasil soberano e em desenvolvimento, um programa detalhando cada centavo a ser gasto para alcançar as propostas necessárias.
O PT perdeu, em seus mais de trinta anos de existência, a oportunidade de construir uma grande mídia popular para defender os interesses da nação. Voluntaria ou inconscientemente? O fato é que perdemos todos com a ausência de uma mídia alternativa.
O que realmente ocorreu nessas últimas décadas foi o crescimento da concentração da propriedade e do capital nos meios de comunicação. Foi a transformação da informação em commodities. Os jornais cada vez mais servindo ao Deus Mercado, porta-vozes dos bancos a que estão vinculados.
Não se pode negar que foi criado um sistema nacional de informação e comunicação, tendo televisão e agência de notícias como eixo. Mas veio tarde e não alcançou ser uma alternativa.
O que falta, realmente, é um projeto nacional e meios para sustentar sua promoção.
*jornalista e editor de Diálogos do Sul