Pesquisar
Pesquisar

O valor às origens e ao legado de família para imigrantes guatemaltecos nos EUA

Disiderio fala com suas irmãs, que preparam comida e café, para que continuem com o legado de memória histórica de seu país
Ilka Oliva Corado
Diálogos do Sul Global
Território Estadunidense

Tradução:

Disiderio acende uma vela no altar que tem na sala da sua casa no Colorado, voltou recentemente a trabalhar limpando banheiros públicos em parques do distrito. Faz um ano do falecimento de sua mãe, Modesta, a única sobrevivente de sua família, que foi massacrada pelo exército da Guatemala nos tempos da ditadura militar.

Seus pais lhes contavam que, junto a outras famílias, se esconderam na selva durante meses para não serem assassinados. Daqueles dias de perseguição, fome, frio e angústia, recordavam os enterros que se faziam ao pé das árvores, como sinal para o dia que regressassem, e assim poderiam encontrar os defuntos e enterrá-los no campo santo do povoado. Nessa viagem pela sobrevivência, Dona Modesta conheceu Onésimo, a quem tinham assassinado seus pais e irmãos; se casaram muito anos depois quando residiam no Colorado, Estados Unidos.

Nenhuma daquelas famílias como as que percorreram montanhas retornou ao país. Os cerros imensos que lhes relataram seus pais foram destruídos pelas mineradoras e pecuaristas oligarcas. A terra que lhes roubaram, jamais lhes foi devolvida e o povoado de seus ancestrais hoje em dia é uma fazenda imensa de palma africana. Dona Modesta pediu para ser enterrada no país de residência, como fizeram com seu pai, Onésimo, para regressar ao lugar onde lhe fizeram tanto dano.  

Disiderio fala com suas irmãs que preparam comida e café. Lhes diz que, agora, cabe a elas continuarem com o legado de memória histórica de seu país, para que seus netos saibam porque são estadunidenses de bisavós guatemaltecos de etnia indígena.

É mais que uma reza, anuncia a toda a família reunida junto à foto de dona Modesta, o círio aceso e o incenso fumegando. 

Ilka Oliva-Corado, colaboradora da Diálogos do Sul em território estadunidense.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul

 


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Ilka Oliva Corado Nasceu em Comapa, Jutiapa, Guatemala. É imigrante indocumentada em Chicago com mestrado em discriminação e racismo, é escritora e poetisa

LEIA tAMBÉM

Integrar natureza e sociedade caminho para superar a crise socioambiental
Integrar natureza e sociedade: caminho para superar a crise socioambiental
Vazamentos, corrupção e mais entenda acusações contra juíza destituída do Supremo do Chile
Vazamentos, corrupção e mais: entenda acusações contra juíza destituída do Supremo no Chile
Maior caso de corrupção da história recente do Chile envolve Ministério Público e primo de Piñera
"Maior caso de corrupção da história recente do Chile" envolve Ministério Público e primo de Piñera
4ª Estado de exceção de Noboa - ministra e polícia do Equador divergem sobre criminalidade
4ª Estado de exceção no Equador é medida extrema e inexplicável de Noboa, dizem especialistas