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Winston Orrillo*
Figura zenital na cultura cubana contemporânea, e cujas opiniões perfilam o acontecer intelectual e artístico da Pátria de Martí, Abel Prieto (Pinar del Rio, 1950) foi presidente da Uneac (1991-1997) e logo ministro da Cultura, até que hoje está como assessor do presidente Raúl Castro. Recentemente ele esteve no Perú para a apresentação, na Feira Internacional do Livro, da obra “Fidel Castro Ruz, Guerrillero del Tiempo, de Katiuska Blanco.
Aproveitamos a oportunidade (olhem só os efeitos do bloqueio no aspecto cultural) para só agora tomar conhecimento e fazer uma resenha do El vuelo del Gato, seu primeiro romance, publicado primeiro por Letras Cubanas, em 1999, e numa segunda edição, por Monte Ávila, de Caracas, em 2007.
O texto é uma espécie de afresco – muito vivo, fascinante de sua própria geração, a quem acompanha através de dois protagonistas, Marco Aurelio e Freddy Mamoncillo, arquétipos de cubanos da época (os gloriosos anos 1960), e ao longo de mais de trinta anos, contados desde o pré-universitário de Marianao, com toda a parafernália de uma juventude e suas vicissitudes, com namoro, casamento, amores e desamores e esse rumor implacável do passar do tempo – Cronos – visto desde o que poderíamos chamar de um olhar “sadio” e, ao mesmo tempo, com esse leve humor que permite a desmitificação de usos e costumes que, aos que conhecemos um pouco da bem amada Cuba, faz-nos sentir bem.
Protagonista essencial desse romance é a linguagem crioula, que faz com que o texto seja lido com prazer e atenção especial, pois o autor sabe, desse modo e valendo-se de tais expressões, penetrar na trama de personalidades que não se transformam em clichês nem estereótipos, mas que, cada uma é motivo de uma profunda meditação, com esse olhar matreiro do romancista que não poupa referencias aos ídolos do momento, como os Beatles, acompanhados de um séquito de autores da inesgotável música cubana, e, também com citações a Pablo (Milanes) y Silvio (Rodriguez), como não podia deixar de ser.
Olhar sem viseiras, e apresentação dos fatos cotidianos que caracteriza a uma sociedade aberta a espiritismos e demais fantasias (do chamado “realismo mágico”), bem como o modus vivendi da típica família da Ilha, como pano de fundo da crise social, com os que partem – famílias inteiras – e Mariel e a miragem do país do Norte, onde “tem de tudo”, mas falta o que não deve faltar ao ser humano: a solidariedade e o enraizamento na cubanidade, que é uma espécie de substratum de uma geração que coincidiu no já mencionado Pré de Marianao.
Maestria no desenho de personagens e situações, a primeira novela de Abel Prieto se encontra também a presença de citações e evocações da obra de josé Lezama Lima, em que o autor é um especialista, (inclusive no título do livro recolhe varias referencias do inolvidável criador de Paradiso). E também se percebe o pensamento e a obra do filósofo e governante romano, Marco Aurélio, com que se perfila a verdadeira esfinge de um de seus protagonistas, não casualmente do mesmo nome.
Abel Prieto tem vários livros de contos publicados: “Los bitongos y los guapos”, 1980; “No me falles, galego”, 1983; y “Noche de sábado” 1989, Prêmio da Crítica.
Capítulo aparte são os frequentes diálogos de nosso autor com a imprensa nacional e internacional, em que resume sua nítida análise, precisa e cabal, da situação cultural e política, fundidas, da Revolução Cubana, mais viva que nunca nestes começos do século XXI.
*Winston Orrillo, professor peruano, colaborador de Diálogos del Sur