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ToggleDe modo tão repentino como surpreendente, o prefeito de Moscou, Serguei Sobyanin – que se havia distinguido por ser partidário de uma lenta e paulatina anulação das medidas para conter a expansão do novo coronavírus – anunciou ontem que, a partir de hoje, estão terminados na capital da Rússia o regime de confinamento e as restrições de deslocamentos mediante passes eletrônicos.
Não se sabe o que fez Sobyanin mudar de opinião para felicitar os moscovitas pelo que chamou de vitória comum sobre a Covid-19, mesmo diante de um cenário no qual o número oficial de novos contágios continua registrando diariamente 2 mil novos casos.
Os críticos do prefeito moscovita sustentam que sua drástica virada deveu-se ao seu instinto de sobrevivência política diante do mal-estar que as restrições na capital estavam causando no Kremlin, depois que o presidente Vladimir Putin declarou que a situação epidemiológica estava melhorando e que não havia melhor data que o 1º de julho para a votação popular da proposta de mudança da Constituição da Rússia que, em princípio, permite que ele se reeleja até 2036.
Telesur
Não são poucos os que creem aqui que é prematuro levantar de uma vez as medidas.
Motivações políticas
Não em vão, agregam como argumento adicional, que Sobyanin anunciou que o levantamento das medidas porá fim as restrições um dia antes do grande desfile militar, em 24 de junho próximo, com que Putin quer comemorar o 75º aniversário da Vitória sobre a Alemanha nazista, adiado desde 9 de maio.
Seja como for, a partir de hoje qualquer pessoa, incluídos os maiores de 65 anos e aqueles que continuam sendo considerados como mais vulneráveis por padecer de alguma doença, poderá sair à hora que quiser e ir onde tiver vontade, inclusive aos parques, sem ter que tramitar a licença especial para poder usar o transporte púbico ou seu veículo particular.
Também abrem suas portas os salões de beleza, estúdios de fotografia, clínicas veterinárias e agências de emprego. É possível alugar um carro sem limitações e podem voltar ao trabalho os estúdios cinematográficos e de gravação musical, as organizações sociais e os institutos de pesquisa. Enquanto isso, os teatros, as companhias de concertos e de circo estão autorizados a iniciar seus ensaios; e até é permitido visitar qualquer cemitério.
Dentro de uma semana, a partir de 16 de junho retornarão às atividades as clínicas odontológicas, as bibliotecas, as imobiliárias, as agências de publicidade, as consultorias e, em geral, todo o setor de serviços à população e às empresas. Estarão abertos os terraços ao ar livre de restaurantes e café. Com boletos eletrônicos será possível ir aos museus, salas de exposição e zoológicos. Também se permitirá o comparecimento aos eventos esportivos, mas no começo com não mais de 10% da lotação.
Por último, a partir de 23 de junho, já se poderá reservar mesa em restaurantes, cafés e bares em locais fechados, assim como frequentar academias, piscinas, salas de massagem, saunas. Os menores poderão regressar às creches e usar as balanças e os escorregadores que há em cada praça e jardim.
Ao dar a conhecer o levantamento do regime de medidas que imperava em Moscou – cuja primeira fase teve lugar em 12 de maio com a volta à atividade da indústria e da construção, seguida da autorização de realizar passeios três dias por semana desde 1º de junho, que devia estar vigente até 14 de junho – Sobyanin disse que a pandemia está cedendo e decidiu tirar todas as restrições antes do fim do presente mês, embora seja preciso estar atento para reagir se acontecer um rebrote.
Não são poucos os que creem aqui que é prematuro levantar de uma vez as medidas e, para dar um exemplo, o diretor do Ejo Moskvy, Aleksei Venediktov, afirmou que os jornalistas dessa emissora continuarão trabalhando de casa pelo menos todo o mês de junho e não haverá ainda convidados presenciais.
Juan Pablo Duch, correspondente de La Jornada em Moscou
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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