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Oclae 2013: A educação não é mercadoria

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

oclae-2013-04-26-59463
Reunião do secretariado da Oclae em Manágua

Isabel Soto Mayedo*

A reunião do secretariado geral da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), de 22 a 27 de abril em Managua, demonstrou que a essência antimperialista, integradora e solidária dessa plataforma permanece inalterável.

Quase meio século depois de sua fundação, em 11 de agosto de 1966, em La Habana, Cuba, os delegados de 20 agrupamentos de 13  países que assistiram a reunião patentearam que esse bloco juvenil está consciente do papel que lhe corresponde desempenhar no que qualificaram de “nova hora americana”.

Durante a jornada final de trabalho em Managua os membros do secretariado geral da Oclae aprovaram um chamamento pela paz e a democracia, contra o militarismo e o intervencionismo imperialista e instaram a dar combate a este em qualquer lugar do mundo.

Outas declarações reafirmaram o apoio a Venezuela bolivariana e a Cuba em sua luta contra o bloqueio econômico, político e comercial impostos pelos Estados Unidos há 54 anos, assim como pela libertação dos cinco antiterroristas cubanos  (Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, René y Fernando González) condenados a penas de 15 anos nesse país por monitorar as ações contra seu povo.

Os dirigentes estudantis também reiteraram o apoio a luta da Argentina pela recuperação das ilhas Malvinas das mãos britânicas e seu compromisso com o povo de Puerto Rico em sua luta de mais de um século para obter sua independência e sair do colonialismo, camuflado sob o status de estado livre associado dos Estados Unidos.

Entre os documentos finais incluíram uma acarta aberto do movimento estudantil à Mesa de Diálogo pela Paz em Colômbia e uma resolução pela solidariedade e libertação dos presos políticos colombianos.

Os delegados concordaram com a dirigente estudantil da Universidade Nacional de Colômbia, Mariana Ríos, que defendeu que o problema da paz compete a todo o continente uma vez que se relaciona com o processo de integração na região.

A jovem destacou o pronunciamento da Oclae nesse sentido “pois pode gerar um apoio aos diálogos de paz em meio da situação de conflito em que vivemos … que afeta a todas as esferas  população e isso reclama um papel central para os jovens”.

Isso explica o esforço por privilegiar, no interior da organização, o debate sobre a paz e o apoio, não só aos diálogos, mas também pela libertação dos 7.500 presos políticos na Colômbia, entre eles vários estudantes.

Outras questões analisadas em Managua, que geraram resoluções deapoio, foram a reivindicação histórica de saída ao mar para Bolívia e a luta contra o imperialismo dos povos sarhauí  e palestino.

Dois pronunciamentos aludiram à necessária solidariedade com América Central ameaçada pelo crime organizado e outros problemas sociais, e a realização do XVIII Festival Mundial da Juventude e Estudantes no Equador a realizar-se em dezembro. Este um evento com marcado caráter antimperialista e uma potencial tribuna para que os latino-americanos defendamos nossos princípios e mostremos ao mundo nossos principais combates, disse o presidente da Oclae, Ricardo Guardia.

Um dos secretários executivos da organização, Daniel Carbo, considerou oportuna a designação de Equador como sede num contexto transformador impulsionado pelo governo de Rafael Correa.

O representante da Federação de Estudantes Universitários do Equador expressou sua convicção de que o socialismo é a única solução para os problemas que vive hoje o mundo, sobretudo em uma América Latina empenhada em avançar em direção a novos rumos.

Carbo se referiu a crise cíclica que vive o sistema capitalista em meio à crise geral e destacou a vantagem de contar com uma opção mais efetiva para varrer com as dificuldades dos povos, o que  será evidenciado na festa juvenil em Quito.

Os dirigentes da Oclae, com presença em 26 países através de 36 organizações que aglutinam a mais de 100 milhões de estudantes, também destacaram as mudanças políticas que ocorrem nesta zona geográfica. Um desses pronunciamentos valorizou a presidência pro tempore de Cuba na Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e a designação de Venezuela para ocupar a do Marcado Comum do Sul (Mercosul), no segundo semestre de 2013.

Ambos os fatos são expressão das mudanças que estão a ocorrer neste continente e do avanço do processo integrador, segundo Guardia, dirigente da Oclae pela Federação Estudantil Universitária de Cuba.

Sobre a base dessa conjuntura o secretariado geral acordou executar a jornada continental Educação não é Mercadoria, Direito Humano e Libertação com vistas a provocar debates e propostas tendentes a criar um sistema de educação integrado de âmbito regional.

Reunidos em Manágua concordaram com que a elaboração desse plano de luta para reverter a mercantilização da educação, uma das problemáticas legadas pelo neoliberalismo, é um dos aspectos mais destacados do acordado na reunião.

Outro integrante do executivo, Mateus Fiorentini, ratificou que a perspectiva é gerar ações nos vários países e articular uma proposta que possa ser apresentada aos chefes de Estado e de Governo da Celac em sua reunião de fevereiro de 2014, em La Habana.

Paralelamente deverão prosseguir os protestos nas ruas e os debates nos espaços acadêmicos em coordenação com outros setores sociais, porque “nesses 46 anos de Oclae aprendemos que há que lutar por ela” afirmou. Fiorentini manifestou sua confiança em que esta jornada de protesto consiga assemelhar-se as protagonizadas pelos estudantes no Chile, Colômbia e em outros países nos últimos anos.

Surgida nos anos 1960 a Oclae estava focada contra as ditaduras militares e hoje somos um movimento estudantil protagônico das mudanças que estão ocorrendo nesses países, considerou. Acrescentou que este espaço deve englobar a estudantes, docentes, trabalhadores, sociedade civil, movimentos sociais, governos e ter como princípio a defesa da educação pública gratuita e de qualidade com um compromisso social como bem público e direito universal.

O projeto de articular e integrar todos os sistema nacionais derivou do Primeiro Encontro de Responsáveis de Educação Superior de América Latina e Caribe, realizado nos dias 12 e 13 de abril, também na Nicarágua. Estabelecer um marco institucional para este processo é importante para gerar um conhecimento genuinamente latino-americano e converter esta região em uma zona independente e soberana do ponto de vista científico e tecnológico, asseverou Fiorentini.

A Oclae de 2013 é herdeira dos sonhos de luta dos reformistas de Córdoba (Argentina, 1918) que reclamavam por uma universidade pública autônoma, onde os estudantes formam parte real de sua direção, entre outros elementos, recordou Guardia. “Hoje não só falamos de universidades autônomas ou co-governadas pelos estudantes como também advogados por ter uma educação que seja transformadora, libertadora” disse.

Os universitários latino-americanos e caribenhos têm agora “concepções um pouco mais profundas com relação ao papel da educação de nossos centros estudantis, da formação no processo de ensino e no que corresponde a esta com relação a sociedade”

Estas e outras questões serão debatidas em meados do próximo ano no XII Congresso Latino-americana e Caribenho de Estudantes, que descortinará o caminho para o encontro de 2016, quando a  Oclae completará meio século de fundada.

Fortalecer a institucionalização, o trabalho com os estudantes de secundário e com os de pós graduação, e a integração com os demais movimentos sociais, são outros dos desafios assumidos “para consolidar essa América Latina mais independente, soberana e unida”.

“As dores que permanecem são as liberdades que nos faltam, acreditamos não nos equivocar, as ressonâncias do coração nos advertem: estamos pisando sobre uma revoluçãoo, estamos vivendo uma hora americana”, afirma a declaração final do encontro de Manágua, prévio ao de setembro na Colômbia.

*correspondente de Prensa Latina em Manágua, Nicarágua, especial para Diálogos do Sul.

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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