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Ofensiva conservadora contra fortalecimento do Estado no Peru

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

peru-repsolManuel Robles Sosa*

A possibilidade de que o Estado peruano assuma a operação local da transnacional petroleira Repsol e uma norma que regula a pesca industrial, constituem hoje o foco de uma furibunda campanha política e midiática conservadora.

A ofensiva de inusitada virulência e que acusa ao governo de supostas tentações de retornar a suas fontes marcadamente nacionalistas, coincide com os interesses empresariais que se sentem afetados ou ameaçados por um maior cumprimento do rol regulador do Estado

O primeiro ministro Juan Jiménez disse que o governo estuda a conveniência de participar, eventualmente associado a empresas privadas, na compra parcial da refinaria de La Pampilla, perto de Lima, uma rede de postos de gasolina e uma engarrafadora de gás domiciliar que a Repsol tem no Peru

O presidente da transnacional, Antonio Brufau, ofereceu esta semana ao presidente Ollanta Humala a venda de sua participação nesse negócio, que ascende a 51,3%, contato inicial que desatou as iras aparentemente ideológicas contra o suposto retorno ao estatismo.

A campanha coincidiu com um pronunciamento da Associação de Grifos (postos de gasolina) que reúne os proprietários de umas res mil 500 postos, contra a possível transação que permitiria ao estado regular os preços, o que “freará o desenvolvimento” do mercado.

Os ex ministros peruanos de Energia e Minas, Carlos Herrera e da Produção, Kur Burneo, consideraram que, pelo contrário, seria saudável que a empresa estatal Petroperu adquirisse a rede relativamente pequena, de uns 300 postos da Repsol.

Indicaram que isto daria ao Estado presença no mercado, introduzindo um elemento de concorrência que não existe e permite práticas monopolísticas e excessivas margens de lucro aos proprietários privados.

Apesar disso a ideia tem sido rechaçada pelo privatista ex presidente Alan García e a ex dirigente social-cristã Loudes Flores, que ameaçam com denunciar por inconstitucional a compra caso se realize.

Essa ofensiva é apoiada pela maioria dos meios de comunicação, de linha neoliberal, e o especialista Jorge Manco observou que os donos de órgãos de imprensa que por sua vez são donos de redes de postos de gasolina.

O especialista Manuel Dammert asseverou que por traz da campanha contra a possível compra está também o interesse do grupo empresarial Romero que, associado à estatal chilena Enap, pretende comprar o negócio da Repsol.

Essa sociedade possui a rede de postos Primax que ocupa já 39% do mercado peruano e, segundo Dammert, se adquirir a rede de Repsol avançará o monopólio e acentuará a falta de concorrência.

Paralelamente o tema tem gerado uma discussão sobre o preço da compra e o investimento de um bilhão de dólares necessário para modernizar La Pampilla a fim de reduzir seu conteúdo de enxofre em obediência de uma norma legal que entrará em vigência em 2015.

Com relação à pesca, a ministra da Produção, Gladys Triveño, enfrenta uma campanha empresarial, politica e midiática, por ter decretado que a pesca industrial de anchova para a produção de farinha e óleo de pescado, só pode se realizar a partir de dez milhas da costa.

O objetivo, apoiado plenamente pelo presidente Humala, é proteger as espécies que se desenvolvem a menos de dez milhas e promover a pesca para consumo humano, a fim de baixar os preços dos pescado e utilizá-lo massivamente para combater a fome e a desnutrição.

Nos dois temas abordados, a campanha utiliza o suposto fantasma do retorno de Humala a seu programa eleitoral da Grande Transformação e o abandono da chamada Folha de Rota, que ajustou o primeiro turno eleitoral para o segundo em 2011.

O ministro peruano de Transporte, Carlos Paredes, e outros funcionários, asseguram que não há tal retorno às fontes e o parlamentar Fredy Otárola assinalou que o governo sempre disse que a Folha de Rota é parte da Grande Transformação.

*correspondente de Prensa Latina em Lima, Peru, especial para Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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