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Omar Torrijos, Patriota da América, Presente!

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Alejandro Pandra*

Omar TorrijosEm 31 de julho de 1981 o patriota panamenho general Omar Torrijos Herrera morreu num suspeito acidente aéreo. Versões não confirmadas asseguraram que os instrumentos da nave sofreram interferência desde a terra.

No Istmo do Panamá se desenvolveu a civilização Chiibcha, uma das grandes cultura pré-colombianas. Em 1513 Vasco Nuñez de Balboa entrou no  mar da costa ocidental com água até a cintura, desembainhou a espada e tomou posse solene do Oceano Pacífico em nome da Cruz e do rei da Espanha.

A proximidade nessa região dos dois oceanos, Atlântico e Pacífico marcou o destino do istmo, transformando-o em uma zona de grande importância geopolítica. Panamá se converteu em um centro comercial de enorme importância para o sistema monopólico espanhol. Os barcos que partiam da Espanha ancoravam em Portobelo, no Mar Caribe, e a carga cruzava o istmo em lombo de mulas até Panamá. Dai as mercadorias eram distribuídas para toda a América hispânica do Pacífico, desde San Francisco a Chile, passando por Lima.

A concentração de riquezas atraiu piratas e corsários ingleses, como Francis Drake e Henry Morgan, que assolaram e saquearam as cidades. Panamá dependia do vice-reino do Peru, até que em 1717 as reformas dos Burbom o integraram ao novo vice-reino de Nova Granada. Formou parte da Grã Colômbia até sua independência da Espanha em 1821.

Por sua condição de centro das rotas comerciais e de comunicação que vinculavam toda a América, Panamá foi eleita por Simón Bolívar como sede do Congresso Anfictiônico, que pretendeu selar a unidade do continente depois da independência. A reunião, realizada em 1826, não teve porém o alcance com que sonhava o libertador Bolívar que imaginava o Panamá como Constantino a Bizâncio, uma espécie de capital ecumênica.

A decadência econômica em fins do século XVIII e o desvio das rotas comerciais explica por que Panamá não prolongou com eficácia sua função geopolítica depois de romper com a Espanha e, por que não constituiu uma nação independente ao se desmembrar da Grã Colômbia em 1830. Em 1855 foi criado o Estado de Panamá, federado à Nova Granada (atual Colômbia).

Em 1880 tiveram início as obras do canal – que com eclusas deveria resolver o desnível existente entre os dois oceanos – a cargo da Cia Universal (francesa) do Canal do Panamá. Em 1891 explode o grande escândalo com revelações de manobras dolosas realizadas pela empresa que culmina com sua quebra. Três anos depois se constituiu a Nova Cia do Canal de Panamá para completar as obras do projeto.

Em meados de 1902 os Estados Unidos compraram os direitos da companhia francesa e alguns meses depois assinaram com um funcionário um tratado pra a construção e administração do canal. E assim obtiveram concessão a perpetuidade sobre uma faixa de território de 9,5 quilômetros de largura cruzando o istmo, e passaram a controlar as obras.

O Senado colombiano unanimemente  rechaçou o tratado por considera-lo lesivo ao decoro e à soberania. Uma revolução (ó, que casualidade) resolveu oportunamente o problema a favor dos Estados Unidos.

Os revolucionários declararam o Panamá independente em novembro de 1903 e os Estados Unidos que lá tinham desembarcado seus fuzileiros navais reconheceram após três dias. Eram tempos do presidente Theodore Roosevelt e sua política do big stick – o grande porrete.

Um novo tratado  outorgou autoridade plena e perpétua aos Estados Unidos à faixa territorial e as águas adjacentes nos extremos. Philippe Buneau Varilla, um ex acionista da empresa do canal, cidadão francês, assinou como representante oficial do Panamá, cobrou seus honorários em Washington e nunca mais voltou ao país.

O Canal, com 82 quilômetros de comprimento e 16 de largura foi inaugurado oficialmente em 1914. A chamada “Zona do Canal” proporcionou aos Estados Unidos ganhos incalculáveis, mais que pelos pedágios, pela economia em tempo e distância para o tráfico de mercadorias entre suas duas costas, este e oeste.

As bases militares estadunidenses no Panamá foram ferramentas estratégicas de controle sobre América Latina, no marco da guerra fria, e também serviram de centro de instrução e doutrinamento da Doutrina de Segurança Nacional para as forças armadas e policiais de todo o continente.

O centro financeiro em que se transformou o Istmo serve de plataforma para a expansão das empresas transnacionais e lavagem de dinheiro.

Em 1964 21 estudantes morreram quando tentavam içar a bandeira panamenha na Zona do Canal,  sob jurisdição exclusiva dos Estados Unidos. O sacrifício dos jovens os transformou em símbolos nacionais.

Porém, a aspiração panamenha pela plena soberania sobre o canal só foi assumida plenamente pelo governo revolucionário do general Omar Torrijos. Nascido em 13 de fevereiro de 1928, em outubro de 1968, como tenente coronel, encabeçou o golpe que derrubou Arnulfo Arias Madrid e iniciaria uma verdadeira revolução de libertação nacional.

Com uma nova Constituição que o proclamou “líder máximo da Revolução” e lhe outorgou poderes extraordinários, implantou um governo popular e nacionalista de caráter desenvolvimentista y proclamou que o objetivo máximo era a recuperação da soberania.

Torrijos assumiu a presidência e se manteve como comandante da Guarda Nacional, a única força armada do país, com funções de exército e polícia. Em 1978 abandonou a presidência mas manteve o controle da Guarda Nacional e do poder até sua morte.

Em 1973 conseguiu que as Nações Unidas aprovasse resolução favorável a sua bandeira de recuperação da soberania e em 1977-1978 assinou os famosos tratados Torrijos-Carter com os Estados Unidos com programa de devolução plena da soberania até dezembro de 1999.

Sua imensa capacidade de hábil negociador fez com que García Márquez o chamasse de hibrido de tigre com mula: astuto como um tigre e teimoso como uma mula.  A luta pela soberania uniu os panamenhos e consolidou um sentimento nacional desvirtuado por décadas de penetração cultural, controle econômica e intervencionismo militar dos Estados Unidos.

Paralelamente, o governo de Torrijos iniciou processo transformador em busca de uma ordem social mais equitativa, com uma reforma agrária, outra na educação, a exploração do cobre com critério nacional e, a guerra da banana, por preços justos contra as transnacionais da fruta, como a tristemente célebre United Frui Co, um verdadeiro império dentro do Império.

As transformações que seguiram ao “acidente” que matou Torrijos correspondem ao empenho dos Estados Unidos em contar com um governo submisso no Panamá para compensar a perda do canal. Sem advertências nem declaração prévia de guerra, em 20 de dezembro de 1989, lançaram um ataque generalizado para prender o “homem forte” , o general Manuel Noriega. Guillermo Endara foi ungido como presidente na base estadunidense de Fort Clayton, no início da invasão.

Invasão injustificada deixou entre 3 mil e 5 mil civis mortos
Invasão injustificada deixou entre 3 mil e 5 mil civis mortos

Com a mobilização de 26 mil soldados, esta agressão constituiu, nessa ocasião, a maior operação militar estadunidense desde a guerra do Vietnam. Os bombardeios indiscriminados arrasaram com bairros populosos da cidade e provocaram a morte de numerosos civis. A resistência panamenha, superior a esperada, prolongo a atividade e permanência dos invasores.

Noriega, asilado na Nunciatura Apostólica, foi finalmente extraditado e transladado para os Estados Unidos.

O novo governo aceitou a presença de supervisores estadunidenses nos ministérios bem como a ação de tropas do Comando Sul fora da zona do canal, supostamente para combater o narcotráfico e a guerrilha colombiana na fronteira.

Não obstante e pese a tudo isso, desde o meio-dia de 31 de dezembro de 1999 o canal está administrado pelo estado panamenho e sua bandeira flamba soberana.

*NAC&POP http://www.nacionalypopular.com


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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