Em 1º de novembro, a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou uma nova resolução de condenação universal do bloqueio estadunidense imposto a Cuba desde 1961.
Desta vez, 189 países expressaram sua solidariedade com a ilha caribenha, enquanto apenas dois — os Estados Unidos e Israel — votaram a favor da manutenção da medida adotada pela Casa Branca para subjugar esse país. É bom, neste contexto, dar uma breve olhada no passado:
Domínio Cuba
Miguel Días-Canel discursa na ONU. Foto: Domínio Cuba
Em 1854, os ministros dos Estados Unidos ante a Espanha, reunidos na Bélgica, apresentaram a ideia de respeito às relações de seu país com Cuba: “A União não poderá desfrutar de descanso nem gozar de segurança confiável, desde que Cuba não seja incluída em seu país”. (fronteiras)
No ano seguinte, o senador John Crittenden, do Kentucky, disse: “Cuba nos pertence geograficamente. Deve ser nossa em breve”.
A ideia era tão obsessiva que até o poeta Walt Whitman disse: “o destino manifesto certamente aponta para a rápida anexação de Cuba pelos Estados Unidos”.
Anos mais tarde, em 1898, o ministro dos Estados Unidos da América Stewart Woodford assegurou: “a independência de Cuba é absolutamente impossível como solução permanente”; enquanto William Sulzer, representante de Nova York perante o Congresso dos EUA, argumentou: “Cuba está em nossas próprias portas e é uma parte natural de nosso domínio geográfico”.
Talvez essas referências ajudem a entender que não é apenas por causa do socialismo que os Estados Unidos perseguem Cuba. Os EUA fazem isso há mais de 200 anos por uma razão muito simples: não a tolera como um país independente e soberano. E sua aspiração mais animada é anexá-la, como fez com Porto Rico.
Isso explica porque muitos países que nada têm a ver com o socialismo votam contra o bloqueio de Cuba como forma de dizer não à voracidade do Império. É que nenhum Estado independente e soberano pode admitir hoje que uma grande potência procure anexar um pequeno país ao seu território. Ninguém quer, no nosso tempo, que o tubarão coma as sardinhas.
E há alguns que, nos EUA, não admitem fronteiras, exceto as deles. Eles tentam apenas embolsar recursos: ouro, prata, cobre, ferro, óleo; e também outros produtos, como carne, trigo, milho, água, gás; e tudo o que o nosso continente tem.
Mais, isso justifica guerras de “conquista” como na Idade Média. Isso explica o que está acontecendo no mundo hoje.
Recentemente, soube-se que a administração Trump proibiu o Peru de comprar armas da Rússia. Além disso, Trump ameaçou punir pessoalmente ministros de Estado e líderes militares que autorizassem tais compras, ou assinassem acordos que as permitissem.
Mas o assunto passou praticamente despercebido: não é uma questão de independência e soberania? Não estamos na véspera de completar 200 anos na condição de Estado Soberano? Não é só Cuba. Também somos nós.
* Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru
Tradução, revisão e edição: João Baptista Pimentel Neto