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ONU pede moderação para a polícia turca

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Roger Hamilton-Martin

Manifestação em defesa do parque Gezi em Istambul, na Turquia
Manifestação em defesa do parque Gezi em Istambul, na Turquia

O secretario geral da ONU, Ban Ki-moon, e a alta comissária para os Direitos Humanos, Navi Pillay, aconselharam “máxima moderação” à polícia turca diante das informações na mídia sobre a violenta ofensiva policial contra manifestantes pacíficos no parque Gezi de Esstambul.

“A atmosfera ainda é … altamente inflamável, é importante que as autoridades reconheçam que a resposta inicial aos protestos, extremamente severa que causou grande quantidade de feridos, ainda é uma parte importante do problema” asseverou Pillay num comunicado emitido no dia 18 de junho.

Ao mesmo tempo, a Associação Médica Turca informou que desde a ocupação do parque em fins de maio até essa data foram atendidos 7.500 feridos e contabilizados seis morto.

Pillay instou o governo turco a adotar “todas as medidas necessárias para garantir que as forças policiais não recorram ao uso excessivo da força. O objetivo deveria ser minimizar os danos e prejuízos e respeitar e preservar a vida humana”.

Os protestos começaram como uma queixa pacífica pelo uso da área do parque Gezi – uma ilha verde em um mar de concreto da praça Taksim-, porém rapidamente se expandiu até converter-se em um levantamento contra o governo em muitas cidades da Turquia.

Uma entre os 50 manifestantes do parque Gezi, que pediu para ser identificada só pelo nome, Bengi, disse ao repórter: “Tomei parte no protesto desde seu início. Não me surpreende a violência policial, posto que a Turquia tem uma tradição de violência, repressão e brutalidade policial”.

Ela reconheceu que as tentativas de aproximar-se na União Europeia nas últimas décadas conduziram a uma redução da aberta hostilidade estatal, “por isso faz sentido esta reação violenta parecer como algo estranho”.

Esperada ou não a violência foi extrema e chamou a atenção dos meios de comunicação e o olhar das principais organizações de direitos humanos do mundo: Anistia Internacional e Human Rights Watch condenaram severamente as ações das forças de segurança contra manifestantes pacíficos.

Bengi vê esta resposta violenta como resultado direto da “caprichosa maneira de tomar decisões do primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan. “O primeiro ministro mostrou uma falta de manejo efetivo (da situação) e simplemente quer demonstrar ao povo que o que ele diz será feito”.

Muitos tem questionado a administração pelo uso que fez da força policial desde que começaram os protestos, inclusive com utilização generalizada de bombas de gás contra a população.

Dois manifestantes morreram devido a essas bombas. Abdullah Comert, de 22 anos, integrante da juventude do Partido Republicano Popular, de oposição, morreu depois de receber uma dessas bombas na cabeça, em Hatay, perto da fronteira síria, no sul da Turquia, enquanto que o trabalhador da limpeza, Irfan Tuna, perdeu a vida depois de ser submetido a um poderoso gás lacrimogênio na praça Kiizilay de Ancara.

No comunicado do dia 18 a alta comissária da ONU chamou a atenção especificamente sobre a utilização dessas bombas pelas forças policiais. É necessário investigar efetivamente e de modo confiável e transparente os informes segundo os quais foram lançadas bombas de gás e gás de pimenta contra pessoas a curta distância  ou em espaços fechados, bem como o mal uso das balas de borracha.

A Associação Médica Turca indicou que muitos dos feridos apresentavam desordens respiratórias causados pelo gás lacrimogênio, e danos no sistema musculoesquelético (feridas em partes moles, cortes, queimaduras e fraturas), relacionados com a escassa distância em que foram lançada as bombas e os disparos com bala de borracha, enfatizou.  Também informou que foi lançada bomba de gás dentro de uma clínica em Ancara.

Kimber Heinz, coordenadora da campanha “Enfrentando o Gás Lacrimogênio”, liderada pela Liga de Resistência à Guerra, com sede nos Estados Unidos, disse que o gás convencional, o de pimenta e outras armas químicas tornou-se uma ferramenta popular entre os governos opressores para sufocar levantamentos democráticos. “Em 2011 começamos a ouvir muitos apelos de lugares como Egito sobre como a polícia estava utilizando gás para incomodar as pessoas e eliminar os movimentos de resistência popular”, asseverou, e acrescentou “muitas dessas bombas tinham etiqueta “feita nos Estados Unidos”.

“Agora, desde Istambul informam que as bombas fabricadas por NonLethal Technologies, com sede em Homer, Pennsylvania, e Defense Technologies, situada em Casper, Wyoming, foram encontradas no parque Gezi”, disse Heinz.

A campanha “Enfrentando o Gás Lacrimogênio” tem ajudado a promover um manifesto, redigido pelo advogado turco-estadunidense Kerem Gulay, que pede aos congressistas em Washington uma legislação que impeça a exportação desses produtos a países que reprimem violentamente manifestações pacíficas.

O manifesto menciona o fato de que umas 150 mil bombas foram utilizadas em toda a Turquia entre o 28 de maio e 16 de junho, e que no mesmo período, 12 mil pessoas receberam cuidados médicos por terem sido expostas a diversos gases tóxicos lacrimogênio.

O senador Patrick Leahy, um dos concressistas que recebeu a petição, não esteve disponível para formular declarações a imprensa. Contudo, Bengi não acredita que essa iniciativa tenha muita importância para a população neste momento. “Neste preciso momento, as pessoas tentam superar a comoção produzida pela exposição constante ao gás lacrimogênio. A ira está concentrada totalmente no governo turco”, disse.

*IPS da Nações Unidas para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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