Conteúdo da página
ToggleEm aberto desafio aos seus sócios europeus, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, cujo país exerce este semestre a presidência rotatória do Conselho da União Europeia (UE), realizou na última sexta-feira (5) uma “visita de trabalho” a Moscou para se encontrar com o presidente Vladimir Putin.
Orbán chamou a viagem na rede social X (ex-Twitter), assim que aterrissou na capital russa, de “missão de paz: segunda parte”, dias depois de viajar com o mesmo objetivo, também de surpresa, a Kiev.
Críticas dos Parceiros Europeus
Isso provocou uma avalanche de críticas dos seus parceiros na Europa, que afirmaram que Orbán não está autorizado a negociar em nome dos “vinte e sete” membros da UE.
Da rádio de seu país, Orbán respondeu momentos antes de embarcar para Moscou: “Não se pode fazer a paz desde uma cômoda poltrona em Bruxelas” e acrescentou: “Mesmo que a presidência pró-tempore não tenha mandato para negociar em nome da UE, não podemos ficar sentados esperando que a guerra termine milagrosamente. Seremos uma ferramenta importante para dar o primeiro passo para a paz. Disso se trata nossa missão de paz”.
Leia também | Em reunião com Putin, Xi reforça importância da Rússia para acordo de paz na Ucrânia
Putin Reconhece Orbán
No início do encontro a portas fechadas com o premier húngaro, Putin afirmou nas breves palavras iniciais transmitidas pela televisão russa: “Entendo que você chegou não só como nosso antigo parceiro, mas também como o presidente (pro tempore) do Conselho da União Europeia”, uma espécie de reconhecimento a Orbán, que decidiu viajar à Rússia contra a posição da UE, que acordou no mais alto nível não manter nenhum contato institucional com o titular do Kremlin.
“Espero que tenhamos a oportunidade de trocar opiniões sobre a relação bilateral nesta difícil situação. E, claro, falemos das perspectivas de desenvolvimento da maior crise europeia, refiro-me à Ucrânia”, expressou Putin.
Condições para cessar-fogo na Ucrânia
Orbán agradeceu ao mandatário russo pela recepção e explicou o motivo de sua visita ao sublinhar: “O número de países que podem falar com ambas as partes (do conflito entre Rússia e Ucrânia) está se reduzindo drasticamente, e logo a Hungria poderá se converter na única capaz de fazê-lo”.
O chefe de Estado russo disse ao visitante que a posição da Rússia para declarar um cessar-fogo e iniciar negociações – anunciada por Putin em meados de junho e que exige da Ucrânia a retirada de todas as suas tropas das quatro regiões anexadas e o compromisso de não ingressar na Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan), entre outras condições – é “amplamente conhecida”, mas que podem discutir “alguns detalhes”.
Leia também | Kremlin: Conferência de Zelensky mostrou à OTAN que, sem Rússia, sem acordo
Análises e missão de paz
Na realidade, os analistas não esperam nenhum novo avanço como resultado desta “missão de paz” do primeiro-ministro húngaro, uma vez que na quinta-feira (4), ao término da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, em Astana, Cazaquistão, Putin rejeitou de modo indireto a proposta levada a Kiev para que Ucrânia e Rússia declarassem um cessar-fogo simultâneo para iniciar negociações de paz.
Tudo indica que Orbán planejou sua repentina aparição em Moscou como uma escala para a cidade de Shusha, no Azerbaijão, para participar da cúpula informal da Organização de Estados Túrquicos (OTS, por sua sigla em inglês), que começou na sexta-feira (5) e terminou no sábado (6).