A máquina política nos pegou fora de forma, desatualizados e desprevenidos.
Convencidos de que as liberdades cidadãs estavam gravadas em pedra e eram inamovíveis, demos por sentado o gozo desse status ideal. Quase sem sentir, pouco a pouco foi vindo o desenvolvimento – sem pausas – de uma ideologia divorciada dos fundamentos da democracia, com os falsos ornamentos do bem-estar econômico e a reformulação dos entes políticos e econômicos para a concentração quase absoluta do poder, com tudo o que isso significa em perda de direitos.
Há que reconhecer que a estratégia é brilhante, tanto é assim, que aqueles partidos políticos de esquerda, tão poderosos em meados do século passado, foram paulatinamente se transformando em clubes sociais onde se joga o jogo da direita; embora não ao extremo de perder toda a identidade, mas o suficiente para não alterar o marco hegemônico do sistema neoliberal. Este sistema, que amarra com seus recursos os países dependentes, graças a organismos financeiros especialistas na arte da negociação arteira e condicionam inclusive suas políticas públicas, dirige os governos durante décadas a partir do anonimato corporativo.
O problema é a mudança solapada da polaridade. O povo já não manda em nossos países. De fato, os governantes de extrema-direita declararam guerra à cidadania e, com luxo de força e fazendo caso omisso de seus mandatos constitucionais, proíbem a população de manifestar seu descontentamento pelos atos de seus governantes. Para isso contam com a potência de seus exército e seus corpos policiais treinados a fundo e com equipamento bélico, enviados para apagar de uma vez e para sempre o fogo do protesto cidadão, deixando muito claro quais são as regras. Nessa contenda desigual, a juventude resulta duplamente sacrificado em prol de uma nova ordem de coisas, em que agir em consciência é um delito penado pela lei.
Reprodução
Hoje a consigna, a partir da cúpula do poder, é esmagar o povo.
Neste cenário de retrocessos, outras das liberdades sob a bota é a da imprensa. A maior parte dos meios de comunicação de massa, aqueles de caráter empresarial cujos interesses se encontram estreitamente vinculados aos poderes político e econômico, se calam diante dos abusos e se dobram diante das pressões do status quo ao qual pertencem. Esse silêncio obriga muitos jornalistas éticos a abandonar as grandes redações para conformar seus próprios espaços de comunicação alternativa, assumindo o risco de trabalhar sob pressão das ameaças, da perseguição e das tentativas de tirá-los de circulação por meios violentos. No nosso continente, a cifra de repórteres assassinados por seu trabalho é de terror.
Hoje, a consigna da cúpula de poder é manter o povo silenciado, impedindo qualquer forma de exercício cidadão e blindar os centros de poder com a cumplicidade de seus aliados na imprensa, nas instituições religiosas e nas organizações empresariais. Ao mesmo tempo, se alinham os canais oficiais para limitar o acesso às fontes de informação. Desse modo, fecham espaços com o propósito de conservar um âmbito hermético onde qualquer ato de corrupção goze de impunidade garantida e seja fácil cooptar os entes institucionais. O panorama nos demonstra que nossos países nunca serão livres enquanto suas instituições políticas – os partidos, verdadeira cozinha de democracia – sejam o laboratório onde se cometem os piores atos de corrupção, discriminação e abuso, com o único fim de impedir a participação do povo nos assuntos de sua competência.
Hoje a consigna, a partir da cúpula do poder, é esmagar o povo.
*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
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