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Os candidatos dos Estados Unidos e suas alianças na América Latina

Redação Diálogos do Sul

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Ninguém deve duvidar: existem grandes coincidências entre o Partido Democrata e Republicano que se materializam no vínculo entre estes e as diversas organizações internacionais e latino-americanas

Por Silvina M. Romano, do Celag
O Partido Republicano é membro da União de Partidos Latino-Americanos (UPLA), criada em 1992, integrada entre outros, pelo Partido Conservador da Colômbia, partido Proposta Republicana (PRO) da Argentina, o Movimento Social Democrata da Bolívia, o Partido Conservador da Nicarágua, etc. Por sua vez, este grupo de partidos é parte da União Democrática Internacional (UDI), fundada em 1983 pela vanguarda do neoliberalismo, Margaret Thatcher, George H. W. Bush, etc[1]. Atualmente presidida pelo ex-presidente colombiano Andrés Pastrana e que, entre outras personalidades, conta como vice-presidente para Europa com a figura de Mariano Rajoy. Estes nomes dão um panorama mais que completo sobre o perfil político ideológico desta organização[2].
Os autoproclamados partidos de “centro e humanistas” (que se diferenciam dos conservadores) compõem a Organização Democrata Cristã para América Latina (ODCA), cujos membros também formam parte da UDI (apagando assim a frágil fronteira entre “centro” e “direita conservadora”). Uma das reuniões da OCDA em 2016 foi sobre as “novas tendências políticas na América Latina”. Foi defendido de modo aberto como derrotar os populistas e sua herança.  Entre os expositores havia representantes do PRO da Argentina, do partido Movimento da Social Democracia da Bolívia, da Mesa da Unidade Democrática da Venezuela, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)[3].
É curioso, porque o vínculo ODCA-IDU-UPLA nos levaria a afirmar que é o Partido Republicano o que tem maior presença na região. No entanto, se considerarmos os presentes na reunião da ODCA, é preciso destacar que a Mesa da União Democrática tem vínculos (ainda que não necessariamente visíveis) com o governo democrata (que vem apoiando de modo aberto e encoberto as ações da oposição da Venezuela), além de que o PRO, além de ser membro associado da UDI, apoiará a campanha de Hillary Clinton. Da mesma forma, personagens chave do PSDB, como Aloysio Nunes, em pleno golpe a Dilma Rousseff, se vincularam com lobistas de Clinton nos Estados Unidos[4].

Dos partidos às fundações

Os políticos também estendem seus vínculos através de sua relação com fundações. O mencionado evento da ODCA contou com o apoio de Konrad Adenauer e seu “programa políticos e democracia na América Latina”. Além da Konrad, encontramos a FAES (Fundação para análise e Estudos Sociais) liderada pelo espanhol José Maria Aznar, como outra das fundações associadas. Um dado relevante é que ambas as fundações destinaram recursos e tempo para promover uma imagem absolutamente negativa de Evo Morales na Bolívia (onde a Konrad tem enorme protagonismo) e do governo da Venezuela, na Espanha.
Outro dado com respeito às fundações vinculadas aos partidos políticos é a presença na América Latina da National Endowment for Democracy (NED), que desde 1983 e no marco da guerra na América Central (contra o sandinismo e a “subversão” destina fundos ao Instituto Nacional Democrático (NDI), ao Instituto Internacional Republicano (IRI), ao Centro Para Empresa Privada Internacional (CIPE) e o Centro Americano para Solidariedade dos Trabalhadores[5]. Há provas de que estas instituições participaram de atividades encobertas e têm ingerência em países da América Latina[6]. Segundo informe, a NED gasta 30 milhões de dólares por ano para apoiar partidos políticos, sindicatos, movimentos dissidentes e meios informativos, associados aos processos de desestabilização de governos não alinhados à política exterior dos Estados Unidos[7].
A presença da NED na Bolívia é especialmente notável por meio do financiamento da Fundação Nova Democracia que é o núcleo de diversos setores da oposição ao governo de turno[8]. A NED desembolsou mais de 7,7 milhões entre 2003 e 2014 para financiar organismos com objetivos políticos[9] opostos ao governo de Morales.
A NED junto com a USAID na Venezuela tem financiado partidos políticos como Primeiro Justiça, Vontade Popular e inclusive a Mesa da Unidade Democrática; também tem financiado ONGs como Forma. Entre 2013 e 2014 ambos os organismos destinaram a instituições venezuelanos um montante aproximado de 14 milhões de dólares[10].
Com relação aos republicanos, o Instituto Internacional Republicano desenvolve estratégias similares à NED. Dois dos targets foram a derrubada do governo haitiano de Aristide. Em 2001, o governo estadunidense, em um cenário de aversão ao giro dado pela administração chavista, aumentou exponencialmente os recursos para atividades do IRI na Venezuela, que passou de 50 mil dólares a 300 mil, foi o maior recurso a agências vinculadas à NED neste ano[11].

Das fundações às relações empresariais

O vínculo é também claro nas relações pessoais de político a político e de político a empresário. É o que demonstra a trajetória de Bill Clinton e sua proximidade tanto a Uribe como a Juan Manuel Santos[12]. Clinton é o ex-presidente democrata que lançou o Plano Colômbia, tornando oficial a guerra contra as drogas na América Latina e que parece seguir tendo uma importante influência nas altas esferas da política colombiana. Por sua vez, é uma figura que mantém estreitos vínculos com grandes empresários latino-americanos como Carlos Slim e outros milionários com os quais celebra reuniões familiares e diferentes eventos[13].
Este vínculo também é aceito por meio da fundação da família Clinton, que aproximou Hillary do mundo empresarial latino-americano. Na Colômbia, a Fundação Clinton tem um papel protagonista, ainda que nos últimos anos tenham se tornado públicas as críticas: os trabalhadores e ativistas progressistas garantem que os programas da Fundação causaram prejuízos ambientais, deslocaram a população indígena e concentrou uma boa porção das reservas de gás e petróleo nas mãos de Giustra[14]. Na Argentina, empresários como Gerardo Werthein, Matías Garfunkel, Eduardo Eurnekian y José Luis Manzano aportaram dinheiro para a Fundação em plena campanha eleitoral[15]. Esteve vínculo gerou inclusive suspeitas pela entramada clientela gerada a partir da Fundação para apoiar a campanha de Hillary[16].
Com relação a Trump, são claras suas estreitas relações com empresários. O presidente da Associação de Câmaras Americanas de Comércio na América Latina diz seriamente que “o senhor Trump é uma pessoa que fez grande a sua fortuna. Além disso, ele reconhece que o livre comércio é o mais importante nos negócios”[17]. No Panamá há uma Trump Tower (2007) que alberga residências, um hotel e um cassino. No Rio de Janeiro, Trump inaugurou o hotel no qual se hospedaram os membros do comitê Olímpico e há a possibilidade de que construa cinco arranha-céus para escritórios. Segundo um dos empresários brasileiros associados à marca Trump, o hotel no Rio vai render ao empresário americano republicano 25 milhões de dólares por ano[18].
Está sendo construído um edifício em Punta del Este e os investidores argentinos do projeto no Uruguai planejam edificar uma torre de escritórios em Buenos Aires[19]. Um de seus sócios nesses empreendimentos é o empresário Fernando Yaryura, que foi convidado para a Convenção do Partido Republicano, onde declarou que a “América Latina não tem que ter medo de Trump. Ele pessoalmente conta com muitos investimentos na região. (…) Os Estados Unidos foram e seguirão sendo, em um eventual governo Trump, um país aberto aos latino-americanos[20].
O modelo de Trump para a região é cobrar os empresários que utilizem a “marca Trump”. Além de um pagamento inicial, sua empresa você reserva uma comissão entre 5 e 13% das vendas[21] e às vezes busque extensões de impostos e outros benefícios por parte do estado anfitrião ou o governo local. Deste modo, pode se esperar que sua política para região siga esta lógica, como especificam os especialistas em negócio: “como homem de negócios, Trump se vincula com políticos e empresários para reforçar seus negócios. Do mesmo modo, seguirá este modelo de busca de resultados na política exterior para a região”.
 
[1] http://partidoconservador.com/relaciones-internacionales/
[2] http://www.odca.org.mx/interior-noticia.php?cmd=loadNoticia&id=151
[3] http://www.kas.de/parteien-lateinamerika/es/publications/45155/
[4] http://www.celag.org/estados-unidos-y-el-perfil-bajo-sobre-brasil-por-silvina-m-romano/
[5] http://www.cfr.org/democratization/soft-power-democracy-promotion-us-ngos/p10164
[6] Allard, Guy y Golinger, Eva (2009) USAID, NED y CIA. La agresión permanente. Ministerio del poder Popular para la Comunicación y la Información, Caracas
[7] http://www.notimerica.com/sociedad/noticia-telesur-asegura-eeuu-financia-ongs-iberoamerica-desestabilizar-gobiernos-20160610182809.html
 
[8] http://www.cambio.bo/?q=node/12595
[9] http://www.lahaine.org/mundo.php/bolivia-el-no-nace-en
[10] https://actualidad.rt.com/opinion/eva_golinger/view/125973-mano-sucia-ned-venezuela
[11] http://www.motherjones.com/politics/2004/11/coup-connection
[12] http://confidencialcolombia.com/es/1/103/7090/el-verdadero-%E2%80%98alto-consejero-presidencial%E2%80%99-santos-uribe-colombia-clinton-consejero.htm
[13] Clinton, William (2008)  Doar. Como cada um de nós pode mudar o mundo. Río de Janeiro: Agir
[14] Frank Giustra es uno de los magnates canadienses de la minería  http://fusion.net/story/357169/hillary-clinton-foundation-victims-colombia/
 
[15] http://www.resumenlatinoamericano.org/2016/03/09/los-empresarios-argentinos-que-donaron-millones-de-dolares-para-apoyar-a-los-clinton/
[16] https://es.panampost.com/adriana-peralta/2016/08/24/hillary-clinton-aumenta-su-ventaja-a-12-puntos-sobre-donald-trump-segun-reuters/
[17] http://www.forbes.com.mx/empresarios-latinos-sin-preocupacion-por-posible-triunfo-de-trump/#gs.SeQp6io
[18] http://www.independent.co.uk/news/people/revealed-what-donald-trump-has-really-been-up-to-in-latin-america-a7234951.html
[19] http://www.perfil.com/elobservador/donald-trump-inversiones-en-america-latina.phtml
[20] http://www.lanacion.com.ar/1920501-america-latina-no-tiene-que-tenerle-miedo-a-donald-trump-dice-el-socio-argentino-del-magnate
[21] http://www.independent.co.uk/news/people/revealed-what-donald-trump-has-really-been-up-to-in-latin-america-a7234951.html


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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