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Os Estados Unidos não são um paraíso para as crianças

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Luis Beatón *

Crianças trabalhandoA administração do presidente Barack Obama encabeça um ataque histórico à educação pública, com centenas de escolas fechadas e centenas de milhares de professores despedidos nos últimos quatro anos. A informação poderia parecer exagerada mas diversas estatísticas demonstram que os Estados Unidos não são um paraíso para as crianças, vítimas, além disso, de altos níveis de pobreza para uma de cada sete delas.

Um recente relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que aborda os crescentes níveis de pobreza nos principais países capitalistas, coloca os estadunidenses na parte inferior da pirâmide, em relação a outras nações desenvolvidas.

O estudo da organização internacional afirma que, de acordo com o indicador global, Washington ocupa o 26° lugar dos 29, atrás da Grécia e justo acima de Lituânia, Letônia e Romênia.

No texto situa esse país em 27° lugar quando considera o indicador de educação, enquanto no que se refere ao bem estar material, as crianças estão situadas em 26° lugar, apesar desta nação possuir o produto interno bruto mais alto do mundo.

Segundo estatísticas, 36% das crianças estadunidenses vivem abaixo da linha oficial de pobreza, algo que se reflete mais nas minorias latina e negra. Por exemplo, a Finlândia tem menos de 5% de pobreza infantil, número que evidencia os problemas das crianças estadunidenses.

O relatório da UNICEF ressalta outro assunto. De acordo com a avaliação da educação nos países mais desenvolvidos, incluindo a porcentagem de crianças matriculadas na pré escola, os estadunidenses se incluem entre vários países cuja população infantil é inferior a 80% nesta categoria.

Alguns críticos afirmam que a promessa da Casa Branca de disponibilizar uma pré escola de qualidade para todas as crianças, fazendo alarde disso diante do  programa federal Head Star, é pura demagogia, segundo um artigo da publicação canadense Global Research.

O que enfrentam as crianças desse país não é algo exclusivo deles, pois estatísticas oficiais do Escritório do Censo informam que a sexta parte da população vive em condições de carências.

Alguns especialistas consideram que é ficção o “sonho ou paraíso americano”, pois é difícil para as crianças que crescem em famílias de baixa renda escapar da pobreza quando adultos.

Segundo um estudo de 2009 do Centro Nacional para Crianças em Situação de Pobreza, as crianças que nasceram de famílias na parte superior da pirámide de distribuição da renda têm maior probabilidade de estar nos estratos de renda mais altos que os adultos, enquanto os nascidos embaixo têm a maior probabilidade de serem mais pobres que os adultos. Outras estatísticas motram cruamente o problema. A brecha da pobreza entre os jovens e os adultos duplicou desde o ano 2000. A Pobreza Oficial das crianças corresponde agora a  21%, em comparação com os 9% dos estadunidenses adultos. As cifras em 2000 eram 16% e 10%, respectivamente.

Por outra parte, hoje é uma amarga realidade que as crianças estadunidenses constituem o setor mais vulnerável da sociedade e que cerca de 17 milhões padecem de  insegurança alimentar, segundo dados de “Feeding America” (uma organização que reune 200 Bancos de Alimentos e é a organização de caridade de distribuição de alimentos mais importante do país).

Um relatório do Instituto Pão para o Mundo, um movimento religioso contra a fome, verificou que a insegurança alimentar afetou em 2009 14,7% dos lares estadunidenses, sendo que os latinos sofriam mais estas penúrias, com 26,9%.

No território estadunidense, pelo menos 34,9% dos latinos menores de 18 anos (5,3 milhões) sofreram fome, cifra superior quando comparada com os 23,2% (17,2 milhões) de crianças na população do país.

O Instituto lembrou que esta situação repercute na saúde da poulação e, por exemplo, precisou, as crianças latinas sofrem de forma desproporcionada de obesidade, diabetes, asma e hipertensão.

Dados da Fundação Annie E. Casey asseguram que a crise atual eliminou muitos dos benefícios econômicos para as crianças nascidas no final da década de 1990, ao mesmo tempo em que considera preocupante a quantidade de crianças afetadas pelas execuções hipotecárias, que embargaram suas casas e prejudicam seu bem estar.

Um relatório deste grupo assegura que, em 2010, 11% das crianças tinha o pai ou a mãe sem emprego.

De outra perspectiva, as crianças latinas são a população que mais aumenta neste país e, ao mesmo tempo, engrossam sua porção mais pobre.

Entre os latinos, a população infantil (os menores de 17 anos) é a que mais cresce em comparação com outros grupos de idade e vínculo étnico: hoje são mais de 17 milhões, tendo aumentado 39% só na última década, segundo o Pew Hispanic Center

Uma de cada quatro crianças no país vive sem acesso seguro a comida nutritiva suficiente: “As crianças afro-americanas estão enfrentando a pior crise desde os tempos da escravidão e, em diversas áreas, as crianças latinas e descendentes dos indígenas nativos americanos encontram-se em situação similar”, assegura o centro de estudos.

As crianças latinas não sabem se comem hoje nem se vão comer amanhã: mais de um terço vive em condições de pobreza e de insegurança alimentar, diz o relatório The State of America´s Children.

A crise também golpeia sem piedade o futuro estadunidense. A manutenção dos programas de ajuda alimentar é ameaçada pelos cortes orçamentários ou por mudanças de programas, propostos pelos republicanos no Congresso, o que dificulta o funcionamento da rede de segurança social para a infância pobre.

Alguns afirmam que a sociedade estadunidense é uma sociedade que maltrata sua própria substituição, não garantindo a satisfação de suas necessidades básicas, algo que desmascara os argumentos usados para apregoar o lema do sonho americano.

Como uma amostra, o relatório The State of America´s Children, 2012, afirma que a crise econômica dos últimos cinco anos levou crianças e jovens latinos a cair mais e mais profundamente no abismo da pobreza, da fome, do desamparo e do desespero.

Crianças e jovens latinos continuam enfrentando múltiplos riscos desde que nascem e durante toda a vida, o que aumenta o perigo de enfrentar um caminho sem saída que os pode levar do berço ao cárcere, enfatiza o relatório.

* Prensa Latina de Havana para Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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