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Os pecados do socialismo latino-americano

Ilka Oliva Corado

Tradução:

Ilka Oliva Corado*

Ilka Oliva CoradoSentada para escrever este artigo, preparando uma chávena de canela. Regularmente faço os títulos depois de ter posto o ponto final no texto. Hoje, curiosamente, o primeiro que se me assomou foi o título e portanto o mantenho.Tem sua razão de ser. Imediatamente me veio à cabeça cenas do filme Los Malos Hábitos. A fita trata como tema centra a bulimia e a anorexia mas também põe em cheque a uma sociedade indolente e injusta. Fiquei ruminando durante uns segundos entre as cenas e o comportamento patriarcal de alguns presidentes de turno na América do Sul. Por injustos diante do tema equidade de gênero e repressão que se tornou um mal hábito que tem que ser extirpado de raiz.

carpani_america-latinaÉ claro que ainda defendo de capa-espada o socialismo na América do Sul embora me dói reconhecer que também ]e certo que há governantes que o estropeiam sempre que podem: Bachelet com a contínua repressão dos Carabineiros contra estudantes que protestam para ter acesso a educação gratuita; e que dizer os Mapuches que por todos os tempos vem levando pauladas. Claro que sim, tem ocorrido mudanças importantes nos governos de Bachelet: a última foi a Lei de União Civil que esperamos que logo permita o matrimônio igualitário. A lei do Aborto e a Lei de Inclusão Escolar, porém, esperamos que não fiquem só no anúncio dos projetos e se concretizem logo.

Por que permitir que os carabineiros reprimam violentamente as marchas pacíficas dos estudantes? Ao ponto de chegar a assassinatos? Por acaso não e um retrocesso que nos remete aos tempos da repressão militar? Por que permitir que o Estado continue a atacar os Mapuches em lugar de devolver-lhes suas terras? São coisas que me ficam dando voltas e não encontro razão de ser quando uma presidenta como ela, que foi afetada pela ditadura militar, permita essas formas de repressão, assim tão cruéis. Por que Chile tem uma prisão-hotel de luxo para os militares violadores dos direitos humanos nos tempos da ditadura?

E Dilma, a limpeza que fez nas favelas, deixando as pessoas sem teto nas vésperas da Copa do Mundo. Mas também há coisa boas sem governo, como ter reduzido a pobreza dos afro descendentes em 85%. Erguer a maior petroleira do país e salvá-la do ataque imperial dos fundos abutres. Ser parte do sonhado projeto dos BRICS. Brasil mudou para bem com Dilma e isso não se pode negar.

Mujica que enquanto foi presidente propôs esquecer e perdoar, dando um golpe frontal a todos os que buscavam justiça pelo sangue inocente derramado pelos militares nos tempos de ditadura, e que dois dias antes de deixar o cargo firmou um decreto para construir um monumento com armas de tupamaros e militares utilizadas durante o confronto interno entre 1963 e 1972. Coisa que não dá pra acreditar. Não de um homem que viveu em carne própria a afronta e a tortura militar. Uma falta de respeito a todo um povo humilhado que por anos realiza a Marcha do Silêncio.

Rafael Correa fez tanto por Equador que conseguiu revelar para o mundo a destruição  deixada pela Chevrom na Amazônia. Que conseguiu reduzir os índices de pobreza. Que gerou frentes de emprego. Mas terço e misógino diante do tema aborto. Necio ameaça com renunciar ao cargo caso se aprove a lei que despenaliza o aborto.

Evo Morales, que há pouco se declarou feminista e despatriacalizador, tampouco aprova uma lei de aborto que permita esse direito com o qual as mulheres nascemos. Embora Bolívia esteja mais adiante que Equador sobre este tema, por que sim, permitem um aborto em caso de violação. Equador nem sequer por tal tremendo abuso. O que exigidos é uma lei de aborto que permita a todas, pelo motivo que seja, com a idade que tenha, o estado civil que tenha poder abortar. É incompreensível e retrógrado, absolutamente patriarcal que presidentes que se dizem socialistas, ou progressistas, quando se trata de direitos de mulheres sejam iguais, misóginos e totalitários, que os da direita. Com isto não nego a tremenda contribuição de Evo como indígenas  a uma América Latina despedaçada e sem identidade.

Não se pode ser passional e fingir que não vê o que ocorre. Também temos que ser inquiridores do que defendemos e velar para que o processo seja consequente e digno.

Ainda assim apoio rotundamente o projeto de Patria Grande porque confio que as mudanças estão sendo feitas, porque este é um processo que apenas começa, que mal conseguiu se restabelecer de tanto golpe capitalista e oligárquico traidor.

É um projeto que avança para um socialismo inclusivo, que esta tratando de recobrar o que lhe pertence e foi roubado. E não é fácil no dia a dia para um sonho de prosperidade e liberdade. A ameaça de ataque está aí, a cada minuto,  se enredam as investidas dentro da pátria. O socialismo não é só uma pessoa, um governo de turno. É um projeto de todo um povo, as mudanças ocorrerão. Passo a passo as mudanças ocorrerão se se mantém no caminho para o socialismo.

Temos ai a Espanha com o triunfo de Podemos e tem uma prefeita em Barcelona que chamam de “candidata contra as demissões”. Não será fácil, seguramente cometerá varios erros, em algum momento injustiças, mas Espanha já traçou um caminho que pensa seguir firmemente que é o caminho do socialismo. Ada Colau representa nestes momentos o início de um sonho, a quimera de uma Terceira República. E o que falar da Grécia , que também muito socialista mas ao mesmo tempo machista um governo que não incluiu uma só mulher nos cargos de relevância. O patriarcado ataca igualmente a socialistas e capitalistas. Temos que nos desfazer desse mal hábito, desse pecado capital. Falo assim em termos religiosos apesar de ser uma hereje por excelência porque no socialismo também tem tem um peso aterrador a existência do inferno e do paraíso. Outro tema por tratar e arrancar de raiz, mas vamos passo a passo….

Para encerrar, pergunto, para se formar uma ideia ou para refrescar a memória: quantos e quais são os pecados do capitalismo?

*Colaboradora de Diálogos do Sul, de território estadunidense.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Ilka Oliva Corado Nasceu em Comapa, Jutiapa, Guatemala. É imigrante indocumentada em Chicago com mestrado em discriminação e racismo, é escritora e poetisa

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