Pesquisar
Pesquisar

Otan, nazismo e armas biológicas: os reflexos do conflito na Ucrânia além da economia

Pode-se não querer “comprometer” uma opinião a favor da Rússia neste conflito; mas não se pode deixar de condenar a voracidade dos EUA
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

José Carlos Mariátegui nos advertiu sabiamente algo que costuma passar despercebido: que a realidade nacional está muito menos desconectada da realidade mundial.

O Amauta invitava a ver o que ocorria na Europa de então: “Os operários que lutam hoje nas barricadas de Hamburgo – dizia – lutam também por vossa causa, operários do Peru”. Era um modo de confirmar a interrelação dos fenômenos que costumam ser ignorados inclusive por segmentos avançados do pensamento revolucionário de nosso tempo. Cabe revisar isto, lendo a declaração da Esquerda de 27 de março, e na qual se alude ao conflito de hoje em solo ucraniano. Quase ignorando-o, se fala dele por “suas consequências”; pelo que poderia suceder aqui, a partir do encarecimento de carburantes e outros insumos.

Pode-se não querer “comprometer” uma opinião a favor da Rússia neste conflito; mas não se pode deixar de condenar a voracidade dos EUA

Montagem Diálogos so Sul
Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin são os protagonistas so conflito entre seus países

Pareceria que, diante do fenômeno em si, e a imensa ameaça que dele se deriva, o que importa é que não prejudique nossa magra economia. Como se disséramos que esperamos que a guerra não nos prive de ir ao cinema aos domingos. 

Talvez alguém poderia sustentar a ideia de que este conflito acontece longe. Ou talvez assegurar que é tão complexo que não serve para unir nem para dividir o movimento popular, porque alguns apoiam a estratégia russa e outros tomam distância dela. Talvez não lhes falte razão a uns ou a outros. 

Estamos, efetivamente, geograficamente longe do cenário de guerra; e pode confundir o fato de que no meio assome uma disputa hegemônica entre grandes potências. Ambas as razões poderiam aconselhar-nos a tomar distância, não assumir compromisso algum. Mas isso seria eludir uma definição referente ao fundo do problema.

O essencial não é a soberania da Ucrânia, nem a “invasão russa” de 24 de fevereiro passado. É o renascimento do nazismo, que se percebe em diversos países da Europa estimulado abertamente pelos complexos guerreiros e pelo governo dos Estados Unidos.

Não tem outro sentido o surgimento de VOX, na Espanha; a votação de Le Pen, na França; o crescimento dos nazistas na Alemanha e na Áustria; o desaparecimento da Iugoslávia; a elevação de Kosovo como base militar da OTAN; a aparição do Tea Party na pátria de Jorge Washington; e a furibunda “russofobia”, de entranha anticomunista, que se expressa em diversos países.

Neste marco brilha com luz própria a política da OTAN, surgida no início da “guerra fria” para defender as fronteiras do ocidente diante do “perigo da URSS”. Hoje, a URSS não existe, mas a OTAN não só vive, mas também estende sua influência para garantir uma hegemonia unipolar; apesar de que em 1991, o Secretário de Estado ianque assegurou que a OTAN não estenderia sua influência ao Leste da Europa, nem cresceria nos territórios da extinta URSS. 

Mas a voracidade dos comerciantes da guerra marchou em outro sentido. Hoje, os Estados Unidos têm mais de um milhão de soldados disseminados em 193 países e mais de 850 bases militares em 93 deles. E busca instalar mísseis na fronteira da Rússia, colocando projéteis nucleares a 5 minutos de Moscou. 

Inclusive por isso, o Presidente dos Estados Unidos converteu o Tratado do Atlântico Norte em um país, e fala das “fronteiras da OTAN”, como se ela tivesse território. Se a OTAN fosse elevada à categoria de Estado caberia perguntar quem governa esse Estado e como e mediante quais procedimentos foi eleito esse governo, quais são suas leis e quais seus organismos de controle. 

Nada disso existe, mas a OTAN é um poder real e está, inclusive, por cima das Nações Unidas. Em 1999, por exemplo, bombardeou Belgrado e destruiu um país inteiro: Iugoslávia, que hoje não existe. E o fez à margem e contra as decisões dos Conselho de Segurança da ONU. Lembram disso?  

Mas para esse caso, a OTAN não é suficiente. É preciso levar em consideração que por trás dessas siglas de sangue e guerra está o governo dos Estados Unidos – Republicanos e Democratas – sócios na repartição do mundo e nos altos negócios. E que usam os instrumentos armados para proteger seus próprios investimentos. 

Não olvidemos que o senhor Hunter Biden – filho do atual Presidente EUA – é o principal empresário do gás em Kiev e tem sob controle diversos laboratórios de experimentação biológica na Ucrânia. Suas andanças, foram postas em evidência em Nova York. E temos que nos lembrar do Iraque e da Líbia. 

Atrás da OTAN e do Governo dos Estados Unidos estão também os laboratórios de experimentação que estão sendo impulsionados em diversos países. Inclusive se denunciou que isso acontece na Colômbia. As pragas contra Cuba; o “agente laranja” no Vietnã, o surgimento do HIV na África; e até a Covid poderiam haver tido origem nesses laboratórios experimentais feitos à moda de Joseph Mengele, o médico louco do entorno de Hitler. E é que atrás de todo esse quadro de opróbio e de morte, está uma concepção que renasce e que se alimenta das desigualdades, do racismo, da homofobia, do ódio nacional e da escravidão humana.

Esse é o Nazismo, que se faz patente nas ações do Batalhão Azpv e outros, estimulados e organizados à sombra de Kiev. E age há mais de 8 anos no sul da Ucrânia. Hoje mostra os bombardeios ucranianos ao Donbass e os mostra como “prova” dos ataques russos. E oculta os horrores, a tortura e a morte que infere à sua própria população à qual usa como “escudos humanos” ou como reféns. Pode-se não querer “comprometer” uma opinião a favor da Rússia neste conflito; mas não se pode deixar de condenar a voracidade dos Estados Unidos, a ingerência da OTAN, o ressurgimento do Nazismo e das práticas dos mercadores da guerra no mundo de hoje.

A Esquerda não pode perder de vista esse cenário sem renunciar a princípios inalienáveis. 

Gustavo Espinoza M. é colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

LEIA tAMBÉM

Ataque de Israel à ONU renderia chuva de sanções, mas tudo podem os aliados de Washington
Ataque de Israel à ONU renderia chuva de sanções, mas tudo podem os aliados de Washington
Ucrânia acumula perdas de território e está cercada pela Rússia em Donbass
Ucrânia acumula perdas de território e está cercada pela Rússia em Donbass
Ucrânia_Kursk_Otan
Kremlin: ação da Ucrânia em Kursk prova que Otan atacaria Rússia
Casa em Kursk após ataques da Ucrãnia
Ucrânia pode tentar usar região russa de Kursk como moeda de troca após fim da guerra