País realizará eleições gerais em maio do próximo ano; desafio do PRD é retomar o poder após derrotas consecutivas e em meio a uma crise institucional
A autocrítica promovida pelos líderes do Partido Revolucionário Democrático (PRD), fundado em 1979 pelo general panamenho Omar Torrijos, pretende retomar sua filosofia de resgatar a Pátria do abismo.
“… e nasceu o PRD, não como um partido a mais para brincar de democracia e disputar o poder a cada tantos anos, mas como esse instrumento de luta do povo panamenho”, expressou Pedro Miguel González, secretário-geral do agrupamento ao falar recentemente a colegas de partidos do continente latino-americano e caribenho reunidos no Panamá.
Prensa Latina
"O PRD decidiu participar da democracia eleitoral, e de alguma maneira foi se desnaturalizando em sua organização e em seus propósitos"
Em uma interpretação do papel que Torrijos outorgou ao coletivo, ante os propósitos de consolidar a soberania nacional e social, Gonzáles o considerou que é a ferramenta para avançar nos objetivos daquele processo revolucionário iniciado com o golpe de estado de 11 de outubro de 1968.
As missões encomendadas ao PRD eram garantir o cumprimento fiel dos Tratados Torrijos-Carter, que devolviam ao Panamá a faixa territorial usurpada e, além disso, que o Estado panamenho desempenhasse seu papel de nivelador social: 'o objetivo inconcluso do torrijismo no Panamá é esse, o de alcançar a soberania social’.
Portanto, a direção política do 'Partido de Omar' -como se autodenominam- dirige seus propósitos para alcançar um modelo de desenvolvimento que permita uma melhor distribuição da renda, e para isso pretendem mirar suas origens e voltar sobre o caminho que empreenderam então com o General à frente.
“O PRD decidiu participar da democracia eleitoral, e de alguma maneira foi se desnaturalizando em sua organização e em seus propósitos, para converter-se em um partido mais, como aqueles partidos políticos que Omar Torrijos deslocou do poder em 68”, afirmou a modo de reproche.
O fato de não se manter apegado a seus valores e princípios fez com que perdesse “a confiança do povo” que o castigou nas urnas nas duas últimas duas eleições, disse dolorido aquele que atualmente ocupa uma cadeira na Assembleia Nacional.
González confirmou a Prensa Latina que esta reflexão autocrítica ele a fez antes, inclusive dentro do PRD, motivo pelo qual há mais de dois anos se dá uma reorganização das forças da maior agrupação política panamenha, e de “reencontro com nossos valores, com nossos princípios, com nosso propósito original”.
Iniciando a consecução da análise histórica de suas raízes, durante a comemoração do meio século do golpe militar que o PRD considera o início do processo revolucionário, o próprio González examinou na semana anterior o porquê da ruptura da ordem constitucional.
“Para nós é o começo de uma etapa de libertação nacional exitosa. Para os adversários, é a hora escura de uma ditadura feroz”, sintetizou assim as duas visões contrapostas do mesmo fato, diante uma multidão partidária enlouquecida que gritava repetidamente o nome de Omar.
Na realidade, o que houve foi uma gestão de estado de caráter patriótico para resgatar a soberania sobre o canal interoceânico – segundo sua opinião – e se perguntou que “ideias impulsionavam esse processo que nasceu pela força e de imediato se converteu na força do próprio povo”.
“Para nós e para o povo panamenho é o início das grandes reivindicações sociais que foram postergadas por décadas desde o início da República”, disse e citou, entre outras, reforma agrária, código do trabalho, sindicalização dos trabalhadores, assentamentos camponeses, educação e saúde.
Ao caracterizar o cenário da época, reconheceu que o levantamento ocorreu em meio do esgotamento de um modelo político que “degenerou aparatosamente”, enquanto que a oligarquia se sustentava no poder graças à obediência da instituição militar que se sublevou.
“Este quadro nacional desastroso é escondido, não se divulga como foi, porque interessa mais assinalar a irrupção que se produziu na Guarda Nacional e no setor militar jovem que foi representado por Omar Torrijos”, explicou e em seguida disse:’ as tentativas perversas de apagar sua memória se chocam diante de uma realidade que não pode ser manchada’.
Panamá já está imerso na batalha eleitoral que terminará no dia 5 de maio de 2019 e o PRD forma parte da contenda; a profunda crise institucional é reconhecida por muitos, que se referem ao cansaço das massas pelo abandono governamental.
Se nessas circunstâncias o voto popular optar novamente pela oferta do torrijismo, recairá sobre essa força política a responsabilidade de converter o discurso em realidades e ratificar com fatos essa consigna que retumbou na comemoração revolucionária: “não vamos falhar ao nosso comandante”.
*Pensa Latina, da Cidade do Panamá, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados