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Foto: Gage Skidmore / Flickr

Para justificar guerra contra o México, Trump quer igualar cartéis a “Estado Islâmico”

Ideia de guerra contra o México nasceu como uma fantasia de Trump, mas se tornou uma doutrina para o Partido Republicano
Beverly Fanon-Clay
Estratégia.la
Nova York

Tradução:

Ana Corbisier

A truculência com que Donald Trump está tratando o tema migratório afeta não só a relação com o México, como com toda a América Central (acusou El Salvador e Venezuela de estarem enviando seus “criminosos e doentes mentais para os Estados Unidos”), boa parte do Caribe, América do Sul e além. Depois de ter se salvado por milímetros da tentativa de assassiná-lo, o empresário reassumiu a candidatura presidencial como o controle do Partido Republicano, mas se alguém esperava um discurso mais conciliador, se enganou.

A ideia de Trump de uma intervenção militar ao sul da fronteira estadunidense se tornou algo parecido a uma doutrina para o Partido Republicano, diz o New York Times. Trump queria lançar mísseis no México. O Partido Republicano fala de enviar tropas. A ideia republicana de usar força militar no México contra os cartéis da droga começou como uma fantasia de Donald Trump na Sala Oval. O ex-presidente busca torná-la realidade em 2025.

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Em seu discurso, Trump afirmou que, segundo pesquisas, 50% dos que chama de hispanos têm a intenção de votar nele, que é candidato para ser presidente de todo o país, não apenas da metade, estendendo uma mão a velhos, jovens, homens ou mulheres, negros ou brancos, asiáticos ou hispanos (sic).

Trump: mais arrogante e racista

E, desde então, voltou o Trump que todos conhecemos, talvez mais velho, arrogante e racista do que quando era presidente, tratando de impor a ideia de uma nação em queda livre, culpando a imigração ilegal por todos os males: “É uma invasão massiva em nossa fronteira sul que provocou miséria, crime, pobreza, enfermidade e destruição de nossas comunidades por todo o país”, e prometeu que terminará com esta crise fechando a fronteira e terminando o muro.

México diz que não aceitará migrantes expulsos pela nova lei do Texas

O presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador denunciou as propostas como indignantes e inaceitáveis. Há mais de um século os Estados Unidos não enviam pessoal militar para o México sem o consentimento do governo mexicano.

O México tem uma história amarga com a ingerência estadunidense: um grande trecho do sudoeste estadunidense era parte do México até que os Estados Unidos o tomou à força em meados do século 19.

O México não permite que agentes estadunidenses armados executem operações em seu território, diferentemente de outros países da região que aceitaram realizar operações conjuntas com a DEA e a CIA e convidaram o governo estadunidense para ajudar a instruir, equipar e dar assistência a suas forças de segurança.

Os republicanos descreveram as redes criminosas mexicanas de narcotráfico como uma ameaça para a segurança nacional estadunidense, e alguns qualificaram o fentanil como uma arma de destruição em massa.

México: todos os males

Em mais uma de suas diatribes anti-mexicanas, Donald Trump afirmou que continua de pé seu plano de intervir militarmente no México a fim de atacar integrantes e infraestruturas do crime organizado que traficam drogas para os EUA e asseverou que o país está petrificado ante os cartéis da droga, que podem tirar o presidente em dois minutos.

Seu companheiro de chapa, JD Vance, disse que o México deixará de ser um país de verdade e se tornará um narcoestado, a menos que Washington assuma o controle sobre os grandes grupos delituosos.

O secretário de Defesa de seu governo, Mark Esper, afirmou em suas memórias que Trump lhe perguntou sobre a possibilidade de lançar mísseis no México para destruir os laboratórios de drogas e aniquilar os cartéis, e também acerca de como culpar o outro país por essa violação da soberania nacional: estava convencido de que os Estados Unidos podiam executar o ataque e manter secreta sua responsabilidade.

Os republicanos descreveram as redes criminosas mexicanas de narcotráfico como uma ameaça para a segurança nacional estadunidense, e alguns qualificaram o fentanil como uma arma de destruição em massa. Os estadunidenses gastam milhares de milhões de dólares por ano em cocaína, heroína e outras drogas ilegais, muitas das quais chegam ao longo dos mais de 3 mil quilômetros da fronteira com o México.

Mas o auge do fentanil, forte opioide sintético de ação rápida que pode ser elaborado a baixo custo a partir de substâncias químicas, criou uma nova crise, sendo responsável pela morte de mais de 2/3 dos 110 mil mortos por overdose nos Estados Unidos em 2023, mas os legisladores não encontraram soluções para o problema. Do consumo e abuso de drogas nos EUA, a culpa também é do México?

Em janeiro, Trump lançou um vídeo de propaganda intitulado “Presidente Donald Trump declara guerra aos cartéis”, no qual apoiava explicitamente a ideia de designar os cartéis de drogas mexicanos como o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, em vez de tratá-los como criminosos transnacionais, organizações que devem ser confrontadas com ferramentas para aplicação da lei.

O consumo de fentanil se espalhou entre cidades sem-teto como São Francisco, nos Estados Unidos

Mais de 20 republicanos da Câmara assinaram o copatrocínio da legislação proposta pelo deputado texano Dan Crenshaw para promulgar ampla autorização para o uso da força militar contra nove cartéis. Também autorizaria o uso da força contra qualquer organização estrangeira que o presidente determine que cumprA determinados critérios, incluindo organizações envolvidas no tráfico de fentanil.

A sua natureza negligente assemelha-se às amplas autorizações de guerra que o Congresso promulgou após os ataques terroristas de 2001 e antes da Guerra do Iraque de 2003, que se tornaram problemas para além do que os legisladores tinham inicialmente previsto, observa ele o NYT.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Beverly Fanon-Clay Socióloga estadunidense, professora universitária e colaboradora do Centro Latinoamericano de Análisis Estratégico (CLAE).

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