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Para Lula esquerda deve ter seus próprios meios de comunicação

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Vanessa Silva*

Foro de São Paulo LogoSegundo Lula “Precisamos de uma nova mídia. Não podemos ficar reclamando da imprensa. Ela é assim no Brasil, na Venezuela, Colômbia, Argentina, Uruguai, El Salvador… Não podemos ficar apenas reclamando que os adversários usam a mídia contra nós”.

A declaração foi proferida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o ato de abertura do 19º Foro de São Paulo, que ocorreu na capital paulista de 31/07 a 4/8, mas apesar de sua importância, não ganhou repercussão nem na imprensa comercial, nem na alternativa.

A democratização da comunicação tornou-se pauta essencial dos movimentos sociais brasileiros e tem sido discutida amplamente em fóruns internacionais há anos. O Foro de São Paulo, ainda que de maneira elementar, levantou a problemática na América Latina e pontuou algumas experiências bem sucedidas em alguns países como Argentina e Nicarágua, mas não tirou nenhuma ação concreta conjunta de seus participantes, deixando a questão apenas na oratória.

Lula colocou o debate em outro patamar ao chamar a responsabilidade dos partidos de esquerda para viabilizar novas formas de comunicação: “nós não nos comunicaremos mais assim com jornalzinhos. Não é possível pensar que um jornal vai conseguir fazer a gente falar o que pensa para milhões. Mas por meio da internet, nós podemos chegar a milhões de pessoas se nos comprometermos, enquanto partidos do foro, a chamar a responsabilidade e arrumarmos dinheiro para fazermos as coisas acontecerem”.

Crise de representação

Diante da nova realidade que se desenha com a crise de representação dos partidos de esquerda e movimentos sociais tradicionais no Brasil e no mundo, o ex-presidente avaliou ser necessário que “paremos de reclamar e passemos a fazer o que está ao nosso alcance para que tenhamos nossa própria mídia, nossa própria informação”.

Na mesma linha, o presidente boliviano, Evo Morales em coletiva de imprensa concedida durante o Foro, fez coro ao avaliar que “é importante que o povo organizado, os movimentos sociais, e não somente os governos tenham seus meios de comunicação”.

Há tempos, a mídia vive também sua crise de representação ao não representar a sociedade, tratando temas e questões que estão distantes da realidade das maiorias.

Para Evo Morales, os meios tradicionais de comunicação não falam para as pessoas. “Se o governo está com a verdade, com o povo, os meios de comunicação que servem aos empresários, ao capitalismo, ao neoliberalismo, como a CNN, não dão nada sobre o trabalho que faz o presidente ou seu governo”. O presidente avaliou ainda que, se os povos levassem em consideração os meios de comunicação e suas mentiras, os governos anti-imperialistas “não aguentariam uma semana sequer de governo”. E concluiu que “é importante ter meios de comunicação, mas quando um governo trabalha para seu povo, digam o que digam, o povo não faz caso”.

Apesar da importância da questão e do debate, mesmo com os golpes midiáticos perpetrados recentemente contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a única menção da resolução final do Foro foi a respeito das “manobras da direita brasileira, através dos meios de comunicação e de outros mecanismos, no sentido de sabotar o governo da Presidenta Dilma Rousseff”.

Desta forma, esquerda segue alheia a questões essenciais como a levantada por Lula de criação de novas formas de comunicação e de meios financiados por governos e partidos progressistas e sequer discutiu a importância de fortalecimento da Telesur, iniciativa venezuelana que nasceu com a proposta de ser multiestatal, e poderia ser um instrumento importante de integração cultural, mas que por falta de aportes de recursos dos demais países envolvidos em sua criação, não atingiu este propósito e encontra diversas dificuldades, sobretudo com o conteúdo em português. Assim, a integração segue caminhando a passos lentos sem que os países ditos progressistas tomem conhecimento das lutas e conquistas de seus vizinhos, livres dos filtros das empresas de comunicação que têm um objetivo claro: minguar iniciativas e governos populares latino-americanos.

Oxalá a exortação de Lula sensibilize os dirigentes de seu partido, bem como das organizações sociais ligadas ao PT a colocarem em pauta o tema e partirem para ações concretas que levem a criação de novas mídias bem como ao fim do monopólio. Como é sabido que do Congresso Nacional é impossível que contrariem interesses criados, é preciso grande mobilização popular para que se viabilize um projeto de comunicação democrática. É tarefa para o próprio Lula levar o tema para as ruas.

*Da equipe fundadora de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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