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Foto: Peter Kurdulija / Flickr

Perseguição a muçulmanos e subordinação aos EUA: Europa segue firme rumo à “re-nazificação”

Transformação na região visa tornar possível um ciclo de monstruosas dinâmicas de guerra capitaneados pelo grande capital estadunidense
Andrés Piqueras
La Haine
Castellón

Tradução:

Carolina Ferreira

Recentemente, o governo britânico proclamou que quer combater o “extremismo”, mas não publicou uma definição oficial do mesmo. Seria “a promoção ou encorajamento de uma ideologia baseada na violência, no ódio ou na intolerância” que visa destruir os direitos e liberdades de outros ou “minar, reverter ou substituir o sistema britânico de democracia parlamentar liberal e de direitos democráticos”.

Podemos imaginar qual população esta designação afeta fundamentalmente? Sim, de fato, o Secretário das Comunidades, Michael Gove, mencionou a ameaça de “extremistas islâmicos que querem separar os muçulmanos do resto da sociedade e criar divisão entre as comunidades islâmicas” (aliás, ele diz que também quer combater grupos extremistas porque isso é obrigatório piscar o olho à sociedade alarmada pela crescente brutalidade destes grupos).

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Isto não nos lembra o “crime de ódio” que é cada vez mais utilizado à la carte para reprimir manifestações de protesto, crítica ou reivindicação de direitos (muitas vezes, precisamente, de algumas minorias)? Outro dia, sem ir mais longe, membros da Polícia Nacional espanhola procederam à denúncia de dez jovens como alegados autores de um crime de ódio no jogo de basquetebol entre Lenovo Tenerife e Hapoel Bank Yahav Jerusalém, em Santa Cruz de Tenerife.

Os jovens denunciados foram propostos para punição por distribuir panfletos e portar uma faixa a favor da causa do povo palestino e contra o genocídio na Faixa de Gaza. Sim, de fato, em breve os protestos contra a barbárie, a guerra e o genocídio serão considerados um crime de ódio pelos países da OTAN, alguns dos quais já exercem uma repressão explícita das ações pró-Palestinas.

Estado de coma

Perante o estado de coma – que se considera irreversível – da outrora “radical” esquerda clássica convertida à ordem do capital (partidos eurocomunistas) ou da nova esquerda integrada desde o início nessa ordem (ambientalista, “feminista”, “LGBTQ+ista”, “cidadãnista”, etc.), que ou se juntam diretamente aos governos ao serviço da OTAN e sob o comando do seu braço político – a UE -, ou servem de trupes para esses governos, a classe capitalista vê o caminho livre para apresentam seus Dobermans e Pit Bulls como opções “antissistema”.

Isto é, quando quase toda a esquerda (com excepção de algum feminismo mais ou menos minoritário, do ambientalismo e do comunismo resistente, acima de tudo) renunciou à luta anticapitalista, as versões mais bárbaras do capital vangloriam-se de serem “anticapitalistas” -“capitalista”, entendendo por “sistema” não o modo de produção capitalista, claro, mas algo como o jogo eleitoral que ele proporciona, com o seu tradicional tandem bipartidário e a sua manipulação e corrupção generalizadas.

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E o nazi-fascismo do século XXI não é exatamente igual ao do século XX, a menos que as circunstâncias o exijam. É um “fascismo democrático” que, através de grandes somas de dinheiro e do apoio das grandes potências, é capaz de atingir as massas enojadas e cada vez mais empobrecidas e mal exploradas pelas “democracias” capitalistas, para lhes dizer que com a sua ascensão mudará tudo desde a raiz, começando pela corrupção. Às vezes até pregam contra a guerra e contra a UE.

Obviamente, quando estas forças chegam ao governo ou apoiam outros partidos nele, executam as políticas ordenadas pelo grande capital, e mostram-se como o que realmente são: forças de choque do mesmo para persuadir cada vez mais massas, analfabetos políticos, ou punir os setores que se recusam a aceitar as situações impostas.

Forças submissas

Em suma, forças submissas aos poderosos (basicamente aos conglomerados transnacionais UE-OTAN-EUA e ao sionismo global) e bestiais aos fracos (especialmente com a força de trabalho migrante global e a população nativa marginalizada).

Não, nem mesmo Viktor Orbán (Hungria), Georgia Meloni e Matteo Salvini (Itália), Jaroslaw Kaczynski (Polónia), Heinz-Christian Strache (Áustria), Jussi Halla-aho e Olli Kotro (Finlândia), Jimmie Akesson (Suécia), Alexander Gauland e Joerg Meuthe (Alemanha), Anders Primdahl Vistisen (Dinamarca), Santiago Abascal (Espanha), André Ventura (Portugal), Adam Walker (Grã-Bretanha) ou Marine Le Pen (França), não procurarão nada que seja contrário aos interesses do grande… capital americano. Pelo contrário, farão qualquer coisa, e a expressão é literal, para servir você.

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Porque é necessária uma Europa renascida para empreender o ciclo de monstruosas dinâmicas de guerra para as quais o grande capital dos Estados Unidos nos está a levar e continuará a arrastar nas próximas décadas, enquanto o poder imperial se agita com fúria para não ser ultrapassado e pare de dominar o mundo. E porque, paradoxalmente, uma Europa renascida é forçada a aprofundar a sua mais extrema subordinação ao poder norte-americano (uma Europa verdadeiramente democrática não poderia aceitar estes graus de submissão econômica de guerra).

Com as últimas eleições em Portugal, o aumento desta renazificação é mais uma vez evidente. Quando é a direita organizada que ocupa cada vez mais as ruas, as praças e os parlamentos, a esquerda alternativa que considerou o socialismo como uma forma de evolução da humanidade, de superação da sua era de barbárie, tem que se apressar em reagir, na mobilização e na mobilização, se quiser sequer tentar sobreviver.

O momento histórico é fundamental para o que pode esperar toda a população nas próximas décadas (e talvez séculos). A luta anti-imperialista, pela paz, e a luta anticapitalista que sustenta este anti-imperialismo, são cada vez mais vitais para o mundo, para a Vida.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Andrés Piqueras

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