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Peru: Com histórico polêmico, ultradireitista Aliaga é chamado de “duas caras” por Mendoza

Iskay Uya é o modo com que se qualifica uma pessoa falsa, que tem duas caras, que esconde atrás das palavras suas verdadeiras intenções
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Em uma visita recente à cidade do Cusco, Verónika Mendoza aludiu ao candidato da ultradireita peruana López Aliaga.

Comentando a contradição entre o que diz e o que faz, a líder do JxP usou uma expressão muito comum na cidade imperial: Iskay Uya, que é o modo com que se qualifica uma pessoa falsa, que tem duas caras, que esconde atrás das palavras suas verdadeiras intenções.

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Precisa e certeira para definir a conduta política de uma pessoa que aparece como “nova” no cenário nacional mas que tem data antiga e que fez fortuna à sombra de regalias outorgadas por Alberto Fujimori.

Foi este quem, em meados dos anos 90 do século passado, lhe facilitou privilégios que permitiram que tivesse a concessão da estrada de ferro Cusco-Machu Picchu, e de um complexo hoteleiro de primeiro nível que antes era do Estado.

O negócio foi bom para ele, mas hoje constitui um dos monopólios que mais prejuízos causa ao turismo, e o que é mais detestado pela cidadania na capital do Império. 

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Mas não é a única coisa que define o perfil do candidato da Willax TV. Ele também está implicado em outros investimentos igualmente rentáveis como um Compuc Palace, construído sobre em base ao leilão da Casa Marsanoevasões tributárias que ele assegura que “já prescreveram” conforme aquela fórmula que diz que “as velhas dúvidas não se pagam. E as novas, se deixam envelhecer”.

Iskay Uya é o modo com que se qualifica uma pessoa falsa, que tem duas caras, que esconde atrás das palavras suas verdadeiras intenções

Peru AS
Iskay Uya é o modo com que se qualifica uma pessoa falsa, que tem duas caras.

Panamá Papers e candidatura presidencial

A fortuna deste personagem o levou a dois destinos: proteger sua fortuna se valendo dos “Panamá Papers” – esse negócio furtivo usado no país do Canal para “lavar” dinheiro mal obtido -; e levantar uma candidatura presidencial trazendo para nossas terras a mensagem da Ku Klux Klan. Uma maneira engenhosa, sem dúvida, de ocultar latrocínios. 

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No entanto, é bastante o que mostra a ação política deste curioso personagem. De fato, considera que o Peru não é um país, mas sim uma empresa. Não tem noção de Pátria, mas sim de Usina; não vê os peruanos como cidadãos, mas sim como assalariados sem sindicatos nem direitos. Como nos tempos da idade média para o trabalhar deve reger apenas uma lei: “ora e labora”.

Produzir -para o Patrão, claro-, e “ganhar o céu” à custa de rosários, parece fluir da mensagem deste beato de meia tigela que promete a “salvação eterna” aos incautos que votarem nele.

Outras intenções…Franco, Opus Dei…

Mas esse homem tem outras intenções. Na verdade não busca propriamente ser Presidente porque não vai conseguir. Seu propósito é “levantar” um projeto político que vem além dos mares, do solo ibérico. 

É a Espanha de Franco Bahamonde a que ilumina seu caminho, e as teorias de Escrivá e Balaguer, as que guiam seus passos. O OPUS DEI alenta tudo, em um tempo equivocado.

O “Caudilho” já não existe e os espanhóis aspiram a muitas coisas, mas não a restaurar o domínio do vice-reinado ao qual aspiram certos áulicos destas latitudes. 

Espanha e a ameaça “comunista”

A Espanha atravessa um período difícil. A democratização, que devia ter acontecido após a morte de Franco, se viu frustrada pela ação da Coroa e sua aliança com o Capital Financeiro. Dessa aliança – e do braço do “Partido Popular” – emergiu um país frustrado que ainda não achou seu rumo. 

O esforço de Republicanos, autonomistas, socialistas e comunistas, ainda não dá frutos e por isso a Espanha continua – no dizer de Vallejo- “vendo Calderón sobre o rabo de um anfíbio morto”, sem achar o passo-doble que o localize no nosso tempo. 

Isso explica a “Carta de Madri”, subscrita recentemente por um núcleo de 50 “personalidades da Iberosfera”. Para elas “O avanço do comunismo supõe uma séria ameaça para a prosperidade e o desenvolvimento de nossas nações, assim como para as liberdades e direitos de nossos compatriotas”

Por “comunismo” entendem tudo o que se opõe aos privilégios do capital e da aristocracia – incluída a monarquia -. Então, começam por Cuba e terminam com todos os movimentos sociais latino-americanos que buscam independência e soberania. 

Por isso, a “Declaração” obsoleta, aparece assinada por “personalidades” de rançosa linhagem. Francisco Gregorio Antonio Tudela van Breugel-DouglasRafael Bernardo López Aliaga CazorlaAldo Mariátegui Bosse e  Dardo López D’Olz.

Este último, se alguém não lembra, foi vice-ministros de Alan García e Chefe da Segurança de Keiko Fujimori. E esteve envolvido no escândalo da compra superfaturada de 50 veículos porta-tropas. Quando foi nomeado para esse cargo, contratou ad honorem seu cunhado de ascendência israelita, Alberto Fuster Granthon, para “assessorá-lo” em questões de inteligência. 

Credenciais e o passado

Credenciais, sem dúvida, sobram a todos eles. Mas, algum deles já teve alguma atitude democrática? Subscreveu em algumas circunstância um documento a favor dos interesses dos povos? Pronunciou-se sequer pelo respeito aos recursos naturais dos Estados? Somou-se a alguma causa solidária vinculada à luta continental pelo progresso ou pelo desenvolvimento? Combateu por algo que interesse aos trabalhadores? 

Poderíamos sentá-los ante o polígrafo de Beto Ortiz e perderiam se respondessem a uma só dessas perguntas. Jamais ninguém leu uma palavra deles em tal sentido. É claro que Beto, agora, tampouco se sentaria: forma parte do ecossistema informativo com Willax como “capital de imprensa”.

De todos eles se poderia dizer o mesmo: Iskay Uya.

Gustavo Espinoza M., Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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