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Peru: Mídia pede que militares forcem renúncia de Castillo; decisão acontece na quinta (28)

Porta-vozes da ultradireita lançam apelos não só ofensivos e procazes, mas sediciosos, e voltam a bater perigosa e temerariamente na porta dos quarteis
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Tudo indica que no Peru se viverão os próximos dias decisivos. No mar proceloso das contradições de classe que assomam em nosso tempo, perfilam-se enfrentamentos que abrirão novos cenários. 

O tema central segue sendo em nosso panorama, a obsessão golpista que move a ultradireita que hoje canta vitória e que terá em 28 de abril um prazo decisivo. 

Nessa data, em efeito, o Pleno do Congresso debaterá a “Acusação Constitucional” urdida contra o Presidente Castillo, e que conta com o ditame favorável da Subcomissão encarregada do tema. O Pleno, poderá dar-se ao luxo de votar depois de um curto debate. Se a proposta obtiver 66 votos, o Mandatário ficara “suspenso” no cargo e se haverá consumado um peculiar Golpe de Estado.

O delito de Traição à Pátria é certamente muito grave. Tanto quem em tempo de guerra, as Constituições anteriores colocavam para ele a pena de morte. Nas atuais circunstancias, seu equivalente seria a Cadeia Perpétua, ou uma sanção similar.

Não é ocioso perguntar-se no entanto se essa “acusação” esboçada contra o Chefe do Estado, tem algum tipo de sustentação. É claro que não. E muito menos, se lhe vincula à base que o fundamenta; a ideia de Pedro Castillo de convocar uma consulta cidadã em que se propusesse a possibilidade de habilitar para a Bolívia uma saída para o Oceano Pacífico.

Não só essa seria a mais acertada e democrática decisão de qualquer governo posto ante tal desafio; porque o tema de fundo – o mar para a Bolívia – tem velha data na política peruana. Ademais porque em torno a isso já se manejaram políticas oficiais há mais de 40 anos.

Morales Bermúdez o abordou na segunda parte dos anos 80 do século passado com um critério favorável para o país altiplânico; mas Alberto Fujimori concretizou o tema cedendo território e porto de embarque à Bolívia em um gesto que motivou alegria no presidente boliviano de então, Jaime Paz Zamora, que se banhou com o “chinito de la yuca” no Mar de Grau. Depois, em seu segundo mandato, Alan Garcia confirmou essa concessão e a ampliou. Lembram? 

Alguém disse algo em tais circunstâncias? Aludiu ao tema alguns dos que hoje se rasgam as vestes e gritam histericamente proclamando um patriotismo que não conhecem? Por certo que ninguém disse nada.

Porta-vozes da ultradireita lançam apelos não só ofensivos e procazes, mas sediciosos, e voltam a bater perigosa e temerariamente na porta dos quarteis

Andina – Presidência do Peru
Golpistas incubam a esperança de que a queda de Castillo, augure uma troca de timão que lhes assegure a liberdade de Fujimori

Se hoje gritam ostentosamente é porque estão buscando simplesmente um pretexto para derrubar Castillo e ressarcir-se por essa via da derrota que sofreram em junho passado. O tema é outro. Como não podem tirar o Presidente com 87 votos – não os têm – há que baixar a cota e conseguir 66. É mais fácil! Poderão obtê-los? 

A “Grande Imprensa”, alcagueta do Grande Capital, prestou-se entusiasta a esta iniciativa. E sobretudo Willax Televisión – esse pestilento vertedouro que deve milhões ao fisco. Atualmente, está pondo empenho ao assunto. Recentemente, porta-vozes da ultradireita lançaram apelos não só ofensivos e procazes, mas simplesmente sediciosos. 

E voltaram a bater perigosa e temerariamente na porta dos quarteis. Exigindo que os militares “não permitam” que fracasse esta manobra, ou que a façam abortar forçando Castillo a demitir-se. 

O assunto é que em 28 de abril também o Juiz Zúñiga, que leva o caso de Keiko Fujimori iniciará a etapa final do julgamento tantas vezes postergado; diligência que poderia ditar a detenção preventiva, tal como pediu o Ministério Público.

No fundo isso é que está em jogo. Mas há mais: as dívidas à SUNAT, que empresários se obstinam em não pagar. Milhões de dólares acumulados, e que desejam que lhes sejam perdoados. Aí está a questão.

A Máfia luta por salvar a Keiko da prisão entre outras coisas porque não é só ela. Nesse julgamento, há mais de uma centena de acusados, vários dos quais foram ministros, congressistas, juízes e até chefes militares e policiais. Não é pouco o que está em jogo. 

Além do mais, os golpistas incubam a esperança de que a queda de Castillo, augure uma troca de timão que lhes assegure a liberdade do pai dessa criatura. Trata-se assim de muita coisa. 

Há tempos que a Máfia deseja que o sangue chegue ao rio. Buscou isso afanosamente em 5 de abril nas ruas da capital executando o vandalismo mais desenfreado. Fracassou em sua tentativa. Inventou, então, o mito “dos 8 mortos” para poder gritar que o governo é “assassino”, como se não houvesse sido assassino o governo de Fujimori, que gerou a morte de milhares de peruanos em dez anos de barbárie.

No outro lado do cenário, está a força do povo, que desde 21 de abril se mobilizou demandando o fechamento do Congresso e uma nova Constituição que ponha fim ao mundo da írrita carta de 93. Independentemente do destino que tenham essas demandas, elas simbolizam uma verdade imensa: o povo luta por bandeiras legítimas, por demandas justas, e não por interesses subalternos nem por afãs mesquinhos. 

Esta não é uma “bandeira da esquerda”, como alguns sustentam. É uma exigência essencial que permitirá avançar em um caminho nacional libertador. 

A vontade do povo, expressadas nestas e noutras mobilizações, augura a ideia de que o Governo de Castillo pode recuperar posições e avançar caso se afirme na iniciativa e na demanda das grande maiorias nacionais. 

Gustavo Espinoza M. é colaborador dz Diálogos do Sul de Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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