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Gustavo Espinoza M.*
A menos de 48 horas do início da eleição de 10 de abril no Peru, toda sorte de especulações se descortinam no cenário. Se bem o denominador comum admite que a mais alta votação no primeiro turno corresponderá a Keiko Fujimori, variam as percentagens que se lhe atribuem. Para uns, estará em torno de 28% e para outros em 35% e há ainda os que sustentam que ascenderá a 41%. Só uns poucos sonham com o mais desejado: derrota-la no primeiro turno.
O tema que empolga é o de situar quem chegará em segundo lugar na disputa. E é que este – qualquer que seja a votação que obtenha- poderá disputar o segundo turno em 5 de junho. Se o voto anti favorecer poderá inclusive vencer a candidata da máfia, e assumir a Presidência da República. Essa que é a voz Populi alenta a muita gente.
Desde segunda-feira passada não se pode mais difundir pesquisas de opinião, porém, as pesquisas que “circulam” em silêncio reconhecem que a maior probabilidade está em que o segundo lugar se disputa entre Verónika Mendoza e Pedro Pablo Kuczynski. O quarto lugar parece reservado a Alfredo Barmechea, que perdeu muitos votos devido a certas reações derivadas de sua mentalidade conservadora e aristocrática e por sua pedantaria. Só uma das pesquisas –IDICE- resgata do quinto lugar a Alan García para coloca-lo em segundo. Sonho aprista e obsessão da embaixada estadunidense em Lima, que não obstante, tem consciência de que a Casa Branca se entenderá perfeitamente tanto com Keiko, PPK ou mesmo o Barnechea.
O PPK representa claramente os interesses das transnacionais e do grande capital. Também, por certo, à Confiep e o empresariado peruano, a oligarquia –a mais rançosa e conservadora do continente- e a grande imprensa que cerraria filas com ele se chegasse a disputar o segundo turno com Keiko.
Em seu programa, nada promete que interessa ao povo. Sabe que não fará nada em tal sentido. E se compromete, então, só a dizer acreditar que poderia fazer: uma gestão decente. Porém seus vínculos com os “Panama Papers” recentemente revelados, que comprometem igualmente a Keiko e a García, deixam a impressão de que essa decência é muito discutível. Nenhum deles tem autoridade para utilizar esse termo.
Verónika Mendoza é a candidata que cresceu do nada e que hoje demonstra maior probabilidade de chegar em segundo lugar na eleição de domingo. Vladimir Cerrón, que desistiu da disputa logo no início, e Gregório Santos, que além de estar privado da liberdade teve uma grande campanha de desprestígio desencadeada pelos grandes meios.
Verónika de fato poderia obter os votos para chegar ao final do primeiro turno. Porém, dificilmente vencerá a candidata da máfia que certamente conseguiria o apoio da direita e dos setores de centro na eleição de junho.
É que numa sociedade enferma como a nossa, e também pelas perversões da máfia, subsiste a ideia de apoiar aquele “que rouba mas faz”, ou o que “mata, mas não é chavista”. A eleição municipal de Casteñeda, no ano passado, confirmou o primeiro. E o segundo foi ratificado pela vitória presidencial de García em 2006.
Verónika, certamente não é chavista, nem de longe. E mais. Pressionada pela imprensa de direita se empenhou em criticar “a ditadura” venezuelana; e a distanciar-se de Evo Morales e Rafael Correa, questionando o rumo do processo da Bolívia e do Equador. Aqui somos, disse, “partidários da democracia, o investimento estrangeiro e o livre mercado”. Somos, asseverou, “uma esquerda moderna que não tem compromissos com o passado”.
Em contrapartida, até hoje não mencionou para nada a palavra “imperialismo”, não falou da ingerência estadunidense nem aludiu a romper com a dependência. Sequer se referiu ao Fundo Monetário, nem às organizações internacionais de crédito. De toda maneira, protagonizou episódios que significam avanços. Falou em mudar a Constituição herdada da máfia; reconheceu “alguns êxitos” no governo de Evo; e anunciou seu rechaço ao TTP. Mesmo assim, se chegar ao governo, terá um perfil sui generis. Seria uma esquerda inédita no continente.
Há que admitir que a grande imprensa conseguiu certo êxito: converteu a sociedade peruana na mais conservadora do continente. Tanto que, inclusive a esquerda, para ter votos, deve se apresentar com um certo discurso de direita, porque no contrário será inexoravelmente derrotada.
Recentemente esteve no Peru o jornalista brasileiro Paulo Cannabrava Filho. Ágil de mente e de escrita, regressando a São Paulo assegurou que o Peru estava numa encruzilhada de dois caminhos. Um poderia conduzi-lo ao inferno, o outro oferece caminhos de construção. É isso.
Mais além de tentações ou de ilusões, o povo ficará na terra, ativamente mobilizado para combater a máfia.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru.