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Peru: Pão e beleza como bandeira de luta

Gustavo Espinoza M.

Tradução:

A gravidade da crise que sufoca hoje a toda sociedade peruana exige da esquerda e do movimento popular em seu conjunto, uma madura reflexão. Esta deveria partir de duas considerações essenciais: a corrupção não é consubstancial ao ser humano nem ocorre por desígnio divino. É consequência de um modelo social que decompõem os valores e impõe o consumismo e a competição como essenciais formas de vida.

Gustavo Espinoza M.*
Mas também há que considerar que a luta para erradicar essa lacra implica num processo de mudança em todas as áreas da vida humana. Desde as regras da economia, até as normas de comportamento pessoal, passando por planos os mais diversos: legal, moral, de formação e administração.
Tudo isso não faz parte do patrimônio de um homem ou de um partido. Forma parte da consciência de um povo na medida em que perceba a necessidade de forjar uma nova ordem social, mais humana e mais justa. Em outras palavras, se sustenta na soma dos elementos básicos indicados por Mariátegui como bandeiras de luta: o pão e a beleza.
bandeiraluta2Quando o destape da Odebrecht se fez crise, apareceram nitidamente a responsabilidade de quatro dos últimos cinco presidentes peruanos: Fujimori, García, Toledo y Humala.
Diante disso, a Confederação Geral de Trabalhadores do Peru -retomando velhas bandeiras de classe- resolveu promover a realização de uma grande concentração cidadã e a agendou para a próxima quinta-feira, 16 de fevereiro.
A partir da se desencadearam dois processos desencontrados. Por um lado, várias organizações e coletivos sociais se somaram à ideia e lhe deram forma, até conseguir integrar uma Coordenadora de Luta contra a Corrupção que assumirá a coordenação dessa jornada.
Por outro lado, as forças mais reacionárias vinculadas ao sistema de dominação vigente, trataram de desacreditar a iniciativa recorrendo a diversos procedimentos. Hoje trabalham ativamente.
Para o movimento popular está cada vez mais claro o fato de que a corrupção forma parte do sistema de dominação capitalista e dele se nutre. Essa ideias é corroborada por personalidades progressistas de diferentes bandeiras, que evoluíram até reconhecer essa evidência. Artigos recentes publicados em alguns meios confirmam esse avanço. Ele se soma à causa dos trabalhadores e que forma parte de sua essência de classe.
Para a reação, ao contrário, a corrupção tem rasgos partidários e trata de usá-la a fim de obter lucro. Aproveitando que Odebrecht é um consórcio brasileiro, acusa a Lula, Dilma e o Partido dos Trabalhadores de ser os patrocinadores da máfia. E estende as acusações contra a Argentina dos Kirchner, o Equador de Correa e a Venezuela Bolivariana.
Em outras palavras, busca enlamear o processo libertador latino-americano porque sabe, a ciência certa, que é este realmente o que põe em perigo seus privilégios e seus interesses.
Os editoriais de “Perú 21”, as colunas de Aldo M. E as entrevistas diariamente concedidas por Becerril, Lourdes Alcorta, del Castillo e outros, apenas confirmam esse roteiro que no fundo não tem outra intenção que a de blindar a Fujimori e a Garcia, comprometidos com a corrupção até os ossos.
Nesse contexto, a luta contra esses latrocínios adquirem uma dupla dimensão: é a denúncia contra quem -como Toledo ou Humala- aparecem severamente comprometidos em ações delituosas. E é a batalha contra a máfia que, em todos os planos busca estabilizar e consolidar os espaços que lhe permita manipular a corrupção como lhe dá na telha.
Por essa razão, os meios de comunicação a serviço da classe dominante buscam desacreditar e isolar a Marcha de 16 de fevereiro pretendendo apresenta-la como “uma iniciativa da esquerda”, interessada em capitalizar essa luta.
Fora as especulações baratas, resulta absolutamente compreensível que organizações de esquerda e forças progressistas do país se somem à convocatória e até tomem a iniciativa de fortalecer essa luta. Não poderia ser de outra maneira. Seria inconcebível que esses setores saíssem a limpar a cara de Fujimori coberta de sujeira, como fez Becerril, ou como Maurício Mulder, sair defendendo Alan Garcia, o mais comprometido dos três chefes de estado nas investigações.
Uma posição natural para os que buscam livrar o país das imundas lacras do passado. É precisamente denunciar e combater à máfia que opera com intenção de perpetuar seu domínio sobre o cenário nacional. Porque –há que dizer- se dependesse dela o Peru seria sempre um ninho de ratazanas, e carne suculenta para as aves de rapina.
Por isso a mobilização de 16 de fevereiro não nem poderia ser patrimônio de ninguém, nem bandeira exclusiva da esquerda. Que ergue uma bandeira bem ampla e terá que ser bandeira de todo o povo.
Sectarizar a marcha, pretender convertê-la em expressão de um só segmento da sociedade, isolá-la por razões de ordem partidária ou interesses eleitorais seria, objetivamente, fazer o jogo do inimigo
Nesta como em todas as lutas populares, a Unidade é a palavra de combate: a bandeira de todos, a ordem para hoje e amanhã.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru.
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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