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Pesquisas eleitorais no Peru buscam “criar opiniões” favoráveis a Keiko Fujimori para aumentar simpatia de indecisos

Além do mais, os meios de comunicação, em vergonhoso concerto, falam maravilhas da candidata da Força Popular
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Um dos mais engenhosos caricaturistas peruanos, Carlín inseriu recentemente uma Obra Maestra na matéria. Nela, Keiko Fujimori justifica as alianças firmadas pela “Força Popular” visando as eleições de 6 de junho. “Pelo bem do Peru” e para “Salvar a Democracia”, parece dizer a Senhora K, assegurando que, com tão louvável propósito “todas as Máfias nos unimos”. E é assim. Só que agora nos pedem que votemos por elas. 

A menos de quatro semanas da votação, o cenário parece particularmente complexo. Não se pode crer o que dizem as empresas de “pesquisas de opinião”. Elas não só “refletem” opinião, mas também buscam “criar opinião”. Quando dizem reiteradamente que alguém “está subindo” na opinião da cidadania, afirmam isso com a ideia de que as pessoas acreditem que, em efeito, está subindo. E isso pode aumentar a simpatia dos “indecisos”.

As pesquisadoras, além disso, têm seu “coraçãozinho”. As mais “objetivas”, como Ypsos e Datum, dão agora a Castillo entre 5 e 6 pontos de vantagem. Mas aludem sempre a 2,8% de “margem de erro para cima ou para baixo”. A Castillo reconhecem então 41%, mas poderia ser 43,8%. E a Keiko lhe outorgam 36,5%. Poderia ter realmente 33,7%. 

A pesquisadora CIT, que outorga aos contendentes de junho um virtual “empate”, é Aprista. Sempre foi, iniciou suas atividades, e tem se mantido com “prognósticos” políticos em função de interesses altamente questionáveis. Em abril, deu a Keiko uma porcentagem mais alta – inclusive o primeiro lugar – e simplesmente relegou a Castilho. Lembram?

De todo modo é previsível que Keiko registre “subida”. Isso há que atribuir à campanha de medo desatada pela classe dominante através de todos os meios, inclusive a “Grande Imprensa” e os canais abertos de TV; mas também à “soma” de adesões que concita.

Embora o voto não seja “endossável”, altera a soma quando muitas pessoas “qualificadas” respaldam uma candidatura e buscam “embelezá-la”. Além do mais, os meios de comunicação, em vergonhoso concerto, falam maravilhas de Keiko.

Na TV, e nisto desempenham papel especial Mávila Huerta, Rossana Cueva e Milagros Leiva, que poderiam competir por um troféu da mais bajuladora das entrevistadoras. Não só elogiam em tudo a candidata da Força Popular, mas, além disso, atacam sem piedade a Pedro Castillo, Vladimir Cerrón e Peru Livre.

Isso explica também a suposta “queda” de Castillo nas pesquisas. A isso, há que somar presumidas debilidades: não concede entrevistas, não apresenta seus “assessores”, parece “não ter equipe técnica”, parece improvisado, e sem plano de governo. E, além do mais, “digitado” por Cerrón contra quem se impulsiona uma obsessiva campanha caluniadora.

Além do mais, os meios de comunicação, em vergonhoso concerto, falam maravilhas da candidata da Força Popular

WikimediaCommons
A menos de quatro semanas da votação, o cenário eleitoral peruano parece particularmente complexo

De qualquer maneira, tudo isso está sendo enfrentado com êxito. O encontro de Castillo com os cientistas peruanos radicados no exterior, constitui um acerto significativo, e cai por terra aquilo de que Castillo “não tem equipe”. Keiko não poderia convocar um encontro igual. Seu cientista mais qualificado – Cesar Acuña- não tem prestígio.

Mas também Keiko tem cometido grossos erros e tem mostrado alta vulnerabilidade. A intervenção de López Aliaga no Paseo de la República, a destituição de Clara Elvira Ospina da América TV (TV 4 e 8), o levantamento do programa radial na Rádio Ancash, o ataque à Casa do Professor, a noite de terça-feira, 11, não são mais que expressões do desespero e da selvageria de seu “modelo”. 

Em uma aberta política de “controle de danos” a vertente laranja e seus porta-vozes têm tratado de minimizar as coisas. Alguns disseram que o de López Aliaga foi “uma metáfora”; outros asseguraram que foi apenas “una desafortunada figura de expressão”. Finalmente tiveram que admitir, contrariados, que foi “um excesso”. 

E qualificaram o ataque à Casa do professor como um “altercado menor”. Na verdade, foi assim porque perderam. Se tivessem ganhado, e tivessem saído com a sua, que teria passado com o professor Castillo? 

Muita gente se pergunta se incidentes dessa ordem tivessem sido provocados por Peru Livre.; se Castillo tivesse ameaçado Keiko, ou López Aliaga;  ou se os ativistas de Peru Livre tivessem atacado um local em que se encontrava Keiko: teriam minimizado o fato? Teriam sustentado que se tratou de “um incidente”?   

 Além do mais, o anúncio de Keiko de um “governo plural” com aqueles que a apoiem, também apresenta incógnitas; Entregará o Ministério de Educação a Cesar Acuña; Saúde ao APRA, para Abel Salinas; e o do Interior a Renovação Nacional, para López Aliaga; e porá como Chanceler a Tudela para ser “um governo pluralista”, ou será somente o fascismo no poder?

Em perspectiva, é possível para Castillo consolidar o interior e recuperar pontos em Lima onde na verdade ainda não fez campanha. Deve se dedicar agora a percorrer os distritos e andar pelos cerros. Assim, poderá ganhar pelo bem do Peru, e salvando realmente a democracia.

*Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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