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Petro enfrenta golpismo com mobilização popular e leva milhares às ruas de Bogotá

“Querem é fazer o que fizeram no Peru, levar o presidente à prisão, mudar o governo e pôr um novo presidente não eleito", declarou Petro ao povo
Blanche Petrich
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Assediado a partir de várias frentes movidas pela direita colombiana, que entre outras coisas ameaçavam paralisar o Congresso e congelar um pacote de reformas das leis de saúde, trabalho e aposentadoria, o presidente Gustavo Petro saiu em manifestação nas ruas de Bogotá, na última quinta-feira (8), à frente de dezenas de milhares de simpatizantes.

Ao denunciar novamente indícios que se articula contra ele um golpe de Estado, ou melhor, um “golpe brando” – usou ambos os termos – Petro advertiu que os setores que atiçaram nos últimos dias uma crise política a partir de um escândalo de duvidoso transfundo “querem é fazer o que fizeram no Peru, levar o presidente à prisão, mudar o governo e pôr um novo presidente não eleito. E isso se chama golpe de Estado”. O presidente assumiu o mandato há 10 meses. 

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O que é um escândalo? 

O cenário de crise se agravou nas últimas semanas a partir do que os meios e personagens dos partidos de oposição insistem em qualificar como “o maior escândalo de corrupção nos últimos tempos”. Começou por uma triangulação de um conflito pessoal entre o embaixador da Colômbia na Venezuela, Armando Benedetti, a assessora do presidente, Laura Sarabia, e uma babá que presumidamente roubou ambos (fato não provado) temperado por interseções telefônicas (chuzada, são chamadas na Colômbia) passadas à imprensa e acusações contra ambos de abuso de poder.

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“Querem é fazer o que fizeram no Peru, levar o presidente à prisão, mudar o governo e pôr um novo presidente não eleito", declarou Petro ao povo

Reprodução/Facebook
Petro: “Querem isolar o governo de Petro de seu povo; querem destruir a confiança, querem enterrar as reformas"

O pleito subiu de tom com a publicação na revista Semana (furibunda contra Petro) de mais “chuzadas” em que Benedetti, um diplomata sui generis conhecido por sua indisciplina diante da Chancelaria e seus vícios, soltou no meio de impropérios muito acima do tom ameaças de dar a conhecer presumidos financiamentos do narco à campanha de Petro. Nada foi provado, ambos os funcionários foram destituídos. Mas para a oposição não há outro tema da agenda nacional.

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Em contrapartida, em meados de maio, o ex-chefe do grupo paramilitar mais sangrento, Salvatore Mancuso, das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), recebeu sua primeira audiência diante da Jurisdição Especial para a Paz (JEP). Em relato que demorou horas, confessou como ordenou massacres, esquartejamentos, desaparecimentos e roubo de terras, muitas vezes para cooperar com o exército. 

Os meios não falaram de “escândalo”. Na quarta-feira (7), segundo informou El País de Cali, seguindo as pistas proporcionadas por Mancuso, a Unidade de Busca de Pessoas Desaparecidas na zona de Juan Frio, norte de Santander, do lado venezuelano, localizou uma fossa com 200 corpos, enterrados aí pelas AUC a pedido do exército. 

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Isso, aqui, não é um escândalo. As “revelações” de Benedetti, que nem sequer se começou a investigar, sim.


Uma marcha contra o golpe brando

Flanqueado por sua esposa e filha de um lado e por sua vice-presidenta, Francia Márquez, pelo outro, acompanhado de vários ministros e dirigentes das forças aliadas ao Pacto Histórico, o presidente Gustavo Petro elevou o tom: “Que não se atrevam a romper com a democracia na Colômbia porque se encontrarão com um gigante: o povo da Colômbia nas ruas desse país”.

Centrais operárias, o magistério, boa parte do movimento estudantil e formações políticas afins ao Pacto Histórico, entre eles um grande contingente da União Patriótica, responderam à convocatória para sair às ruas. Além da marcha multitudinária da capital, que mobilizou dezenas de milhares desde a Praça da Nação até a histórica Praça Simón Bolívar, houve concentrações em cerca de 200 municípios, segundo reportes da presidência. 

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“Não há que temer, há que mudar”; “Adiante com as reformas”; “Eu confio em Petro”, diziam alguns dos muitos cartazes acompanhados das siglas do variado movimento popular que impulsionou o triunfo eleitoral de Petro. 

Para esta ocasião, o presidente não pronunciou seu discurso do balcão da Casa Nariño. Desceu à rua, caminhou um curto trecho entre as pessoas e na Praça Simón Bolívar, sobre um pequeno tablado apenas dividido por algumas grades da multidão que cobriu a histórica explanada, levantou sua petição aos legisladores do país: “Solicitamos desde nossa própria humildade, desde nossas ganas de justiça, que aprovem as reformas que garantem ao povo seus direitos. Isto não é uma solicitação violenta, desrespeitosa, armada (e aí deslizou uma alusão a um dos alegados que repete teimosamente a direita mais recalcitrante sobre seu passado guerrilheiro no M19). É uma solicitação popular que nasce das entranhas do território excluído, da base da nação”.

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Resumiu em poucas palavras as reformas mais sentidas por essas bases que hoje saíram para respaldar seu projeto em manifestações em cerca de 200 municípios de todo o país. “Saúde gratuita, trabalho digno e um bônus de aposentadoria para que qualquer velho ou velha tenham um sustento para poder existir”. 

Então Petro fechou seu breve discurso com o tema que está pondo à luz nas últimas semanas: 

“Querem isolar o governo de Petro de seu povo; querem destruir a confiança, querem enterrar as reformas, ajoelhar o Congresso e dobrá-lo ante a vontade do grande capital.


O pensamento de Petro, em algumas frases

“O povo que elegeu o presidente, continua com o presidente”.

“O objetivo da paz é o maior desejo da sociedade colombiana. O primeiro requisito é que o país tenha justiça social”.

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“Ou queremos uma eterna Colômbia das exclusões; uma Colômbia em que a imprensa odeia a vice-presidenta por sua cor de pele?” (E nesse momento o presidente passou o braço sobre o ombro de sua segunda a bordo, Francia Márquez, de pé ao seu lado).

“Queremos uma Colômbia que leve o indígena ao cepo como nos anos de escravidão ou um indígena que algum dia possa governar este país? Uma Colômbia onde os jovens que saem a protestar levam disparos aos olhos? (alusão aos massivos protestos estudantis e juvenis de abril do ano passado, sob o governo de Ivan Duque, que registraram dezenas de mortos e feridos, muitos deles com lesões permanentes nos olhos porque as forças da ordem do país copiaram o “método” dos carabineiros chilenos, que disparam suas balas de borracha no rosto dos manifestantes)”. 

Blanche Petrich | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


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