Apesar de o comércio bilateral entre Rússia e Índia representar apenas 1,5% do total de transações indianas, o país asiático depende fortemente de equipamentos e peças de defesa de Moscou. Por isso, ambos os países procuram alternativas para a execução de transações comerciais e superação dos bloqueios impostos ao país euro-asiático, agora fora da rede de pagamentos Swift, em razão dos conflitos na Ucrânia.
A resposta pode estar em movimentar as quantias através de moeda, cartões e bancos nacionais de cada país. Dmitri A. Solodov, porta-voz da embaixada russa em Nova Deli, já orientou aos credores indianos que se conectem ao sistema de mensagens financeiras do Banco da Rússia.
Outra medida, já em discussão pelo Banco das Reservas da Índia e pelo Banco da Rússia, é a aceitação dos cartões Rupay, da Índia, e MIR, da Rússia, nas infraestruturas nacionais de pagamento, além da interação da interface unificada de pagamento e do sistema de pagamento rápido do Banco da Rússia.
O uso de moedas nacionais já é promovido entre ambos os países e outras nações que também compõem os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), de acordo com Solodov, e há anos existem negociações para aperfeiçoar o modelo. Já o pagamento de importadores russos a exportadores indianos em rúpias (sistema rupia-rublo) já foi tentado em pequena escala no comércio de itens como chá.
Avanço na cooperação com China pode blindar Rússia contra sanções dos EUA
A tendência, afinal, é buscar diminuir a dependência do dólar — e do euro — para transações internacionais. Devido às sanções ocidentais contra Moscou, US$ 500 milhões em pagamentos da Rússia à Índia se encontram paralisados.
Até mesmo cidadãos russos poderiam se beneficiar da aliança, utilizando a rede RuPay para transações. Desde que bancos russos e a rede MIR se juntaram ao sistema da operadora chinesa UnionPay, as redes de cartões ocidentais Visa, Mastercard e American Express suspenderam as operações em território russo.
Max Pixel
Se concretizadas, transações de petróleo em yuan significariam queda no excedente de dólar norte-americano por compradores internacionais
Recorrer à China para se afastar do dólar é um movimento feito também pela Arábia Saudita, que há seis anos negocia para vender petróleo a Pequim em yuan e estaria próxima de efetivar o modelo.
A mudança seria motivada pela crescente frustração de Riad com Washington, em razão das hostilidades da administração Biden em relação à guerra da coalizão liderada pelos sauditas no Iêmen e a intenção estadunidense de reviver o acordo nuclear com o Irã de 2015.
A China, maior importadora de petróleo bruto do mundo, ao mesmo tempo tem oferecido incentivos à Arábia Saudita, além de já ser compradora de 25% das exportações de petróleo saudita.
A notícia do potencial negócio, veiculada pelo The Wall Street Journal na última terça-feira (15), já levou ao aumento da cotação do yuan offshore em relação ao dólar, ainda que abaixo em relação ao seu valor há alguns dias.
O Departamento de Estados dos EUA, por sua vez, declarou que não tem pedido aos seus aliados que escolham entre eles e a China.
Se concretizadas, transações de petróleo em yuan significariam queda no excedente de dólar dos EUA por compradores internacionais, ao mesmo tempo em que seriam valorizados a moeda, o comércio e os investimentos na China.
*Com informações de Sputnik Brasil e Prensa Latina
Guilherme Ribeiro é redator na Revista Diálogos do Sul
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