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Plutocracia, oligarquia ou democracia? O que significa outro milionário na eleição dos EUA?

Com fortuna de $53 bilhões, Michael Bloomberg entra disputa para tirar Trump do poder
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Plutocracia à americana

Nos últimos dias, um dos homens mais ricos do mundo anunciou que está pensando em entrar na contenda eleitoral para desafiar outro multimilionário que agora encabeça o regime estadunidense, deixando aberta a possibilidade de que a pugna pela Casa Branca será entre um multimilionário contra outro multimilionário, ambos afirmando que representam os melhores interesses do “povo”. 

A pergunta já não é se os Estados Unidos são uma democracia, mas uma plutocracia ou uma oligarquia. 

Michael Bloomberg, com uma fortuna pessoal de uns 53 bilhões de dólares está dando passos preliminares para se postular como pré-candidato democrata, aparentemente porque crê que o elenco atual de pré-candidatos não conseguirão derrotar Donald Trump com uma fortuna de 3 bilhões de dólares (embora ele insista que tem mais de 10 bilhões, mas se recusa a comprová-lo).  

Com fortuna de $53 bilhões, Michael Bloomberg entra disputa para tirar Trump do poder

Flickr / David Berkowitz
Michael Bloomberg tem uma fortuna pessoal de cerca de 53 milhões de dólares

Antes, quase todos os ricos estavam felizes em influir, e em muitos casos controlar, o processo eleitoral das sombras através de suas doações a candidatos de sua preferência. Todos sabem que para ser um candidato presidencial viável se requer centenas de milhões de dólares; que o montante arrecadado por um candidato determina em grande medida se ganhará ou não, que há milhões de dólares que são canalizados sem ter que revelar quanto nem quem está por trás de políticos que, é claro sabem quem os está apoiando e a quem devem seu emprego. A cúpula econômica tem hoje em dia mais influência sobre a cúpula política que em qualquer momento no último século.  

De fato, as personalidades mais ricas do país como Jeff Bezos da Amazon, Mark Zuckerman do Facebook, Bill Gates da Microsoft, os Walton do Walmart (sua fortuna pessoal se incrementa em 4 milhões por hora), os irmãos Koch da Koch Industries, o próprio Bloomberg, entre outros, têm exercido enorme influência no jogo político e eleitoral do pais, com sua grana dando a eles muito mais poder que os votos e opiniões de milhões de cidadãos. 

Há uns quatro anos, o ex-presidente Jimmy Carter comentou que os Estados Unidos já não são uma democracia, mas “só uma oligarquia, com suborno político ilimitado”. Há muitas pesquisas sérias que comprovam esta afirmação.  

Mas enquanto a oligarquia trata de tornar-se plutocracia (definição: governo pelos ricos), tudo isso sucede justamente quando o grande tema político é a desigualdade econômica com a maior concentração de riqueza desde antes da Grande Depressão, e o tema que impulsionou o movimento Ocupa Wall Street, 1% mais rico contra 99% dos demais, agora ocupa o centro do debate político. Hoje em dia, 1% controla quase 40% da riqueza; 1% tem mais riqueza que o total de 90% da população. 

A classe multimilionária já não goza de admiração, mas sim de desprezo e suspeita. Criou com sua economia de máfia um governo mafioso, como indicava o historiador econômico Karl Polanyi, e a ilusão que impulsionou – de livres mercados/livre comércio = “liberdade” -,  deixa de funcionar, sobretudo entre os jovens.

De fato, o candidato que está interrompendo a festa dos oligarcas, primeiro em 2016 e outra vez hoje em dia, é Bernie Sanders (e em menor grau, Elizabeth Warren), que tem demonstrado que não só pode competir (atualmente é o que mais fundos tem arrecadado entre os pré-candidatos democratas) mas sim ganhar sem o apoio de nenhum multimilionário, inclusive definindo sua campanha como uma luta “contra a classe multimilionária”. 

Uma integrante socialista do concílio de Seattle, Kshama Sawant, acaba de triunfar em sua reeleição, apesar do dono da Amazon, Bezos – o homem mais rico do planeta – tenha investido mais de um milhão e meio para derrotá-la. De repente, o grande dinheiro se enfrenta a forças democráticas, algo que assusta, e não é pouco, aos oligarcas. 

Por ora, esta contínua sendo a melhor democracia que o dinheiro pode comprar. Mas há indícios de uma rebelião que enfrenta os oligarcas e seus sonhos plutocráticos e trata de recuperar a democracia que tanto se tem prometido  aqui. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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