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Por candidatura à presidência, Ron DeSantis e Trump disputam quem é mais extremista

Expressões de ódio nutridas e promovidas diariamente impulsionam a violência verbal e física contra imigrantes, sobretudo mexicanos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente declarou no último sábado (13) que a supremacia branca “é a ameaça terrorista mais perigosa” dentro dos Estados Unidos. Mas a supremacia branca não é algo marginal, e um de seus promotores máximos foi ninguém menos que o presidente anterior e agora aspirante presidencial, Donald Trump. Quem o apoia ou justifica é por definição cúmplice de um movimento neofascista, racista, anti-imigrantes e xenofóbico que continua ameaçando o país mais poderoso do mundo.  

Trump, sem disfarçar sua disposição em violentar o que resta da democracia estadunidense, expressou há alguns dias que indultará os julgados penalmente – aos quais chamou de “grande gente” – por participar a seu convite da tentativa de golpe de estado em 6 de janeiro de 2021. Também reiterou que promoverá medidas anti-imigrantes mais brutais, incluindo de novo separar crianças das famílias imigrantes que tentem cruzar a fronteira.  

O labirinto da violência armada e o peso do ódio da supremacia branca nos Estados Unidos

Enquanto isso, a principal competição a Trump dentro do Partido Republicano para a nomeação presidencial, por agora, é outra versão do mesmo. O governador da Florida, Ron DeSantis, acaba de promulgar uma das leis anti-imigrantes mais severas do país, que entrará em vigor em julho, com o objetivo de atacar trabalhadores indocumentados.

Ao mesmo tempo, esse governador está alterando o currículo escolar no estado ou excluir ou anular cursos, livros e materiais didáticos.

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As autoridades de educação do Estado sob ordens do governador acabam de rechaçar materiais autorizados, incluindo livros, para uso por professores da educação primária, secundária e preparatória que se refiram a temas de identidade sexual, limitar o que professores podem abordar sobre o tema do racismo e referências a “justiça social” e protestos sociais e censurando alusões a socialismo e comunismo.

Expressões de ódio nutridas e promovidas diariamente impulsionam a violência verbal e física contra imigrantes, sobretudo mexicanos

Foto: Shealah Craighead/Casa Branca
Ron DeSantis e Donald J. Trump na sala do gabinete da Casa Branca em 13 de dezembro de 2018

O porta-voz de DeSantis argumentou que isto se fez para frear “o doutrinamento político de crianças”, o que é “um problema muito real e prolífico neste país”. Aliás, mais de 25% dos professores no nível nacional reportam que tiveram que censurar e/ou modificar o que ensinam por leis e medidas parecidas às da Florida em outros estados. 

“Qualquer um que possa te fazer acreditar em coisas absurdas pode fazer com que cometas atrocidades”, disse Voltaire, advertência que está se comprovando quase todos os dias nos Estados Unidos.

Muito além de Trump: nos EUA, supremacia branca é promovida em escolas e times de futebol

Neste domingo, foi o primeiro aniversário do massacre na cidade de Buffalo, Nova York, onde um supremacista branco chegou a uma comunidade afro-estadunidense e matou 10 pessoas que não conhecia em um supermercado. Há pouco mais de três anos, um jovem branco viajou horas para chegar a El Paso, onde assassinou 23 pessoas em um Walmart para frear o que ele dizia ser uma “invasão hispânica” nos Estados Unidos. Enquanto isso, os chamadas “crimes de ódio” contra minorias raciais, como comunidades gay e imigrantes – latino-americanos, asiáticos, árabes, africanos – e antissemitas continuam se multiplicando por todo o país.

Estas expressões de ódio são nutridas e promovidas diariamente pelos Trump, os DeSantis, diversos senadores e deputados republicanos e seus aliados e cúmplices dentro e fora do país, que promovem velhas e novas teorias da conspiração; são os mesmos que continuam impulsionando a violência, verbal e física contra o México e os mexicanos – um alvo politicamente útil para eles nesta conjuntura.

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Nada disto é novo. Sempre, desde a fundação dos EUA, existiram estas correntes direitistas com pinceladas fascistas, mas nunca haviam logrado tomar o controle de um dos dois partidos nacionais, nem haviam escalado a cúpula política nacional incluída a presidência, e estão se preparando para tomar de assalto o que resta de “democrático”. 

A resistência a tudo isto é o desafio imediato das forças democratizadoras dos Estados Unidos, uma luta onde não há espaço para posições neutras dentro ou fora deste país.

David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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