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Por que lei prestes a ser aprovada na Flórida é uma das mais brutais anti-imigrantes dos EUA?

Nova legislação promulgada por DeSantis contém várias medidas, incluindo mecanismos para expulsar trabalhadores indocumentados
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

Em primeiro de julho entrará em vigor uma das leis estaduais mais anti-imigrantes dos Estados Unidos, impulsionada pelo governador e candidato presidencial republicano Ron DeSantis, na Florida. Os trabalhadores e comunidades imigrantes estão acostumadas a ter que aguentar medidas anti-imigrantes nesse estado, mas um dos líderes da luta pelos direitos humanos, trabalhistas e civis da Florida afirma em entrevista ao La Jornada: “isto sim que é o extremo”. 

A nova lei promulgada por DeSantis contém várias medidas, incluindo mecanismos para expulsar trabalhadores indocumentados, penas criminais para quem “transporte” indocumentados ao estado, limita ou anula serviços sociais básicos para indocumentados, invalida licenças de conduzir emitidas por outros estados e indocumentados e obriga hospitais que aceitam fundos públicos a perguntar sobre a condição migratória dos pacientes.

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Lucas Benitez, um dos fundadores e coordenadores da Coalizão de Trabalhadores de Immokalee, que chegou à Florida a partir de Guerrero para trabalhar como diarista e agora é um dos líderes que estão transformando a vida dos trabalhadores agrários em vários estados e inclusive em outras partes do mundo através do Programa de Comida Justa, conversou com o La Jornada sobre a vida para os trabalhadores e comunidades de imigrantes hoje sob o governador DeSantis.

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Nova legislação promulgada por DeSantis contém várias medidas, incluindo mecanismos para expulsar trabalhadores indocumentados

Foto: Pfc. Deion McBride
Empresas já estão perdendo mão de obra, e esse setor, junto com a agricultura e o turismo, são os que geram mais ingressos à Florida




Confira a entrevista

La Jornada: Como se está vivendo o ataque anti-imigrantes de DeSantis e seus cúmplices, e suas medidas direitistas, na Florida?
Lucas Benitez: O ambiente é realmente hostil neste momento. Como não sabemos exatamente o que vai acontecer – sabemos que a nova lei vem até o primeiro de julho – o medo que se sente pode ser palpado nas comunidades.

Essa incerteza já é parte do efeito que deseja o governador?
Sim, é claro. Por exemplo, as pessoas perguntam se podem ir ao hospital, e embora a resposta agora é que sim, as pessoas estão confusas: posso levar meu primo, meu familiar que não tem documentos, comigo ao trabalho? Ou seja, as pessoas continuam com todas as confusões e esse medo, pois já não podem fazer essas coisas, já não vou poder me mover no estado, teria que ficar em um só lugar. Então, muitos também estão optando e tomando a decisão de possivelmente sair do estado.

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O que acontece com os que antes se moviam com as temporadas?
Nesta temporada, o estado também alberga muitas pessoas brancas que vêm do norte, e que no verão agora vão de regresso ao norte igual a nós. Termina a temporada da colheita, da agricultura e sai uma grande parte das pessoas para trabalhar mais ao norte. Mas agora estamos ouvindo coisas que nunca havíamos ouvido antes: que talvez vamos e já não regressaremos.

Não o saberemos bem até quando as pessoas começarem a regressar para trabalhar em outubro e novembro, então vamos ver realmente o efeito disto. Mas também estamos escutando de vários patrões de empresas da construção [que não são temporários] que vai haver escassez de trabalhadores. E isso poderia incrementar-se com essa lei. As empresas já estão perdendo mão de obra, e esse setor, junto com a agricultura e o turismo, são os que geram mais ingressos neste estado.

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Nas escolas, também há medo de perder seus alunos. Agora, ao aproximar-se o fechamento de ano escolar, as mensagens dos diretores e professoras das escolas pedem que os pais, por favor, não tenham medo, que esperem para tomar a decisão de tirar suas crianças.

E a resposta de organizações sociais da Florida ante toda essa ofensiva?
Por ora, lamentavelmente ainda não se está fazendo uma massa de gente para fazer algo em conjunto. Nós somos parte da Coalisão de Imigrante da Florida, estamos fazendo reuniões comunitárias para levar informação sobre a lei. Também estamos planejando ações de protesto, marchas no nível local. Mas algo assim no nível estadual, não escutamos muito, embora todos se perguntem o que vamos fazer com isto.

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DeSantis está usando isto como parte de sua campanha eleitoral nacional, e com isso se sabe que o tema da migração e da fronteira vai se manter no centro do debate eleitoral nacional. Há respostas e apoio para vocês que enfrentam tudo isto em outras partes do país e organizações nacionais?
Sempre fomos um estado com a população imigrante golpeada. Creio que já criamos uma casca. É triste dizer isto. Por exemplo, o condado ao lado nosso foi o primeiro no nível nacional que implementou medidas que outorgaram à polícia local poderes de autoridades de migração. Isso começou aqui. Então coisas como essas criaram essa casca, para suportar golpes assim. Mas, isto sim é o extremo.  

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Mas no nível nacional basicamente temos escutado algumas declarações… E essa falta de resposta também dá um pouco de medo, porque outros políticos vão ver o que está se passando na Florida, e vão poder fazer também o mesmo em outros estados. 

Vendo para o futuro, o que é que se necessita de outras organizações, de políticos em outras partes do país, como também de outros governos?
É lamentável o nível dos esforços de proteção dos consulados de El Salvador, Nicarágua, Honduras e outros países que têm um montão de gente na Florida e não foram escutados.  

O único que disse algo é Andrés Manuel López Obrador. Ele apelou, em sua conferência matinal, que não se vote por políticos que usam o discurso anti-imigrantes em resposta ao que acontece aqui. Também houve a visita de (Marcelo) Ebrard ao centro da Florida, embora isso tenha sido para uma despedida de trabalhadores que regressavam ao México. Os consulados mexicanos estão tratando de apoiar os mexicanos, o de Miami está fazendo maiores esforços, mas necessitam mais recursos para poder dar ajuda, inclusive ajuda legal aos trabalhadores. 

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O que é que mais se necessita neste momento?
O que mais urge agora e começar a defesa diante de tudo isso é a informação, os foros comunitários para informar as pessoas. Por seu lado, os consulados necessitarão reforçar suas áreas encarregadas de proteção da comunidade.

Mais informação sobre a Coalisão de Trabalhadores e Immokalee: https://ciw-online.org/

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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