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Por uma arquitetura sustentável

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Arq. César Moncloa Guardia* 

edifícioEste artigo está orientado a remarcar a importância que tem a arquitetura no ecossistema urbano e o impacto que gera no meio ambiente, adotando-a quase como um ente biológico que enriquece o meio no qual se encontra, ou destruindo-o.

Para isso, é necessário aprender da natureza, conformada por Organismos Autrofos, que produzem seu próprio alimento absorvendo energia do sol (as plantas, por exemplo), e os Organismos Heterotrofos, que se alimentam dos produtores e outros consumidores para obter alimento e energia (nós, seres humanos somos Heterotrofos)

A arquitetura que forma cidades se comporta da mesma maneira: Quando cada uma das casas que formam a cidade, só Consome, demanda energia e contamina o ecossistema produzindo pobreza. Quando cada um dos edifícios que conformam a cidade Produz sua própria energia, está construindo cidades que regeneram o ecossistema que a arquitetura subtraiu.

sistemasPor isso, o objetivo é desenhar edifícios que passem de consumidores (situação atual) a edifícios produtores que gerem sua própria energia, formem identidade, utilizem o vento, o sol, a água. Assim, as cidades não dependerão de uma grande quantidade de energia artificial, serão mais democráticas, menos desiguais. Lugares onde viver sem a pressão cotidiana do trânsito caótico, da contaminação, da carência de áreas públicas e serviços básicos, entre outros. 

Arquitetura, Escolhendo adequadamente?

Como as peculiaridades de um indivíduo terminam se convertendo nas características da espécie?

pavoDarwin descobriu que todos os animais que existem evoluíram mediante a seleção natural, sexual ou artificial. As duas últimas têm muito em comum, em ambos os casos se requer um agente selecionador que assegura que sejam as melhores características que com o tempo e mediante a reprodução não aleatória deem forma ou determinem o comportamento do grupo.

Quando a fêmea do pavão escolhe o macho, não o faz porque ele lhe agrada ou chama a atenção. Sucede que a natureza determinou que os genes das plumas coloridas estivessem ligados aos de saúde. A isto se conhece como Peiotropia. Com o tempo todos os machos terão plumas cada vez mais coloridas.

Como é lógico, a arquitetura não evolui da mesma maneira que as espécies, mas quando um edifício se torna um ícone porque está na moda em um país que admiramos, ou porque nos parece lindo, moderno, vanguardista, tendemos a copiar estas características ou formas nos demais edifícios da cidade.

No entanto, a beleza ou modernidade de um edifício não está necessariamente ligada ao conforto, à saúde, ao bem-estar da população ou à proteção do meio ambiente. É um erro entender a beleza como o ato de reproduzir e agrupar vários elementos individuais em vez de prestar atenção à harmonia do conjunto.

Arquitetura e Sustentabilidade

Vejamos alguns exemplos dos maus hábitos de desenho que produzem edifícios pouco sustentáveis, insalubres, de manutenção cara e que degradam o meio ambiente.

Em primeiro lugar trata-se da localização. O tratado de Arquitetura mais antigo que se conhece foi escrito por Vitrubio no século I a.C. Nesse estudo, ele afirmava sabiamente que a arquitetura no Egito (deserto) não devia ser igual à de Roma (clima temperado mediterrâneo). Vejamos a que se referia.

O Guggenheim de Nova York é um museu e um dos edifícios mais importantes do século XX. Quem não gostaria de ter um edifício com essa espetacular janela (clarabóia) lá em cima? Vendo de perto sua localização constatamos que a cidade de Nova York está más perto do pólo norte que da linha Equatorial. É por isso que as temperaturas são muito baixas no inverno e confortáveis no verão. Os arquitetos dessas latitudes se viram na necessidade de criar uma arquitetura que capte a maior quantidade de calor possível para conseguir conforto e afastar-se do desperdício energético que seria climatizar este espaço com energia artificial. E é na perfeição como conseguem estes espaços que a beleza toma sentido e significado.

guggenheim-new-york-fuente-www.panoramio.com-autor-ELMUNT-400x266Se fizermos um corte transversal do Guggenheim para analisar a radiação solar em forma de luz e calor, que se acumula no espaço através da clarabóia ao longo de todo um ano veremos que o comportamento energético indica que o sol vem do sul, com um ângulo de inclinação bastante baixo. Note-se como a clarabóia controla eficientemente a entrada de calor encontrando um equilíbrio entre o calor e a iluminação.

Se a janela tivesse sido projetada na fachada Sul a exposição à radiação se duplicaria e o espaço se reaqueceria. Pelo contrário, no norte a iluminação indireta (proveniente do céu e não do sol) poderia ser confortável, mas sem nenhuma possibilidade de aquecer naturalmente o edifício, posto que o sol não vem nessa direção. Podemos afirmar, então, que se trata de um bom edifício projetado para clima frio.

Por que não em Lima

Se esse edifício é tão bom, caberia perguntar por que não construir em Lima um parecido. Acompanhe-nos neste exercício para entender as implicações energéticas que isto acarreta. O Peru é um país tropical, próximo à linha Equatorial, o que o condicionaria, em princípio, a temperaturas muito altas. Lima é uma cidade de verões com temperaturas medias quase chegando aos limites do conforto, enquanto que os invernos não são tão frios, embora com bastante umidade.

Por isso, a arquitetura em Lima deveria aproveitar o seu clima benigno. As consequências de ter um edifício projetado para um clima frio em pleno trópico, onde em princípio a ideia central é perder calor no verão mediante a ventilação natural e evitá-la no inverno, traduz-se em milhões de soles em perdas.

peru-corteOutro elemento de grande importância são os materiais de construção. Tomemos como exemplo o vidro temperado simples que é muito utilizado nos edifícios para recobrir ou formar o revestimento do projeto. Mas ele é sumamente delgado e não oferece isolamento do clima exterior, pelo qual é necessário incrementar a grossura do fechamento colocando duas lâminas de vidro separadas por uma capa de ar entre elas. Há também outros tipos de vidro que asseguram um melhor desempenho térmico, mais caros que os primeiros e de resultados nem sempre exitosos.

Em um dia de verão o ideal é que a temperatura do interior seja mais fresca que a do exterior. No entanto, o vidro ou o cristal simples farão exatamente o contrário, introduzirão o calor do exterior em forma de radiação infravermelha de ondas curtas, esquentando o ar e os objetos do espaço interno que, por sua vez, emitirão ondas longas que o vidro não permitirá expulsar. Assim, o calor ficará “preso” no interior, esquentando-o cada vez mais, o que se conhece como efeito estufa. O vidro não só aquecerá o espaço, mas também deixará passar toda a luz direta do sul por causa das mudanças bruscas de intensidade.

De noite quando o que queremos é um interior mais cálido que o exterior, outra vez o vidro fará o contrario. Se de dia impede que o calor do interior saia, de noite o expulsará o mais rápido possível fazendo com que a temperatura diminua cada vez mais.

Bibliografia

DAWKINS, Richard. “The Greatest Show on Earth, The Evidence for Evolution”. New York: FREEPRESS, 2009.

WIESER REY, Martin. “Geometría solar para arquitectos. Movimiento solar y herramientas de diseño”. Lima, 2006.

*Colaborador de Diálogos do Sul – Lima, Peru, fevereiro de 2014.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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