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Povo peruano volta a se unir contra regime de Boluarte em ato nacional neste 12 de outubro

São muitos os elementos que se acumularam nas últimas semanas e que deixam a atual mandatária crescentemente debilitada
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Costuma-se dizer – e é verdade – que não basta levantar uma causa justa para triunfar. É indispensável ter a força necessária para impor essa causa. E ocorre com frequência que as mais altas bandeiras não logram vencer adversários que, por uma ou outra razão – parecem mais poderosos. 

Quando os espanhóis lutavam contra a invasão dos Mouros, foram derrotados em diversos enfrentamentos. Naqueles tempos fizeram uma engenhosa quadrinha: “Vieram os Sarracenos/ e nos moeram completos/ porque Deus está com os maus/ quando são mais que os bons…”

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O tema aludia a uma correlação de forças concreta, que não podia ser alterada nem sequer pela vontade divina. Mas esse nem sempre é o caso. Nem tudo depende das cifras. Também dos recursos que manejam uns e outros adversários em uma certa contenda. Em outras palavras, milhares de povoadores inermes podem ser vencidos por escassos combatentes pré-munidos de recursos mais qualificados. 

A derrota e a captura de Atahualpa na Praça principal de Cajamarca nos inícios da conquista, constitui uma prova disso. Se IPSOS Apoyo tivesse existido naqueles anos e tivesse realizado uma de suas “enquetes” habituais, seguramente Pizarro teria visto longamente derrotadas suas ambições; mas isso não ocorreu. Ali, embora os bons fossem muitíssimos mais, ganharam os maus porque tinham arcabuzes

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Esta evocação vem ao caso porque nos próximos dias – mais precisamente nesta quinta-feira, 12 de outubro – o país será cenário de nova confrontação. Dezenas de milhares de peruanos sairão às ruas de todo o país para enfrentar o regime imposto em 7 de dezembro. 

Será um passo mais, em uma longa luta que deixa, nas terras do povo, quase 80 mortos e mais de mil feridos, enquanto nas filas do oficialismo, fica apenas a sombra do cinismo galopante e soberba envilecida.

São muitos os elementos que se acumularam nas últimas semanas, e que deixam o regime de Dina Boluarte crescentemente debilitado. Mas ela e seu companheiro político se aferram a seus cargos sem que lhes importe a vontade cidadã. E segundo disse Otárola na Convenção Mineira celebrada em Arequipa, “não lhes tremerá a mão” para seguir matando, se for preciso para continuar sobre o írrito poder que detêm. 

São muitos os elementos que se acumularam nas últimas semanas e que deixam a atual mandatária crescentemente debilitada

Twitter | Reprodução
Será um passo a mais na luta proposta, mas será também uma contenda decisiva




“Infarto do Miocárdio”?

Há temas que conspiram contra essa “vontade”. A morte do vice-presidente do Congresso é um deles. Todos os meios se empenharam em conhecer “a causa” do decesso. E ficaram satisfeitos com a resposta oficial; um “Infarto do Miocárdio”. 

Poucos se perguntaram, no entanto, qual foi a causa que provocou esse Infarto, razão pela qual nas redes se especulou abundantemente.

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O fato que os acompanhantes do extinto chegassem à Posta de La Punta de Bombom em estado etílico, arroja por certo algumas pistas. Se impõe uma investigação para colocar cada coisa em seu lugar. Finalmente, ao extinto, se poderá recriminar muito, mas o que ninguém vai perdoar é que deixe em seu lugar Fernando Rospigliosi.


Festa de aniversário

Também ocorre o caso da “Festa de Aniversário”, celebrada pela terceira Vice-presidenta do Congresso. Ela organizou o ágape que terminou em um complicado tiroteio protagonizado por elementos sem classe, e privou da vida a um modesto trabalhador. 

O caso tem seus bemóis, porque os responsáveis do fato estão ligados por partido à Congressista do baile e a Patricia Chirinos; e ambas, à máfia portenha que opera em Bellavista. Isso será investigado? 

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Não bastará sancionar à senhora Amuruz. Será necessário tocar as fibras dos grupos operativos que funcionam à sombra de certos Congressistas, e que agem protegidos pelo “Poder Parlamentar”, cada dia pior.


Futuro de Boluarte

Parecerá que, fugindo destes desaguisados, a senhora Dina busca ir-se do país desde 11 de outubro – assim não estará tampouco em Lima na quinta-feira, 12 – à procura de alcançar um suposto “reconhecimento internacional” que a ajude a esquecer o maiúsculo Papelão que fez na ONU e receber o Perdão do Vaticano. 

O Congresso lhe deu “licença” com 59 votos. A metade deles quis que ela fique fora; e ela mesma decretou “Emergência” no Cercado de Lima. O pânico a põe a correr.

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O Papa Francisco não é desatento. Viveu na Argentina dos anos de Videla e conhece as entranhas dos governos assassinos. Sabe das argúcias que usam para dissimular seus crimes. Se Dina busca sensibilizar a misericórdia e arrancar com prantos e orações indulgências e perdões, deveria saber que toca uma porta equivocada. Como bem diz Heduardo, o único que conseguirá é difamar a imagem do Papa.


Guatemala

Em outro país da América – Guatemala – ocorre um golpe em marcha, parecido ao que aqui derrubara Pedro Castillo. A Promotora da Nação na Terra do Quetzal busca impedir o acesso ao poder do Presidente recentemente eleito. Como quem repete uma cartilha peruana, alega “fraude” nas eleições, que foi perdida pela Classe Dominante desse país martirizado. E confiscou as urnas e as listas eleitorais para justificar seu impulso. 

Qualquer episódio parecido com o nosso é pura coincidência. Pelo contrário, aqui o Poder Judicial baixou a crista à Promotora de turno, que tem como paradigma a Blanca Nélida Colán. Nem a “suspensão” de Vela Barba, haverá de evitar que termine como ela.

Há aqueles que pensam que glorificando um Marino corresponsável pela Matança dos Penais – 1986 – vão embelezar a cara do fascismo. Não será fácil. Poucos estão dispostos a tragar isso. 

Por tudo o que ocorre, o povo haverá de expressar sua vontade neste 12 de outubro. Será um passo a mais na luta proposta, mas será também uma contenda decisiva.

Gustavo Espinoza M. | Colunista na Diálogos do Sul, direto de Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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