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Preso nos EUA, ex-secretário mexicano recebeu milhões de subornos do cartel de Sinaloa

“García Luna insiste que não está negociando com promotores e não apresenta declaração de bens durante audiência”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Genaro García Luna, ex-secretário de Segurança Pública do México, afirmou por meio de seu advogado que não está negociando seu caso com os promotores estadunidenses, e que declarou não ter recebido subornos de narcotraficantes, enquanto continuam os procedimentos para preparar seu eventual julgamento no Tribunal Federal do Distrito do Leste nesta cidade.

Ao comparecer por segunda vez em audiência de procedimento no tribunal federal em Nova York, García Luna entrou na sala em seu uniforme de réu e respondeu à saudação do juiz Brian Cogan, o mesmo que presidiu o julgamento de Joaquín El Chapo Guzmán Loera neste mesmo edifício no Brooklyn.

Na breve sessão de menos de 15 minutos para avaliar a preparação do possível julgamento, o juiz aceitou a solicitação de ambas partes e declarou este como “caso complexo” depois que a promotoria assinalou que requer levantar evidência sobre atividades ao longo de duas décadas, incluindo provas eletrônicas e em vários países. Esta designação permite ampliar o prazo antes de proceder ao julgamento. O juiz citou a próxima audiência para 2 de abril.

“García Luna insiste que não está negociando com promotores e não apresenta declaração de bens durante audiência”

Garcia Luna Oficial Twitter / Reprodução
Genaro García Luna, ex-secretário de Segurança Pública do México

O advogado de defesa de García Luna designado pelo tribunal, César de Castro, comentou a jornalistas ao concluir a sessão que seu cliente “não está negociando” com os promotores estadunidenses, mantém sua postura de inocente neste caso, e afirma que jamais recebeu qualquer suborno.

No entanto, como reportou La Jornada há algumas semanas, documentos oficiais registrados de maneira conjunta pelos advogados de defesa e o governo dos Estados Unidos ante o Tribunal Federal do Distrito Leste de Nova York confirmam que “estão sendo realizadas negociações para um acordo com o promotor, as quais creem que provavelmente resultará uma disposição deste caso sem um julgamento…” 

É comum que, em público os advogados defensores neguem que procedam negociações e a promotoria quase nunca comenta sobre um caso em curso. Essas negociações podem acontecer enquanto as partes se preparam para o julgamento e geralmente implicam na busca de um acordo em que o acusado aceita ser “testemunha cooperante” e recebe uma condenação reduzida em troca de sua cooperação com o Departamento de Justiça em outros casos.  

De Castro informou ante o juiz que García Luna ainda não pode elaborar uma declaração de bens para avaliar se pode contratar seu próprios advogados (de Castro está agora designado pelo tribunal para defender o acusado) nem para apresentar um proposta para a sua fiança. Argumentou que isto se deve, em parte, pelas condições em que seu cliente foi preso, que até 9 dias atrás estava em isolamento 23 horas por dia, com acesso quase nulo aos seus familiares e nenhuma comunicação telefônica ou eletrônica, e com acesso muito limitado ao seu advogado. 

E além do mais, informou que García Luna só ficou sabendo no domingo das medidas adotadas pelas autoridades no México para congelar seu acesso ao sistema financeiro mexicano, um obstáculo a mais para a avaliação de seus bens para pagar por sua defesa.

García Luna foi apresentado pela primeira vez, depois de sua detenção por agentes federais em 9 de dezembro no Texas, ante o tribunal no Brooklyn em 3 de janeiro, onde se declarou “inocente”. 

Segundo a acusação formal, os promotores federais estadunidenses afirmam que enquanto ocupava altos postos de governo de 2001 a 2012, García Luna recebeu “dezenas de milhões” de dólares em subornos do Cartel de Sinaloa em troca de outorgar proteção a suas atividades, incluindo o traslado de drogas, proporcionar informação sobre investigações do cartel por agências de segurança, como também sobre as atividades de cartéis rivais. 

Por ora, o acusado enfrenta penas potenciais entre um mínimo de 10 anos de prisão a um máximo de prisão perpétua pelas quatro acusações de conspiração de narcotráfico de cocaína e falsas declarações às autoridades. 

García Luna, de 51 anos de idade, vivia com sua família em Miami depois de ter obtido a residência permanente neste país até sua detenção no Texas e seu traslado a Nova York onde hoje se encontra encarcerado.

*David Brooks é correspondente de La Jornada em Nova York

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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