Um presidente Mauricio Macri com rosto franzido frente a uma vitória contundente da maior força da oposição, a Frente de Todos, deixou hoje nas primárias argentinas uma radiografia de outro modelo de país que está a caminho.
A resposta às políticas econômicas através de um plano de ajuste, que deixou o elo mais fraco da corrente duramente castigado, se fez sentir ontem nas conhecidas votações Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO), com 47,34% dos votos a favor da Frente presidida por Alberto Fernández, agora candidato presidencial, junto com a ex-mandatária Cristina Fernández como vice.
A dupla recebeu o apoio de uma ampla maioria em quase todas as províncias do país e deixou Macri com uma diferença de 15 pontos, quem garantiu sua candidatura às eleições gerais com 32,24%, um resultado que qualificou como inesperado depois de ficar sabendo que Juntos pela Mudança, sua proposta política, “teve uma má eleição”.
Analistas consideraram a derrota do oficialismo contundente, principalmente o resultado no principal território, a província de Buenos Aires, onde o pré-candidato ao governo pela Frente de Todos, Axel Kicillof, obteve 49,17% dos votos em comparação à atual governadora do partido da situação María Eugenia Vidal (32,76).
Prensa Latina
Primárias apontam para derrota de Macri em outubro
O melhor resultado de Juntos pela Mudança foi em algo que era quase uma voz cantada, a apuração na capital, onde a aliança dirigente exerce o poder há 12 anos e recebeu 46,29% dos votos para que em outubro saia em busca da reeleição o atual mandatário Horacio Rodríguez.
Ao todo seis duplas, das 10 em disputa, arrecadaram 1,5% dos votos necessários para as presidenciais, mas as duas forças que marcam e centram a vida política deste país protagonizaram o que se próxima nas eleições gerais, em que a Frente de Todos chegará muito fortalecida depois desta importante vitória.
Feliz e emocionado com os resultados, o agora candidato presidencial Alberto Fernández disse que a “Argentina está parindo outro país e hoje outra história começa a se escrever”, já sua acompanhante a vice, Cristina Fernández, destacou que a vitória é uma grande responsabilidade que temos para dar a tranquilidade absoluta aos argentinos de uma nova etapa por vir.
Não se viu balões amarelos, a cor que representa sua aliança, nem comemorações na sede partidária de Macri, que inesperadamente, em meio à inquietante espera devido a uma suposta queda do programa de apuração provisória de dados, quando os resultados ainda não tinham sido divulgados, saiu a falar na televisão.
“Dói minha alma que tantos argentinos achem que a alternativa é voltar ao passado”, argumentou depois de dizer que isso é algo que ninguém esperava e que todas as pesquisas tinham falhado. Precisamos continuar a mudança, a Argentina que sonhamos está no futuro não no passado, insistiu o mandatário, quem se mostrou otimista de reverter isto em outubro.
Questionado sobre como responderão hoje os mercados aos resultados eleitorais, depois de um dólar que vem desvalorizando a moeda nacional de maneira constante desde ano passado, Macri enfatizou que é responsabilidade de todos. E mais, a instabilidade é consequência do medo de uma volta ao passado, voltou a insistir.
Com qualificativos da imprensa argentina como “papelão” pela demora da apuração, divulgada uma hora e meia após o previsto e inclusive depois de Macri ter admitido a derrota de sua proposta sem que o público soubesse dos resultados, as eleições desenharam um mapa político definitivo para muitos.
Golpeado pelos resultados e com o rosto visivelmente batido, Macri convocou uma reunião de urgência de seu gabinete depois dos resultados das eleições, em que a força Consenso Federal, liderada pelo ex-ministro de Economia Roberto Lavagna se levantou como a terceira força com maior quantidade de votos, ainda que muito afastada (8,34%).
Segundo foi divulgado, do mesmo lugar onde falou à nação, Macri avaliou desde mudanças de nomes até ativar um comitê para que acompanhar de perto o impacto das eleições sobre os mercados.
Muitos especialistas consideram que esta primeira fase mostra uma Argentina que clama hoje por outro modelo de país, diferente do atual, onde caibam todos.
Terá que esperar então até 27 de outubro, data da última e definitiva prova de fogo para saber se esta nação decidirá dar uma voltada à porca confirmar o caminho traçado pelo Governo atual.
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