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“Se a gente quer retomar um projeto de soberania nacional, nós temos que dialogar com as Forças Armadas”.
José Eduardo Bernardes*
Jô Moraes esteve na reunião da Frente Brasil Popular, em SP; Roberto Amaral, ex-presidente do PSB também participou.
“Se a gente quer retomar um projeto nacional de soberania, nós temos que dialogar com as Forças Armadas”, disse a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG). A parlamentar participou na manhã desta segunda-feira (6), na cidade de São Paulo, da reunião nacional da Frente Brasil Popular, que debateu, entre outros temas, a questão da soberania nacional.
Segundo Moraes, é importante ficar atento às movimentações dos militares, já que, “a história brasileira mostra que eles se intrometem no processo político, principalmente do nosso lado, do campo progressista”, completa.
A fala da deputada faz referência à declaração do general da ativa Antonio Hamilton Mourão, que afirmou, em setembro desse ano, que não descarta uma tomada do poder como saída possível para a crise política brasileira.
Há, de acordo com a deputada, no entanto, uma concepção de legalidade nas Forças Armadas. “Eles disseram que só irão intervir se forem convocados por um dos três poderes”, disse.
Possíveis sanções ao general também foram discutidas, mas segundo Moraes, “a correlação de forças de agora não permitiu uma sanção ao Mourão”. Ela revela que houve uma reunião de militares, da reserva e da ativa, para abafar o caso.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Roberto Amaral, cientista político e ex-presidente do PSB, que também participou do encontro, disse que sempre existiu nas Forças Armadas brasileiras uma “preocupação moralista e anticomunista”, mas também, uma necessidade de conter uma “emergência das massas, que eles sempre entendem como anarquia ou agitação”.
Entreguismo
Amaral condenou a proximidade que as Forças Armadas brasileiras têm mantido com o Exército dos Estados Unidos. O cientista político lembra que dois pontos parecem críticos à soberania nacional: a cessão da Base de Alcântara, no estado do Maranhão, responsável por projetos aeroespaciais brasileiros; e a proposta de uma base temporária na tríplice fronteira amazônica, entre Brasil, Peru e Colômbia.
“Apesar de tudo, nós tínhamos no Brasil uma tradição de Forças Armadas nacionalistas. Hoje, nos assusta essas ações levadas a cabo pelos militares na nossa fronteira”, diz.
A Base de Alcântara está instalada com equipamentos para o lançamento de foguetes. Em setembro deste ano, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sérgio Amaral, disse que a proposta do governo brasileiro aos estadunidenses não foi para análise do Congresso Nacional por ser “um procedimento mais intrusivo do que o justificável para a proteção da propriedade intelectual, da informação e dos equipamentos, que são sensíveis e podem se prestar tanto para fins pacíficos como para fins militares”.
Amaral lembra que, assim como a Base de Alcântara, o projeto de uma base na tríplice fronteira amazônica também é feito em sigilo. “Ninguém sabe de absolutamente nada. Dizem que é para ajudas humanitária e é temporária. Mas isso pode significar qualquer coisa”, explica.
O cientista político aponta também que os leilões dos campos de pré-sal brasileiros, arrematados por empresas estadunidenses e da Europa, no final de outubro, são outra fonte de entreguismo que se tornou realidade no país: “O pré-sal brasileiro é a grande chance de um país alavancar seu crescimento. E nós estamos entregando esse bem aos estrangeiros”.
A proposta de privatização da Eletrobrás também é tema de preocupação para Amaral e para a Frente Brasil Popular. Segundo ele, “o Brasil tem um dos melhores sistemas de energia, por ser totalmente interligado”.
A reunião da Frente Brasil Popular também debateu os rumos da política brasileira, entre eles a luta contra a reforma trabalhista e paralisações que deverão acontecer ainda esta semana, para barrar a implementação da lei que retira direitos dos trabalhadores.
*Da Agência Brasil de Fato – Edição: Vanessa Martina Silva