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Protestos, alta de preços e enfraquecimento de Castillo: entenda atual situação do Peru

Governo está perdendo apoio entre seus aliados de esquerda e manifestações que pedem sua renúncia deixam governo ainda mais fraco diante da direita
Carlos Noriega
Página 12
Lima

Tradução:

O presidente peruano, Pedro Castillo, optou pela repressão diante dos protestos sociais e complicou ainda mais sua situação. Mais de onze milhões de peruanos acordaram, na última terça-feira (5), com um toque de recolher e uma lei de estado de emergência, o que significa que a polícia poderia entrar nas casas e fazer prisões sem um mandado, bem como eliminava uma série de direitos dos cidadãos.

O toque de recolher, anunciado por Castillo minutos antes da meia-noite de segunda-feira (4), estava em vigor das 2h às 23h59 de terça-feira. Entretanto, no final da tarde de ontem (5), diante das críticas de diferentes setores e protestos de rua contra estas medidas, Castillo anunciou no Congresso o levantamento do toque de recolher. Ele não se referiu ao estado de emergência.

Estado de emergência

Decretar um estado de emergência e impor um toque de recolher foi a resposta fracassada do governo aos protestos sociais contra o aumento dos preços, principalmente de combustível e alimentos, o que levou à violência, bloqueios de estradas e alguns saques. O efeito foi como jogar gasolina no fogo dos protestos sociais. 

Governo está perdendo apoio entre seus aliados de esquerda e manifestações que pedem sua renúncia deixam governo ainda mais fraco diante da direita

Flickr
Castillo teve sua imagem enfraquecida nos setores populares e perdeu apoio entre seus aliados de esquerda

Os atos de violência e pilhagem ocorreram na segunda-feira (4) em diferentes áreas do interior do país, mas foi decretado estado de emergência e toque de recolher para Lima e Callao, uma província portuária ligada territorialmente à capital peruana, onde não ocorreram atos de violência.

O governo justificou esta decisão alegando que tinha relatórios de inteligência indicando que atos de violência e saques estavam sendo preparados na capital para terça-feira (5). Ele não forneceu detalhes desses supostos relatórios.

Protestos anti-governo

Apesar do toque de recolher, milhares de pessoas foram para as ruas na terça-feira (5). Em bairros nobres e de classe média houve manifestações antigovernamentais, exigindo a renúncia de Castillo.

Os manifestantes foram até um quarteirão do Congresso, onde foram detidos por um cordão policial. Naquele momento, Castillo estava se reunindo ali com um grupo de legisladores. As forças de choque do Fujimorismo e outros grupos realizaram atos de violência e houve confrontos entre manifestantes e a polícia. Até o fechamento dessa matéria, os confrontos ainda aconteciam.

Leia mais: 30 anos após golpe sanguinário e corrupto, fujimorismo segue dando cartas no Peru

Até agora, as manifestações para exigir a renúncia de Castillo promovidas pelos apoiadores do golpe de direita haviam sido um fracasso devido à sua baixa participação, mas a declaração de estado de emergência e o toque de recolher se tornaram um catalisador que empurrou muitos para se juntarem às manifestações.

Nas áreas de baixa renda de Lima, duramente atingidas pela alta dos preços que desencadearam os protestos e levaram a esta crise, não houve mobilizações, mas a indignação cresceu com a imobilidade que afetou ainda mais seus precários recursos. Na terça-feira (5) à tarde, Castillo foi ao Congresso com alguns de seus ministros para se reunir com lideranças parlamentares e os porta-vozes das diferentes bancadas.

Ele justificou as questionadas medidas tomadas por seu governo, dizendo que elas eram para “proteger a população”. Mas minutos depois, recuou e anunciou que o toque de recolher seria levantado “a partir deste momento”.

A violência que havia tomado as ruas do centro de Lima não diminuiu após este anúncio. O Fujimorismo e o grupo ultraconservador Avanza País não participaram da reunião de congressistas com o presidente. Sua agenda exclusiva é o golpe de Estado parlamentar.

“Reprimir, criminalizar e restringir direitos”

A ex-candidata presidencial de esquerda Verónika Mendoza, importante aliada de Castillo, criticou duramente o rumo tomado pelo governo.

“O governo não apenas traiu as promessas de mudança para as quais o povo o elegeu, mas agora está repetindo o método de ‘resolução de conflitos’ da direita: ignorando aqueles que se mobilizam para expressar sua legítima insatisfação com a situação econômica e política, reprimindo, criminalizando e restringindo direitos. Eu rejeito totalmente esta medida arbitrária e desproporcional”, disse, questionando o estado de emergência e o toque de recolher. Os legisladores da esquerda, com exceção do partido governista Peru Livre, que têm apoiado o governo, se juntaram a esta crítica.

A direita, que antes exigiu e aplaudiu medidas repressivas para enfrentar os protestos sociais, estes sempre criminalizados por ela, agora diz apoiar a demanda popular, o que evidencia seu duplo discurso e seu interesse de utilizar a crise social e os erros do governo a seu favor.

Castillo teve sua imagem enfraquecida nos setores populares, perdeu o apoio entre seus aliados de esquerda e as mobilizações que pediram sua renúncia reuniram uma série de manifestantes que não haviam se mobilizado antes, deixando-o ainda mais fraco diante da investida da direita.

Tradução: Vanessa Martina Silva, da Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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