“Chegou a hora da verdade em Gotham City. E a saída é a porta principal. Cuidado! Todos estão dormindo em Gotham City. Cuidado!”.
“Não há mais festa, nem carnaval! Acho que fui enganado”.
Marcelo Nova com Camisa de Vênus
Em março de 2023, o então secretário-executivo na Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Marcos Renato Böttcher, entregou ao Tribunal de Contas paulista (TCE-SP) um relatório sobre “graves irregularidades” no programa Melhor Caminho, de construção de estradas rurais no interior do estado, ocorridas entre os anos de 2021 e 2022.
Segundo o documento, foram pagos cerca de R$ 200 milhões por obras que não foram concluídas. Outros R$ 300 milhões foram gastos, conforme a análise da gestão de Tarcísio Freitas (Republicanos), sem passar pelo protocolo de processos internos que garantem a qualidade das obras.
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Em alguns casos, transferências foram efetuadas às empresas contratadas sem que os despachos – em que os fiscais atestam a realização do serviço – fossem registrados no sistema eletrônico. Ao todo, 420 obras foram paralisadas, canceladas ou nem iniciadas.
Segundo as informações reveladas pelo Estadão, as irregularidades aconteceram nas gestões de João Doria e Rodrigo Garcia (PSDB), que não se manifestaram quando das revelações. À época, Itamar Borges e Francisco Matturro atuavam, respectivamente, como secretário e secretário executivo de Agricultura e Abastecimento de SP.
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Como se diz no futebol, “em time que está ganhando não se mexe”. Para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não faltam motivos para preservar o ‘longevo’ trabalho tucano nas obras viárias. Em 28 de agosto de 2023, conforme publicado no Diário Oficial de São Paulo, Marcos Renato Bottcher, responsável pelo dossiê, foi exonerado do governo. Segundo o governo paulista, a cabeça do número 2 da Agricultura foi posta a prêmio por baixo desemprenho na pasta.
Para entender a decisão do Palácio dos Bandeirantes, procuramos o deputado estadual Barroz Munhoz (PSDB), atual presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).
Munhoz poderia ser um dos donos do Cartório Oficial de Reconhecimento de Firma do Governo de SP. Emedebista desde o século passado, acabou se acomodando no ninho da tucanagem – que caiu tão ao gosto do eleitorado quatro-centão. Sangue quente, costumava se inflamar não só no plenário, quanto em seus espaçosos gabinetes de trabalho na casa. Aliás, a maioria dos repórteres se referia a ele como “Berros Munhoz”. Hoje, quem ouve hoje o agora tucano responder críticas ou perguntas incômodas do reportariado pode até pensar que se trata do irmão mais novo do velho Munhoz, tamanha a calma.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Tarcísio de Freitas exonerou secretário que entregou relatório sobre irregularidades no programa Melhor Caminho
Confira a entrevista
Amaro Augusto Dornelles – Quer dizer que a melhor forma de acabar com a corrupção no Programa Melhor Caminho é demitir o vice-secretário autor da denúncia?
Barros Munhoz – Hoje de manhã eu estava no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para atender o prefeito. Ele teve de refazer o projeto, entregue errado para ele. Recomendações erradas, sabe. Isso aí para ele é vital. Para mim também é. Afinal, meu mandato é deles. Afinal, são quem me elege. O trabalho no DER está cada dia melhor. Nas áreas do fenômeno chamado Natália Rezende (secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística): é um fenômeno essa mulher, nunca conheci uma secretária com a capacidade que ela tem.
Então posso entender que o “Melhor Caminho” da secretaria é esse?
Isso eu nem sei.
José Antônio Barros Munhoz (PSDB) formou-se em 1967 pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo e atuou como advogado até 1975. Foi prefeito de Itapira por três mandatos: em 1977, 1997 e 2004. Também foi deputado estadual por duas legislaturas consecutivas, com início em 1987 e em 1991. Presidiu a Comissão de Sistematização da Constituinte Paulista, em 1989. Atuou como secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo de 1991 a 1993, e como ministro da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária do Brasil, no governo Itamar Franco. Em 1994, foi candidato a governador do Estado de São Paulo. Exerceu o cargo de subprefeito de Santo Amaro, na cidade de São Paulo, de 2005 a 2006. Foi eleito para o seu terceiro mandato como deputado estadual em 2006, sendo conduzido pelo então governador José Serra à função de líder do Governo no Parlamento paulista. Em 15 de março de 2009 foi eleito presidente da Assembleia. Foi reeleito com 183.859 votos para exercer o seu quarto mandato de deputado estadual em 3 de outubro de 2010.
A vocação política de Barros Munhoz despontou desde cedo. Cresceu participando dos embates políticos de seu pai, Caetano Munhoz, prefeito de Itapira por dois mandatos. Além disso, seu avô materno também foi prefeito de Limeira. Apesar de ter base eleitoral distribuída prioritariamente nas regiões baixa, média e alta Mogianas – no Circuito das Águas e nas zonas sul e leste de SP, nesta última eleição Barros Munhoz obteve votos em 575 municípios paulistas.
Com sua longa vivência política, acredita que o governo Tarcísio Souza esteja correspondendo à votação dos quatrocentões?
Anota aí: na população, temos o melhor governador da história de São Paulo, é só ver os resultados das pesquisas de opinião.
O senhor acha mesmo?
Eu não acho, eu sei. Convivo com a população. E qualquer pesquisa está dizendo isso. Na opinião pública está disparadamente a frente de qualquer outro governador que São Paulo já teve.
Deputado, o avanço da tecnologia permite recriar imagens e áudios, à vontade, a partir de gravações. Disparam notícia fria a torto e a direito, 25 horas por dia. Deu até para eleger Bolsonaro. (O experimentado político – ao melhor estilo Ulisses Guimarães – responde outro assunto):
Os membros do PSDB estão querendo sair (da bancada estadual). Só não tem saído quem tem quarentena para cumprir. O PSDB foi um grande partido. Mas foi sendo destroçado aos poucos. E isso aconteceu de maneira mais rápida, agora. No último governo paulista, o João Dória foi catastrófico. Politicamente ele foi uma catástrofe. E sobrou o que sobrou aí, 13 deputados federais. O partido já está quase acabando.
Estão migrando para o RS. Já falam em Tucanistão Gaúcho...
Risos
Desculpa o repeteco: o senhor crê que esse seja o Caminho Certo?
Ainda é prematuro falar nesse assunto. É muito cedo, ainda vai correr muita água de baixo da ponte.
Amaro Augusto Dornelles | Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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