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PT: Da luta de classe à batalha pelo poder

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Wilker Cerqueira*

PT 35 anosA história do Partido dos Trabalhadores – PT se entrelaça diretamente com a formação da democracia brasileira, as conquistas republicanas e também as sociais.

O PT surgiu nos últimos suspiros da ditadura militar de outros tempos, estando o Brasil nesse momento vinculado a uma vida partidária muito recente e perturbada, de tal maneira que o partido ganhou protagonismo rapidamente no jogo político nacional por sua forte relação com movimentos sociais, junto ao novo modelo sindicalista e absorvendo dos artistas aos intelectuais da esquerda.

Foi um longo período de disputas e intensas mobilizações da população brasileira para que o partido chegasse ao poder, ocorrendo apenas em 2003, trazendo esperança, perspectiva de crescimento e a ascensão social tão desejada por um longo período.

Sem dúvida nenhuma foi o partido político que melhor soube, com seu caráter combativo, conquistar as massas e, especialmente, a juventude, justamente aqueles que são mais sensíveis quando se trata das causas sociais e a busca de um país mais ético.

O PT foi o único partido reconhecidamente de esquerda que chegou ao poder no Brasil, conquistando inegáveis avanços sociais, econômicos e de bem-estar. No entanto, ele decepcionou e achincalhou com os princípios básicos do socialismo real. Podemos creditar parte dessa agenda conservadora e radical que se instalou no país ao fracasso daquele que poderia ter sido o poder voltado para o povo.

O governo petista optou por escolher o empoderamento econômico, afastando a ideia de uma nova estrutura política. É importante ressaltar que as medidas não levam a uma “nova sociedade”, tendo apenas buscado apenas reformar de maneira extremamente simples o capitalismo caracterizado.

Com raras exceções, esse pensamento político limitou-se a alterar a distribuição da renda da classe trabalhadora, sem mudanças reais na distribuição funcional da renda ou na base estruturante na formação do sujeito, com o propósito de manutenção de sua ascensão e crescimento do país.

Este cidadão que ascendeu economicamente é justamente o mais afetado nestes momentos da dita crise em que o Brasil se encontra. Tal sujeito percebe, hoje, que está perdendo o acesso ao consumo e por isso destila ódio ao PT, uma vez que todas as suas conquistas foram voláteis. A inclusão estimulada pelo consumo foi irresponsável – observando pela percepção econômica – e populista, tendo, então, gerado este resultado desastroso, seja para o partido ou a nação.

As diferenças de educação e competência técnica, ou organizacional, entre os cidadãos continuam demasiadamente grandes, nos colocando na lista dos países mais desiguais do mundo, mesmo após os longos anos de um governo de “esquerda”.

A falha da esquerda no poder ocorreu por diversos motivos, faltando primordialmente o espírito republicano, habilidade política, democracia participativa e coerência com os princípios ideológicos de suas bases. Seu resultado caracterizou alianças escusas, além de irresponsabilidade política e econômica.

O partido se ajustou às disputas meramente eleitorais, buscando a permanência no poder. Assim, a população e os interesses para com a nação ocuparam menores posições de importância no projeto de sua manutenção.

É inegável que o PT se ergueu com o apoio do povo, mas deixou de lado muitos outros fatores importantes, sendo um dos responsáveis diretos por todas as tentativas de golpe para a retirada da presidente Dilma Rousseff do poder, assim como os ataques que ocorrem diariamente.

Todos os militantes da esquerda investem na construção de uma nova alternativa real de governo para um país capitalista de desenvolvimento médio e com inúmeras possibilidades pela frente.

O Partido dos Trabalhadores já não faz mais parte de um projeto de esquerda. Seu real interesse é a manter o poder que controlou nos últimos anos. Aquele partido que era o diferencial se fechou em uma redoma com todas as melhorias sociais ocorridas, tornando-se agora o alvo daqueles que buscam alternativas para seus interesses pessoais, sendo diretamente responsável pela ausência de articulações políticas que permitiriam ao Congresso Nacional preservar o interesse da sociedade brasileira.

Compreender a atual situação política criada pelo Partido dos Trabalhadores não afasta a responsabilidade de todos os outros partidos, em conjunto com a mídia, tendo interesse na instabilidade que permanece atualmente.

Desde as eleições presidenciais, em 2014, o país foi polarizado em dois lados completamente distintos, não tendo se recuperado até o presente momento da disputa eleitoral, fenômeno que se perpetuará durante muitos anos e que justifica o crescimento de todo o fascismo, preconceito, ódio e violência injustificados veiculados todos os dias pelos meios de comunicação.

*Ativista de direitos humanos e investigador na Universidade Federal do Amazonas. Publicado juntamente com Cristiano Vasconcelos, assessor na Câmara dos Deputados e analista político.

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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