A Rússia necessita que se estabilize a situação na Bielorrússia e, dado que o presidente Aleksandr Lukashenko não está disposto a se demitir, tem que levar a cabo o quanto antes uma reforma constitucional e celebrar eleições presidenciais antecipadas.
Tudo indica que, palavras mais, palavras menos, esta é a mensagem do Kremlin que levou a Minsk o chanceler russo Serguei Lavrov, que nesta quinta-feira se reuniu com Lukashenko, na véspera de um novo fim de semana que, com toda a segurança, será palco das enésimas manifestações de protesto, multitudinárias e pacíficas, contra o governante.
A Rússia adota para a Bielorrússia uma posição dual: por um lado, outorga reconhecimento oficial a Lukashenko como presidente legítimo e lhe oferece aberto apoio mediante visitas como a de Lavrov –que são acompanhadas de frases como “vontade de fortalecer a aliança estratégica” ou “aprofundar os processos de integração” – e as precedentes do primeiro ministro, Mijail Mishustin, ou do ministro de Defesa, Serguei Shoigu.
E por outro, exerce uma crescente pressão intramuros para que Lukashenko convoque novas eleições presidenciais – sob o louvável pretexto da reforma da Carta Magna– e desse modo poder virar a página da atual crise.
O balanço dos primeiros 100 dias após a questionada e sexta reeleição de Lukashenko deixou um saldo de descontentamento massivo e brutal repressão que preocupa Moscou na medida em que concebe a Bielorrússia como uma espécie de amortecedor entre a Rússia e um entorno hostil formado pela Letônia, Lituânia e Polônia, membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte, assim como a Ucrânia que passou de república eslava fraterna a inimigo irreconciliável pela perda da Criméia e do conflito armado no leste deste país.
Andrei Nikerichev / Moskva News Agency
Rússia necessita que se estabilize a situação na Bielorrússia.
Uma eventual demissão forçada de Lukashenko –encarcerados os políticos pró russos como Viktor Barbariko ou exilados como Valeri Tsepkalo, que poderiam satisfazer o Kremlin–, encerra o risco de que a Bielorrússia dê uma virada para o Ocidente e tenha, como a próxima Moldávia, um governante que se fixe como meta distanciar-se da Rússia.
Mas é consciente de que tampouco se pode manter por muito tempo mais a presente instabilidade na Bielorrússia e, na opinião de Moscou, Lukashenko deve mover a ficha para ficar de lado e salvar a cara, se isto ainda fosse possível ante seus compatriotas.
Quando visitou durante quatro horas em 19 de setembro anterior em Sochi, na costa do mar Negro ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, Lukashenko prometeu impulsionar emendas à Constituição para redistribuir as faculdades que agora concentra o chefe do Executivo e que convertem sua gestão em autoritária.
Recebeu de Putin –em parte para isso – respaldo verbal e um crédito de um bilhão e quinhentos milhões de dólares, que até agora só tem servido para pagar os altos salários do aparelho repressivo (unidades anti distúrbios, polícia, exército) e repartir o resto entre as principais empresas do setor público.
Não seria a primeira vez que Lukashenko promete algo ao Kremlin e não cumpre. No momento está tardando em lançar essa reforma constitucional e no sábado e domingo desta semana milhares de bielorrussos voltarão a sair à rua para exigir sua demissão, apesar de que haverá centenas de detenções, surras e multas.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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