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Quanto custa? Trabalho escravo é o preço do barateamento das roupas de grife

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

“Se quisermos que pessoas que fazem nossas roupas sejam tratadas de forma justa, devemos pagar mais”, diz designer.

Por Giovanna Dagnino e Letícia Marques (*)

Criado na Europa e consolidado nos Estados Unidos, o chamado fast fashion inaugurou, no mundo da moda, um modelo de comercialização de roupas que abastece o mercado com novidades de forma rápida e barata como nunca antes. Essa lógica demanda o emprego de mão de obra barata, mas nem sempre legal.

Países com direitos trabalhistas garantidos e com grande consumo de moda, como os EUA, não são a melhor opção para garantir os custos de produção extremamente baixos e o lucro das grandes empresas. De acordo com o documentário “True Cost” (Andrew Morgan e Michael Ross, 2015, França), apenas 3% das roupas vendidas nos EUA são fabricadas em solo estadunidense.

Veja o trailer:

Esses sãos alguns motivos pelos quais existem hoje aproximadamente 21 milhões de pessoas pelo mundo que são vítimas do trabalho forçado e trabalho escravo. Elas geram cerca de US$ 150 bilhões à economia privada, de acordo com dados da ONG “Know the Chain”.

Grandes companhias estadunidenses da indústria da moda, como Skechers e Apparel Group, foram ranqueadas de A a F pela ONG “Free2Work”, em relatório que levantou a política das empresas sobre os direitos e condições laborais. Quase nenhuma das companhias obteve 100% de aprovação no estudo.

“O valor e a conveniência são os padrões de ouro do consumo norte-americano. É caro fabricar na América do Norte, o que torna mais conveniente produzir roupas em outros lugares”, é o que diz o artista multidisciplinar e designer cubano, Henry Navarro.

De fato, a terceirização foi a maneira encontrada pelas grandes empresas para baratear os custos de produção e apontar a responsabilidade da fiscalização de seus recursos humanos para outro ponto.

Foi assim com a famosa marca espanhola Zara e com a estadunidense GAP. Quando questionada, em entrevista para o site brasileiro Steal the Look em relação às acusações feitas por exploração, a Zara alegou que isto aconteceu com empresas terceirizadas e que a fiscalização deve começar com o governo de cada país.

Responsabilização

Henry Navarro, design cubano
Henry Navarro, design cubano

Para Navarro, empresas globais sempre farão de tudo para aumentar o lucro, a não ser que sejam pressionadas por partes interessadas ou consumidores. “Mão de obra barata oferecida por empresas que a terceiriza é uma das maneiras mais fáceis e, de certa forma, invisíveis de manter os baixos custos”, comenta.

Hoje, muitos não se interessam mais por apenas se vestir: é preciso estar na moda. Por isso, empresas, principalmente grandes lojas de departamento, procuram levar aos consumidores produtos que imitam a alta costura, porém a preços bem mais baixos.

Navarro considera ainda que o consumidor deve escolher um lado: “Se quisermos que as pessoas que fazem nossas roupas sejam tratadas de forma justa [com base em nossos padrões], devemos pagar mais por produtos de moda e devemos responsabilizar as empresas pelo tratamento dado aos trabalhadores”.

Ainda de acordo com o relatório da ONG “Free 2 Work”, grandes nomes da moda têm as piores condições de trabalho na produção e confecção das peças de roupas — independentemente de serem terceirizadas ou não —, como é o caso dos grupos estadunidenses Quicksilver, dono das marcas Quicksilver, Roxy e DC; Skechers USA, dono da Skechers, e o The PAS Group, dono da Equus e Yvonne Black.

Essas foram as empresas com o total de notas mais baixas do relatório. Ainda assim, outros grupos grandes e famosos como Abercrombie & Fitch, dono da marca Abercrombie & Fitch e o grupo GAP Inc., dono das marcas Banana Republic; Old Navy e GAP, obtiveram notas baixas na categoria de direitos dos trabalhadores.

Escravidão moderna

A escravidão moderna é diferente da tradicional, ela é definida como a posse ou o controle de uma pessoa privada de seus direitos com a intenção de exploração. Segundo Henry, uma pessoa pode ser escravizada indefinidamente e por tempo ilimitado (para pagar uma dívida, por exemplo) ou explorada no trabalho de tal forma que pode ser considerada escravidão.

(*) Produzido para o Diálogos do Sul, em parceria por alunas da U. P. Mackenzie. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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