Beatriz Dias, Joacine Moreira, e Romualda Fernandes são três mulheres afrodescendentes eleitas para o parlamento português no dia 6 de outubro. Todas são de origem guineense e foram eleitas pelos partidos Partido Livre, Bloco de Esquerda (BE) e Partido Socialista (PS), sendo estes dois últimos integrantes daquilo que se chamou geringonça no Governo antes das presentes eleições.
O Partido Socialista do atual Primeiro-Ministro António Costa venceu com folga as eleições legislativas, obtendo 37% dos votos, contra 27% do Partido Social-Democrata, principal sigla da oposição. Ainda assim, o partido deverá estabelecer novas alianças para constituir governo.
O Jornal Público deu um longo destaque sobre o percurso de Joacine Katar Moreira até chegar ao Parlamento:
“Quando era pequena, Joacine Katar Moreira era conhecida como “la chica ente” porque, diz a própria, era tudo o que acabava em “ente”: impertinente, insolente, inconsequente.
Joacine conta que gostava muito de ir à escola, mas, quando chegou a Portugal, foi colocada de novo no segundo ano porque era o que se fazia habitualmente às crianças de origem africana. Esta contrariedade motivou-a a esforçar-se nos estudos, o que não a impedia de passar “o tempo todo a questionar tudo”.
Acabou por entrar na universidade. Para pagar a licenciatura trabalhou em supermercados e em hotéis. Licenciou-se em História Moderna e Contemporânea, tirou um mestrado em Estudos do Desenvolvimento e doutorou-se em Estudos Africanos no ISCTE, onde é investigadora do Centro de Estudos Internacionais”.
A deputada tem usado o seu Twitter para divulgar as propostas que pretende levar ao parlamento, sendo entre outras o combate à violência doméstica e a defesa da saúde mental:
O LIVRE defenderá nesta legislatura o investimento na saúde mental e psicólogos nos centros de saúde. A doença mental não pode ser descurada no serviço público. Precisamos de combater as taxas de suicídio que têm afectado muito os jovens rapazes e apoiar as famílias e cuidadores. pic.twitter.com/FRmabeBFAL
— Joacine Katar-Moreira (@KatarMoreira) 10 de outubro de 2019
Twitter / Reprodução
Beatriz Dias, Joacine Moreira, e Romualda Fernandes
O Jornal Sábado traçou o perfil das outras duas deputadas:
Romualda Fernandes nasceu na Guiné-Bissau há 65 anos e é jurista, especialista em Direito Internacional aplicado às Nacionalidades, Condição de Estrangeiros e Direito Humanitário. Foi assessora em vários departamentos governamentais e é militante do PS há mais de 20 anos. Foi a penúltima deputada eleita pelos socialistas pelo círculo eleitoral de Lisboa, ocupando o 19.º lugar da lista do PS. (…)
Beatriz Gomes Dias, de 48 anos, nasceu em Dacar, no Senegal, oriunda de uma família guineense. Formada em Biologia, foi professora do ensino secundário e é aluna do mestrado de Comunicação de Ciência na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Várias foram as pessoas que destacaram a eleição das três mulheres, entre elas Miguel de Barros, pesquisador e ativista da Guiné-Bissau:
Histórico! Eleitas pela primeira vez em #Portugal #mulheres #negras para o #parlamento, sendo 3 de uma assentada e todas originárias e/ou descendentes da #GuinéBissau: Beatriz Dias (Pedagoga/BE), Joacine Moreira (Historiadora/Livre) e Romualda Fernandes (Jurista/PS)! Fabuloso
No mesmo diapasão reagiu Sidney Cerqueira, natural e residente em Guiné-Bissau:
Três mulheres NEGRAS foram eleitas para o Parlamento Português. Sim, NEGRAS, e são todas do meu país, Guiné-Bissau. Tenho dito e volto a dizer, a pátria de Cabral está num ponto de viragem. Chegou aquele momento de virarmos a página e fecharmos definitivamente este ciclo vergonhoso de pós independência.
Estamos a um passo de nos libertarmos das garras dos traficantes, incompetentes, bandidos, corruptos e inimigos da nossa GRANDE NAÇÃO. Por isso, convém escolhermos bem o nosso caminho e a quem estendemos a mão… Viva nó DEPUTADAS!
ORGULHO PASSANTA NA MINHA PITO, MINDJERIS BALENTIS!!
Joacine Katar Moreira acabou se envolvendo em uma polêmica após a divulgação dos resultados. Ela aparecera a comemorar a vitória envolta de uma bandeira da Guiné-Bissau, o que motivou a divulgação de uma petição contra ela. Na mesma pode ler-se:
Não se percebe por que a recente eleita senhora deputada Joacine Katar Moreira, de forma direta, deixou que nos festejos da sua eleição fosse exibida a bandeira da Guiné-Bissau.
O Art. 12º [da Constituição da República Portuguesa] na primeira alínea refere que: ‘Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição’. Ora, o comportamento da suposta cidadã, Joacine Katar Moreira, fica novamente em causa por se verificar um comportamento antipatriótico com o ato descrito anteriormente
Joacine Katar Moreira reagiu no Twitter:
Gente que de repente sonha com a minha desistência do cargo de deputada a quatro dias depois das eleições, acreditando que infernizando a minha vida, não contribuindo em nada e minando tudo, ou então assinando petições, escutem: isto sempre foi uma guerra para pessoas como eu.
— Joacine Katar-Moreira (@KatarMoreira) 10 de outubro de 2019
* Dércio Tsandzana
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