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Projeto de poder dos militares é anterior a Bolsonaro e vai sobreviver a ele: entrevista com Piero Leirner

“Um papel [dos militares] é o de fornecer de mão de obra e de suporte para esta colonização militar”. Já o outro “é o de dispositivo ideológico de suporte a este projeto"
Ricardo Machado
Revista IHU On-line
Porto Alegre (RS)

Tradução:

Nesta semana, a República trepidou. Tudo em decorrência das denúncias e ameaças do deputado Luis Miranda (DEM-DF) que, com seu “fogo amigo”, disse que poderia “derrubar a República”. Mesmo sendo aliado, denunciou supostas irregularidades identificadas no processo de importação para uso emergencial no país da Covaxin, vacina indiana contra a Covid-19, pelo governo de Jair Bolsonaro

Os mais apressados têm dito que essa pode ser a pá de cal no governo. O professor e pesquisador Piero Leirner até reconhece que pode ser a derrocada de Bolsonaro, mas ainda assim vai com cautela. “O ‘projeto Bolsonaro’ é finito, e serve tão e somente para consolidar este ‘reboot’ ou ‘reinicialização’ do Estado”, adverte, em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Leirner explica que há em curso um projeto de reconfiguração do Estado que tem como os principais artífices as Forças Armadas. “Precisamos ver isto como um processo que começou antes do governo Bolsonaro, mas que talvez tenha se delineado melhor a partir de um ‘projeto Bolsonaro’ – que é a materialização de um projeto deles”, analisa. 

Assim, “abrem-se várias frentes nesse front geral onde eles vão criando vários níveis de controle de informação e de fluxos de recursos, a partir do Executivo mas também em direção aos outros poderes”. Ou seja, esse Estado passaria a ser conduzido e, claro, controlado pelos militares. É o que o professor chama de “centro de gravidade de sua cadeia de comando e controle”, ou “a central”.

Embora isso possa “ter cheiro” do Golpe de 1964, o professor indica que é algo mais sofisticado e que teria um início mais consistente no próprio governo de Dilma Rousseff. “Note que o ‘desembarque’ já tem um precedente, que foi a maciça saída de militares de cargos no governo Dilma em fins de 2014 e começo de 2015, logo após a reeleição (coincidindo, portanto, com o começo da campanha de Bolsonaro nos quartéis)”, recorda. Isso tudo ainda teria sido estimulado “pelo rebaixamento do GSI à condição de Secretaria e a demissão do general Jorge Ernesto Pinto Fraxe do Dnit” no governo petista.

Ao longo da entrevista, Leirner situa dois grandes papéis dos militares no atual governo. “Um papel é o de dispositivo de fornecimento de mão de obra e de suporte para esta colonização militar, mesmo que não seja clara a conexão com a Instituição Forças Armadas”. Já o outro “é o de dispositivo ideológico de suporte a este projeto, no sentido de se colocar como barreira de contenção às ameaças à ‘normalidade institucional’, que se constitui numa fachada imprescindível para esta nova forma do Estado que é uma espécie de ‘Pentágono Tabajara’”.

Apesar de exercerem papéis neste governo, o professor insiste que esses papéis são para movimentar um projeto que é maior do que o próprio governo. O que não quer dizer que não possa haver fissuras e, nesse caso, que o atual governo seja abandonado em nome do projeto maior. “Há um ‘ativo’ ideológico suficientemente radioativo para provocar essa fissão: a ‘corrupção’. Isto por dois motivos: o primeiro é bastante óbvio, pois foram anos construindo um imaginário sobre este ‘problema’. O terreno para isto já está preparado, pois há meses que a imprensa está ventilando que Bolsonaro é uma espécie de ‘PT’ com sinal trocado. O segundo motivo é porque este ativo não só intoxica Bolsonaro como alavanca a ‘3ª viapurificadora, e que dê conta de neutralizar tanto Bolsonaro quanto o PT. Não preciso dizer em quem eles estão pensando né?”, analisa.

Piero de Camargo Leirner possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo – USP, mestrado em Ciência Social e doutorado em Antropologia Social pela mesma instituição. Atualmente é professor titular da Universidade Federal de São Carlos. Suas pesquisas são na área de Antropologia, com ênfase em antropologia da guerra e em sistemas hierárquicos. Entre suas publicações, destacamos O Brasil no espectro de uma guerra híbrida. Militares, operações psicológicas e política em uma perspectiva etnográfica (São Paulo: Alameda, 2020) e Meia-Volta, Volver: um estudo antropológico sobre a hierarquia militar (Rio de Janeiro: FGV, 1997).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual tem sido o papel das Forças Armadas no governo Bolsonaro?

Piero Leirner – Devemos ver como “os papéis”, e não o papel, no singular. E precisamos ver isto como um processo que começou antes do governo Bolsonaro, mas que talvez tenha se delineado melhor a partir de um “projeto Bolsonaro” – que é a materialização de um projeto deles.

Então o que são esses papéis? São o resultado de um dispositivo de fragmentação das suas ações em colunas de um front, onde a ideia é estabelecer uma nova concepção de Estado – não de governo. Abrem-se várias frentes nesse front geral onde eles vão criando vários níveis de controle de informação e de fluxos de recursos, a partir do Executivo mas também em direção aos outros poderes, de modo a chegar ao ponto que todo Estado esteja monitorado (e controlado) pelo centro de gravidade de sua cadeia de comando e controle (que vou chamar aqui de “central”).

Para que isto ocorra é essencial que eles estejam ocultos enquanto central, apesar de visíveis em papéis não muito claros, às vezes contraditórios e difusos. De modo que mesmo nas situações em que claramente temos militares amarrando os órgãos e instituições a esse dispositivo, eles pareçam contingentes e apareçam como puramente pessoais e voluntaristas, como por exemplo nos cargos que eles ocupam nos Ministérios. Então, um papel é o de dispositivo de fornecime nto de mão de obra e de suporte para esta colonização militar, mesmo que não seja clara a conexão com a Instituição Forças Armadas.

O outro papel é o de dispositivo ideológico de suporte a este projeto, no sentido de se colocar como barreira de contenção às ameaças à “normalidade institucional” (aí sim eles procuram entrar como “Instituição”, clara e visível), que se constitui numa fachada imprescindível para esta nova forma do Estado que é uma espécie de “Pentágono Tabajara“. Por isso mesmo elas vão sempre se afirmar como independentes de seus “proxies” ou “procuradores”, sejam eles os militares que ocupam cargos, seja o próprio Bolsonaro.

Em uma entrevista ao Brasil de Fato, reproduzida pelo IHU, o senhor afirmou que Bolsonaro é o “testa de ferro do projeto político dos militares”. O que isso significa?

Significa que ele tem um papel a cumprir, e este papel não é determinado por ele. No entanto, este papel, por incrível que pareça, é o “dele mesmo” – um agente incendiário, que vai funcionar nos momentos-chave como um fusível que servirá de biombo para que não se enxergue o que ocorre do outro lado. Por isto mesmo ele desempenha tão bem, não precisa ter gente soprando no ouvido dele 24 horas por dia.

Para que o processo que descrevi acima se torne completamente operacional, a parte mais importante é camuflar o real sentido de quem faz o que, ou seja, de que Bolsonaro é apenas um testa de ferro; por isso é preciso dar cores à imagem de que ele é um “radical-livre” atuando em um organismo e provocando sua desestabilização. Isso vai ser produzido em todas as direções, inclusive na própria direção das Forças Armadas, quando tratam de fazer parecer que o sentido do poder parta de Bolsonaro e chegue até eles, e não o contrário. Por isso, quanto mais se passar a imagem de um projeto de ditador inconsequente, mais eficaz. Mas tenha-se em mente que o projeto deles é anterior e se pretende posterior a Bolsonaro.

 

 

Os “militares” não são, por óbvio, um conjunto homogêneo, inclusive por razões institucionais: existem os militares das Forças Armadas e os militares das polícias. Que diferenças e semelhanças há entre uns e outros?

Minha hipótese trata de um processo arquitetado por militares que estiveram – e estão – na cabeça de comando das Forças Armadas, especialmente do Exército. Quem pensou e tocou este projeto foi uma “central” ou consórcio de generais, que acionaram por anos vários dispositivos ideológicos e organizacionais para envolver a cadeia de comando como um todo. De certa forma, diria que a maior parte das Forças Armadas está à mercê dessa central de comando e controle e faz isso com base nos dispositivos próprios do mundo militar: hierarquia, disciplina, exemplo, laços de camaradagem e de turma, sociabilidade e ideologia.

Sendo assim, a maior parte dos militares sequer têm ideia de que está arrastada nesse processo, simplesmente se tornaram parte dele. As polícias idem, e numa situação ainda mais peculiar, pois elas geralmente tentam mimetizar as Forças Armadas, mas estão bem longe de compartilhar uma posição estratégica no centro de comando e controle. Em certo sentido isso convém à central, pois acaba por imprimir o “problema” a essas forças auxiliares e aos indivíduos entre seus quadros que estão “bolsonarizados”, e assim mais uma vez se apaga a digital dos construtores desse dispositivo, que, diga-se de passagem, jamais prescindiu da estrutura como um todo da instituição militar.

Nesse sentido, podemos afirmar que há uma adesão maior ao ideário do bolsonarismo por parte dos policiais militares?

Realmente não sei se é maior, menor ou igual. E tanto faz, não existe “meio bolsonarismo“. Aliás, se você seguir à risca o que estou colocando vai ver que o “bolsonarismo” é um fantasma, uma imagem que se tornou hipostasiada. Nada mais conveniente, pois essa adesão é um mecanismo de controle ideológico. E não somente ideológico, pois também é cognitivo: pode ter certeza que o setor mais monitorado de toda sociedade é a própria caserna.

 

 

Como o senhor compreende e formula a noção de “guerra híbrida”, tema de seu livro O Brasil no espectro de uma guerra híbrida: Militares, operações psicológicas e política em uma perspectiva etnográfica?

Essa é uma questão que posso responder de forma muito complicada ou de forma muito simples, e vou optar aqui pela segunda. A noção – que surgiu de um conceito – visa entender os processos de guerra como um estado permanente (e não mais transitório, isto é, que se define como “aquela” ou “esta” guerra), e que funde a guerra à política, o tempo de guerra à paz, o civil ao militar, o legal ao ilegal, o estatal ao não estatal. Ela se coloca como abrangente em termos de um “espectro total”, isto é, infiltrada em todas as áreas da vida social que puder: na política, no direito, nas comunicações, na economia e, obviamente, na segurança e defesa (mesmo aquela preparada de forma “convencional”). Para isso é preciso estabelecer mecanismos muito potentes de afetação da cognição, da sociologia e da psicologia social, tornando-se uma espécie de ambiente “normalizado”.

O conceito, que tratou dela como problema, derivou para uma “resposta ao problema” que foi sua efetuação como uma espécie de profecia autorrealizável, de modo que as Forças Armadas, por todas as partes, começaram a produzir suas adaptações e versões, plasmando-se aos conteúdos locais e procurando acionar dispositivos mais ou menos intensivos de ação nessas camadas todas da vida. Como ela então se torna um ambiente em constante retroalimentação, é difícil percebê-la como uma “guerra”, embora quem a experimente saiba que há algo profundamente disruptivo acontecendo.

Em termos simbólicos, o que significou o recuo do comando do Exército em não punir o flagrante desrespeito de Eduardo Pazuello ao regimento dos militares, durante a motociata no Rio?

Significou consolidar a impressão de que “ele manda, nós obedecemos”. Do meu ponto de vista foi uma “operação psicológica” proposital para passar a impressão de que Bolsonaro está no controle e os militares estão encurralados. É assim que eles vão purificar todos os ruídos que deixaram de processos anteriores, de modo a apagá-los.

 

 

Por outro lado, até que ponto a condenação a 11 anos de prisão do ex-delegado Carlos Alberto Augusto, conhecido como “Carlinhos Metralha”, por crime de tortura durante a ditadura militar, pode abrir precedentes à condenação de outros crimes praticados por militares durante o regime?

Não estou exatamente a par disso, mas posso assegurar que a imagem de um Judiciário em atrito com os militares é outra perna da “pinça” que eles mesmos produziram. Vão criar situações que a conta-gotas façam parecer que eles não estiveram em “sinergia” – como sempre dizia Villas Bôas – nesse processo. O que parece uma briga é na verdade um “telecatch” – e como toda luta simulada, tem gente que realmente torce para um dos personagens.

Até que ponto o estado de guerra permanente e a produção ininterrupta de inimigos internos, praxe no atual governo federal, é efeito de uma governamentalidade militar?

Este é um ponto do efeito de arrasto que Bolsonaro imprime. Então vai ter inimigo por todos os lados (e de fato assim como Bolsonaro se torna um incendiário real, há consequências para quem está do lado oposto). No entanto, creio que para a central de comando e controle o ponto ideal é não precisar de inimigos reais, mas só desses que Bolsonaro cria. As oposições de fato devem estar controladas, seja porque estão na mão do sistema de informações, seja porque simplesmente agem por “reflexo contrário”, como se estivessem em um cenário pavloviano.

 

 

Levando em conta sua experiência etnográfica e etnológica com militares, não lhe soa estranho que um militar expulso [Bolsonaro] seja tão influente junto ao Alto Comando, ou seria justamente o contrário, o “subordinado” que topou sujar as mãos de sangue em nome do “projeto militar”?

Não é exatamente uma influência. Sua imagem – que é uma imagem intencional e produzida – contamina, mas definitivamente não subordina as cabeças. É uma conveniência ideológica para acionar todo esse dispositivo que estamos desenhando aqui. Já o que ele topou para fazer isso, como ele mesmo disse, “vai para o túmulo junto com Villas Bôas.

A pouca expressão política do vice-presidente, o general Hamilton Mourão, quase sempre irrelevante na governança, não seria um contraponto à tese de que o atual governo atende a um projeto dos militares?

Não. Mourão é tão irrelevante na governança quanto Bolsonaro. E assim Mourão é o aspecto subliminar, que em certo sentido tem o papel mais importante de todos: passar a imagem de um contraponto “moderado” e “racional”. Sempre foi isso, desde a campanha. Faz parte do manual básico de operações em guerra híbrida: emitir em velocidade crescente sinais contraditórios. É engraçado que se trata de um mecanismo simples, mas cujos desdobramentos são para lá de complexos. Assim, se houver uma hora que Bolsonaro chegue a arrebentar a corda, quem vai aparecer como garantia de oposição e tábua de salvação?

 

 

Qual o papel da chamada “indústria cultural” nesse contexto de guerra híbrida e quem encarna os papéis de “mocinho” e “vilão”?

Não vejo como “indústria cultural“, o termo tem sentidos e implicações que não cabem exatamente aqui. Você não está pensando mais especificamente na mídia? Se for, do jeito que vejo ela está apenas funcionando como estação de retransmissão das mensagens cifradas que este povo produziu. Entraram em modo de “piloto automático” e começaram a emular as falsas oposições que eles criaram, como por exemplo a dos “generais que romperam”, como o Santos Cruz.

Então, não é uma indústria porque a linha de produção está desconectada, e as unidades atuam como células mais ou menos autônomas, só se alimentam de estímulos aqui e ali, às vezes até engolindo gato por lebre. Se é para usar uma metáfora econômica, está mais para um “consórcio” ou um desses conglomerados que você não sabe bem quem é o proprietário, porque sempre tem alguém por trás. No nível que a gente vê – ou melhor, “mal vê” –, que bem pode ser a gerência local de outras forças, ou uma força combinada a elas, temos esses militares montando essa máquina, ou desenhando esse “sistema operacional” em linguagem local.

No que se roda esse software e se criam suas interfaces – e a imprensa é um dos seus dispositivos –, para um comando militar é facílimo um “General A” passar uma informação e um General B passar a informação oposta, como parte de um jogo combinado. Se tem vantagem nesse mundo militar é que eles são próximos e antes de tudo pensam neles próprios, portanto “mocinho e vilão” aqui são mais a velha combinação “bom policial e mau policial”.

 

 

Saindo um pouco do seu objeto de estudo e entrando nos movimentos mais factuais da conjuntura, tomando como base a movimentada quarta-feira (23/06) em Brasília, qual a sua leitura sobre o momento político que estamos vivendo? Que relações podemos estabelecer entre a saída do ministro Ricardo Salles, as denúncias envolvendo a compra da vacina Covaxin e a aparente disputa entre, até então, aliados de Bolsonaro ?

Não vi os casos específicos suficientemente para tratar dos detalhes, mas acho que há algo que deve ser considerado dentro de um processo mais amplo. O “projeto Bolsonaro“, no meu entendimento, é finito, e serve tão e somente para consolidar este “reboot” ou “reinicialização” do Estado que mencionei, e alguns processos contíguos, entre os quais a drenagem do butim para os parceiros que se associaram ao longo do caminho. Isso inclui estatais, terras, novas legislações e todo um preparo para produzir um cenário em que as conexões anteriores – como as do projeto petista com um tipo de Brasil marcado pelas alianças com setores como engenharia, petróleo e energia, e até defesa, entre outros – não tenham como ser refeitas (ou se tiverem, que seja com novos atores, mas não parece ser o caso).

A maior questão é, como disse, apagar as digitais dos reais condutores desse processo. Se esta etapa tiver atingido uma configuração que eles consideram suficiente ou favorável (e não sei exatamente em que patamar eles pensam isto), então será o momento de se começar um desembarque (que será outra simulação, pois este tão e somente será a preparação para outro embarque, mais camuflado ainda), ou provocar uma renúncia.

 

 

Motivos para saídas?

Dito isto, é preciso pensar qual condição pode ser mobilizada para convencer e arrastar toda a tropa para fora do governo e enfraquecê-lo até caducar, ou qual o motivo para provocar uma saída súbita de Bolsonaro. Note que o “desembarque” já tem um precedente, um “test-drive”, digamos assim, que foi a maciça saída de militares de cargos no governo Dilma em fins de 2014 e começo de 2015, logo após a reeleição (coincidindo, portanto, com o começo da campanha de Bolsonaro nos quartéis), e ainda estimulados pelo rebaixamento do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República – GSI à condição de Secretaria e a demissão do general Jorge Ernesto Pinto Fraxe do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit. Como disse, esta é uma rede que funciona de forma coesa, militar dificilmente faz as coisas sem se conectar à hierarquia.

Seja como for, qual seria este motivo então? Do meu ponto de vista só há um “ativo” ideológico suficientemente radioativo para provocar essa fissão: a “corrupção“. Isto por dois motivos: o primeiro é bastante óbvio, pois foram anos construindo um imaginário sobre este “problema”. O terreno para isto já está preparado, pois há meses que a imprensa está ventilando que Bolsonaro é uma espécie de “PT” com sinal trocado.

O segundo motivo é porque este ativo não só intoxica Bolsonaro como alavanca a “3ª viapurificadora, e que dê conta de neutralizar tanto Bolsonaro quanto o PT. Não preciso dizer em quem eles estão pensando né? Pois tiraram esse sujeito [ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro] do armário esses dias mesmo, mostrando que o timing é impecável. Isto junto com Santos Cruz, que agora se tornou mais importante que Paulo Guedes.

Então, o caso supra das vacinas ou é um balão de ensaio para algo maior, ou se desdobrará em algo grande o suficiente para estampar o rótulo de “corrupto” na testa do Bolsonaro. Mas tudo isso se o consórcio que está operando todo este processo tiver a “consciência situacional” de que é necessário recorrer a este expediente, ao invés de deixar Bolsonaro murchar lentamente. Pode ser até que se encene um “putsch do Planalto”, para tornar as coisas mais dramáticas, e apresentar as Forças Armadas como paladinas da legalidade, nos salvando dessa nova versão da cervejaria de outrora. O ambiente também já foi criado, especialmente por analistas do suposto campo da esquerda que não param de repetir a ideia de que haverá um golpe. Então isso certamente tornaria as coisas mais definitivas, mais do que as eleições de 22, certamente.

Seja como for, você não acha no mínimo estranho que tanta gente esteja martelando a tecla da reeleição e sequer se dê conta de que Bolsonaro não tem um partido?

Ricardo Machado, para a Revista IHU On Line

Edição: João Vitor Santos


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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