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Rachas no Partido Republicano indicam que candidatura de Trump para 2024 é incerta

Sondagens demonstram que governador da Florida, Ron DeSantis, gozaria de maior apoio que o ex-presidente em vários estados importantes
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A conquista da Câmara Baixa do Congresso outorgará aos Partido Republicano o poder para bloquear a agenda legislativa do presidente Joe Biden. O Partido Democrata, por sua vez, manteve sua maioria no Senado. Esse panorama promete um estancamento político em Washington e, enquanto isso, o ex-presidente Donald Trump anuncia sua intenção de retornar à Casa Branca em 2024. 

Com a nova configuração do poder, os democratas, que antes gozavam do controle de ambas as câmaras do poder legislativo e a Casa Branca, agora terão que negociar com os seus opositores para conseguir promover projetos de lei e aprovar orçamentos federais, enquanto os republicanos buscarão fazer de tudo para que Biden fracasse durante seus últimos dois anos de governo. Também se espera que tenham início investigações contra o presidente, sua família e seu partido como vingança pelas inquisições legislativas e criminais contra Trump e seus cúmplices desde 2020. 

A melhor esperança para os democratas neste contexto é uma possível guerra civil dentro do Partido Republicano, algo que já começa a se expressar. Trump, buscando consolidar o controle sobre seu partido, apesar de seus candidatos terem sofrido graves derrotas nas últimas eleições, informou nesta terça-feira (15), a partir de seu clube privado em Mar-a-Lago, na Florida, que buscará retornar à presidência nas eleições de 2024 – as quais já começaram. “Esta noite estou anunciando minha candidatura para presidente dos Estados Unidos”, disse.

Sondagens demonstram que governador da Florida, Ron DeSantis, gozaria de maior apoio que o ex-presidente em vários estados importantes

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Apesar de parte da cúpula republicana desejar uma era pós-Trump, ex-presidente mantém amplo apoio entre as bases do partido

No entanto, ainda antes de seu anúncio formal na Florida, algumas das forças mais poderosas dentro do movimento conservador já estavam tentando debilitar o controle de Trump sobre seu partido. 

“O GOP [Partido Republicano] e o país ficariam melhor servidos se o Sr. Trump cedesse o campo à próxima geração de líderes republicanos para competir pela nominação em 2024”, opinou o Wall Street Journal em um editorial publicado nesta terça-feira – o rotativo é parte do império do poderoso magnata de meios Rupert Murdoch, também dono da Fox News, o qual é chave na dinâmica política da direita estadunidense.

Por sua vez, a influente organização conservadora Club for Growth difundiu uma pesquisa demonstrando que o governador da Florida, Ron DeSantis, gozaria de maior apoio que o ex-presidente em vários estados importantes do mapa eleitoral. DeSantis já está alinhando apoio de legisladores e doadores republicanos enquanto seus assessores divulgaram versões sobre divisões dentro da família Trump quanto ao seu plano de buscar a presidência outra vez. 

Mas, ainda que parte da cúpula republicana deseje proceder a uma etapa pós-Trump, o ex-presidente mantém amplo apoio entre as bases do partido, com uma sondagem do Politico confirmando que 47% dos republicanos e simpatizantes do partido respaldariam o magnata, enquanto 33% apoiariam DeSantis.  “Continua sendo o partido de Trump e ele se lançará se assim quiser”, conclui o Politico.

Por ora, a negociação política mais importante na cúpula do Partido Republicano é sobre quem será o líder da nova, e muito apertada, maioria republicana na câmara baixa, com o deputado Kevin McCarthy ganhando o apoio de seus colegas nesta terça-feira, embora necessite de uma bancada unida para obter os 218 votos para conseguir ser presidente da câmara baixa em janeiro. Portanto, será obrigado a negociar com a ala ultraconservadora de seu partido, à qual terá que oferecer, entre outras coisas, alguns postos de liderança em comitês chave e programar votos sobre temas tão sagrados para a direita como anular ou limitar o direito ao aborto, defender o que chamam “direitos às armas” e medidas anti-migrantes. 

Os beneficiários destas batalhas internas entre republicanos poderiam ser os democratas, que ainda estão assombrados de terem ido melhor do que o prognosticado e em relação às médias históricas nas eleições intermediárias. O fato de terem conseguido defender o controle do Senado e o resultado da câmara baixa por uma margem muito apertada deixam debilitada a cúpula republicana. 

Embora os democratas pudussem ter aproveitado as divisões de seus opositores em Washington, incluindo obter algumas concessões para promover projetos de lei, outra batalha política acontece fora da capital. 

Um repórter do La Jornada atravessando o país no mês passado, justamente antes das eleições de novembro, viu muitíssimos mais anúncios em apoio a Trump que em apoio aos seus rivais dentro do Partido Republicano – e Trump não estava em nenhuma cédula nesta eleição. 

Ao mesmo tempo, os progressistas do Partido Democrata – alguns dos quais foram fundamentais para derrotar, por enquanto, o avanço da ultradireita antidemocrática em vários estados – também expressam que tanto no nível federal quanto no estadual seus candidatos registraram vitórias importantes, argumentando que esta é uma indicação chave do futuro do partido neste país.

David Brooks, Nova York, e Jim Casos, Washington | Correspondentes do La Jornada.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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