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ToggleEnquanto a população se distrai com a briga no PSL o capitão de turno no governo de ocupação diz pro mundo que a Amazônia é nossa e tem quem acredita. Para ser nossa a Amazônia, em primeiro lugar, tem que ser preservada.
Veja o seguinte. Hoje os cientistas no mundo inteiro evoluíram bastante no conhecimento da geografia, geologia, botânica, biologia, climatologia, enfim, desde que “descobriram” que à terra é redonda, o conhecimento do planeta através das ciências tem se aprofundado, facilitado pelas imagens oferecidas pelos satélites e o uso da informática de mega-dados.
Hoje se sabe que as Correntes Quentes do Pacífico (El Niño), a Cordilheira dos Andes e a Floresta Amazônica são responsáveis pela formação de verdadeiros rios aéreos de água que irrigam zonas subtropicais que em outras latitudes são desertos. Em outras palavras, sem esses rios a zona subtropical do Brasil se transforma em deserto. Não há como manter esses rios aéreos sem a floresta Amazônica.
A Amazônia é nossa, certo. Então temos uma responsabilidade como seres humanos de preservá-la para manter o equilíbrio climático no mundo. E é por isso que todo o mundo inteligente se preocupa com a Amazônia, da mesma forma que se preocupa com deter o aquecimento global para evitar catástrofes que afetarão toda a vida no planeta.
Para não entender isso é preciso acreditar que à terra é plana, que o aquecimento global é invenção de comunistas, ou que os globalistas impedem o desenvolvimento da Amazônia brasileira.
Ibama
Rio Jamanxim, pertencente à bacia Amazônica.
Gente, a Amazônia é nossa?
O sul do Pará e do Maranhão já se transformaram em pastagem ou campos de monocultura. Nessas áreas a floresta não se recompõe mais e o que teremos ali no futuro será deserto.
O nosso Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), respeitado no mundo inteiro pelo nível de excelência científica, teve sua voz calada por denunciar que, desde o golpe de estado de 2016 o desmatamento criminoso — duplamente criminoso por ser ilegal e antinatural — tem aumentado exponencialmente.
Segundo o Inpe, de janeiro a agosto de 2019, as queimadas aumentaram 70% em relação ao mesmo período de 2018. A respeitada revista científica Nature Sustainability da Universidade de Oklahoma, alarmou o mundo com artigo que constata que de 2000 a 2017, foram desmatados 400 mil quilômetros na Amazônia brasileira.
É uma área maior que a Alemanha. Como não se preocupar?
Imagens
Os jornais mostraram imagens da floresta queimando, as árvores calcinadas, os animais mortos, e as aldeias indígenas ameaçadas. O índio bom é o índio morto, diziam na época da ditadura (1964-1985) em que o Brasil foi apropriado pelas corporações transnacionais.
Esses predadores argumentam que a terra é pra produzir riqueza e que é burrice deixar apodrecer o que está em cima ou em baixo da terra, neste caso os minérios e os minerais preciosos.
Muito bem podemos até concordar com a tese em princípio. A terra é pra produzir riqueza mas temos que concordar com que a maior riqueza sobre a terra é a gente que nela habita, como você, eu, todos os terráqueos e não temos como mudar de planeta.
Então, o primeiro cuidado é com a preservação da vida e a vida no planeta é entrelaçada, uma depende da outra num equilíbrio majestoso que tem que ser preservado. E o equilíbrio da biodiversidade que no reino humano corresponde à multiculturalidade das diferentes etnias adaptadas as condições geográficas.
Se à terra é pra produzir riqueza, é pra produzir riqueza para todos. Não é justo que poucos se apropriem das terras para fazer fortuna pessoal e enriquecer outros países. A história do Brasil é a história de uma ocupação predatória e genocida e de roubo contínuo das riquezas.
O minério não deve permanecer enterrado. Vamos concordar com isso. Porém, temos que considerar que essa riqueza deve ser em benefício de todos, não só de umas poucas empresas que, além do dano ambiental, explora o nativo com trabalho escravo e leva o mineral embora.
Para aonde vai nosso ouro
Quando ocorreu aquele roubo de outro em Cumbica nós publicamos reportagem contando um pouco para aonde vai o nosso ouro
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Isso ocorreu em agosto de 2019. Naquela oportunidade levaram 100 quilos de ouro no valor de 2,5 milhões de dólares. Perguntamos quem, como, por que, aonde é constatamos que todas as minoraras são estrangeiras e estão realizando o saqueio contínuo, sem controle de nosso ouro.
Veja como funciona. Tomemos como exemplo a Yamana Gold – Jacobina Mineração e Comércio Ltda, empresa canadense que explora minas de ouro na Argentina, Brasil, Chile e México e está há 15 anos no Brasil.
Ela constituiu um verdadeiro enclave colonial em Jacobina onde você não pode entrar. É uma mina de escavação a céu aberto e o processo de extração é contínuo, 24 horas, 365 dias. Emprega 2 mil trabalhadores, 85% dos quais nativos de Jacobina e gasta R$ 26 milhões por mês entre salários e benefícios. Para um município pobre no interior da Bahia corresponde a 31% do PIB.
Em 2018 a empresa produziu 145 mil onças de ouro ou seja, 4,11 toneladas. Se os 100 quilos de ouro levado de Cumbica valia US$ 2.5 milhões, as 4 toneladas deram pra companhia mais de US$ 100 milhões naquele ano. Arredondando o dólar a R$ 4, são mais de R$ 400 milhões.
Todo esse ouro vai para o Canadá, país sede da empresa. O que o Canadá faz com esse ouro? Faz o que a maioria dos países está fazendo, que é encher as burras do banco central. Serve de lastro monetário e de garantia para a dívida pública.
No ano passado (2018) o Brasil exportou pouco menos de 100 mil toneladas de ouro e arrecadou US$ 2 bilhões. E o ouro que foi saqueado sem nenhum controle? Isso é difícil saber mas não é exagero estimar outro tanto. 4, 5 bilhões de dólares ao ano de ouro puro, em barra.
Ouro que por séculos vem sendo saqueado. O Brasil poderia ter uma moeda lastreado em ouro, mais forte que qualquer outra moeda do planeta. Aliás, no Império de Pedro, os reais brasileiros eram tão disputados como a libra britânica. tinha peso de ouro.
Outros minerais tão preciosos ou mais que o ouro, como o nióbio, urânio, estão no mesmo caminho, sendo saqueados e fazendo a riqueza de outros países.
Recuperar a soberania do país é usar em benefício do povo essa riqueza mineral.
*Paulo Cannabrava Filho é editor da Diálogos do Sul
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