Geralmente se diz ao contrário, a luta do bem contra o mal. Mas acontece que o bem está muito ocupado na construção de si mesmo, que é o mais proveitoso, e nem sempre busca as formas de proteger-se do mal; com muito cuidado de – justificando-se na validade de sua causa – não terminar se convertendo em mal, emulando-o… porque a principal vitória do mal consiste precisamente em corromper a natureza do bem.
Por isso um preso político é basicamente um vitorioso. Está preso porque não conseguiram corrompê-lo e essa é a maior das vitórias. Ninguém sabe quem é, ninguém se conhece a si mesmo, até que a vida lhe depara com a situação limite onde claudica… ou se sustenta a qualquer preço.
Isso não quer dizer que está bem colocar as pessoas presas para significar algo. Quer dizer que é preciso deixar clara a futilidade de privar alguém de sua “liberdade”. Liberdade de que? De pensar não, porque o preso político paga o preço mais alto por conservar sua liberdade intelectual, e a prefere à do confinamento no opróbrio da conversão.
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Alguns… preferem dizer que não se pode mentir a Deus. É mais fácil e se entende melhor, mas tratar de entender é um vício que sempre tive
A verdade é um bem natural da humanidade. Tudo no universo acontece na prática, até que o ser humano observa e se pronuncia e é ali onde nasce a verdade se o pronunciamento é fidedigno. Antes disso, era um fato simples, puro, embora imponente: a semente cai, a terra a admite e a vida germina quando intervêm os elementos.
Quando o ser humano intervém, para ter a qualidade, o valor e a dimensão imponente desse fato simples e puro, deve respeitar a condição fidedigna da prática.
Se os elementos não intervêm, o florescimento da semente não acontecerá e não haverá maquiagem possível, qualidade da linguagem, elegância oratória nem qualquer suborno, que faça germinar a semente… e assim a mentira fica refém de si mesmo. E reféns também ficam os que preferem a omissão que outorga convalidação tácita à mentira.
Alguns… preferem dizer que não se pode mentir a Deus. É mais fácil e se entende melhor, mas tratar de entender é um vício que sempre tive.
Observo com perplexidade, o grotesco imediatismo e a estéril puerilidade com que muitos preferem esses obscuros objetos do desejo, que lhes são impressos com a instigação ao culto do que é material, pelo qual são capazes de abdicar do próprio sentido, valor e dever de sua própria vida.
A semente tem um dever para com os elementos, um desígnio que não pensaria romper por nenhuma jóia, por nenhuma roupa, por nenhum perfume. Porque a memória que guarda em toda a sua vida latente, não lhe permite acreditar que haja riqueza maior que ela mesma.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Buenos Aires, Argentina
**Revisão e edição: João Baptista Pimentel Neto