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Refugiados: A pergunta que querem calar

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Paulo Cannabrava Filho*

Children walk down a dusty street in Dadaab refugee camp on July 4, 2011. Fatimah who fled violence in Somalia with her family one year ago says that she does not venture outside the camp to look for firewood because it is too dangerous. With a population of 370,000, Dadaab is the world's largest refugee camp even though it was built for just 90,000. With serious drought in the Horn of Africa, thousands of Somalis have arrived in recent weeks in search of food and water. AFP PHOTO/Roberto SCHMIDT PHOTO/Roberto SCHMIDT

Por que essa onda de refugiados? Mais que onda, parece um tsunami.Sim: fogem de guerras e conflitos armados. Qual a verdadeira causa de tais conflitos? Desse desespero sem fim, envolvendo milhões de famílias com suas crianças?

Os refugiados, segundo a ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) só até o final de 2014 já somavam 60 milhões; mais que o dobro da população de toda a Argentina!

No que vai deste ano, cruzando o Mediterrâneo passaram 500 mil pessoas. Quantos milhares morreram nessa travessia? Quantos barcos naufragaram sem que se tomasse conhecimento?

Segundo ACNUR os refugiados vêem da Síria, Afeganistão, Iraque, Líbia, Iêmen, Ucrânia e outros países, principalmente de África. O êxodo, diz a ONU, é maior que o provocado pela 2a Guerra Mundial.

O noticiário se concentra em mostrar o drama humano. É comovente, vende jornais e atrai audiência televisiva. Nada contra a evidência desses fatos dramáticos, porém, e o questionamento?

A simples indignação não vai resolver o problema se ela não estiver dirigida a focar os verdadeiros motivos e os verdadeiros culpados e atuar na fonte geradora das tragédias.

Por que as populações fogem do Iraque e da Líbia? São dois casos semelhantes e paradigmáticos.

Eram países que estavam vivendo por longas décadas de estabilidade social e política – inclusive religiosa. Países que procuravam propiciar bem-estar a seu povo com base na riqueza do petróleo, até que, Estados Unidos com os países da OTAN, quer dizer, com os países da Europa, invadiram e arrasaram com esses dois países. Destruíram tudo e deram dinheiro e armas para bandos de mercenários realizarem a festa com o butim.

A cidade síria Deir al Zor. Fotografíade Jalil Ashaui Reuters A cidade síria Deir al Zor. Fotografíade Jalil Ashaui Reuters

Com a terra arrasada chegam as empresas que vão “reconstruir” o país e as petroleiras estrangeiras. Com o país destruído política e economicamente realizam o saqueio impune de todas as riquezas do país. Já não há mais emprego, educação, saúde, nenhuma perspectiva de futuro. É o desespero que leva as pessoas a buscar segurança para si e para sua família.

Porque elegem a Europa? Simplesmente porque foram, num passado nada longínquo, invadidos e transformados en colônias pelos países da Europa, notadamente, Grã Bretanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha e, mais recentemente, por Estados Unidos.

Em muitas décadas de colonialismo se lhes impuseram um idioma e cultura alheia a sua tradição. Esses países colonialistas e imperialistas se enriqueceram a custa da exploração da riqueza e da força de trabalho de suas colônias. Sobre isso não há quem possa suscitar dúvidas.

Esses países colonialistas e imperialistas têm o dever moral de resolver esse problema de lesa humanidade. São os únicos culpáveis posto que continuam sendo os responsáveis pela geração de novos conflitos.

O primeiro passo é acabar com os conflitos. Para isso basta suspender toda ajuda aos grupos insurgentes, aceitar as realidades políticas de cada país e colocar contingentes das Nações Unidas para garantir a paz.

Segundo, investir na reconstrução da economia desses países. Não fazer o que estão fazendo que é inovador com as transnacionais afogando ainda mais o país na miséria e dependência. A comunidade internacional tem que garantir modelos de desenvolvimento o mais autônomo possíveis para que esses países realmente possam recuperar sua dignidade.

Como disse o papa Francisco, o capitalismo, como esta, é coisa do demônio. Oxalá essa imagens comovedoras sensibilizem as pessoas para forçar a seus governos a mudar de rota, a empreender ajuda construtiva e desinteressada. É boa hora parra pagar a imensa dívida econômica, política, cultural e ética que têm para com os povos que hoje querem ser livres. Uma boa hora para se construir a tão almejada paz mundial.

*Jornalista editor de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Revista Diálogos do Sul

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