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Foto: @USCPR_ / X

Resistência, solidariedade e rebeldia nos EUA: apesar de tudo, há um futuro possível

Manifestações de toda forma no país são sinais de esperança contra as violências e o cinismo que decoram o American Way Of Life
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Tradução: Beatriz Cannabrava

Parece que tudo aqui está à beira do desastre, essa é a narrativa constante no campo político, na mídia, na academia e nas artes. Com os Óscares marcados para a próxima semana, podemos ver se Oppenheimer ganha e lembrar que o presente desse cientista e sua equipe em breve poderia estar de volta nas mãos do irracional Trump no papel do Doutor Strangelove. Só que não são mais filmes, mas sim o que chamamos de realidade (embora ainda não se saiba se o fim do mundo será transmitido pela internet para que cada um possa ver em seus telefones, a menos que estejam distraídos com um videogame ou algum escândalo entre celebridades).

Diante disso tudo, atos de resistência continuam enviando sinais de esperança, nobreza e beleza que são o antídoto ao veneno das guerras, brutalidades econômicas, racismo, violência e cinismo com que o American Way Of Life está decorado nos dias de hoje.

No último sábado (2), milhares saíram às ruas mais uma vez em várias partes do país para exigir que seu governo deixe de ser cúmplice de Israel no genocídio e expressar sua solidariedade com o povo palestino.

Em 25 de fevereiro, o jovem Aaron Bushnell, membro ativo da força aérea do aparelho militar mais poderoso do mundo, sentou-se em frente à embaixada de Israel em Washington e se imolou, gritando “Palestina livre” e deixando a mensagem: “Não posso mais ser cúmplice em um genocídio”.

“Aaron não morreu em vão”, escreveu seu amigo Levi Pierpont no The Guardian. “Ele já inspirou tantos outros a se levantarem pela verdade e pela justiça. Parte meu coração que sua vida tenha terminado assim… Tudo o que podemos fazer é ouvir a mensagem pela qual ele morreu: os horrores do genocídio em Gaza, a cumplicidade que compartilhamos como membros das forças armadas e como contribuintes de um governo que investe profusamente em violência”.

Também nesta última semana – como em quase todas as semanas – houve ações contra a violência armada, para impulsionar medidas de combate às mudanças climáticas, pelos direitos trabalhistas, pelos direitos indígenas, pelos direitos das mulheres e pela justiça econômica em vários pontos do país. Muitos simpatizantes desses esforços costumam celebrá-los, mas têm dúvidas se podem fazer algo com esse “tripé gigantesco do racismo, materialismo extremo e militarismo identificado pelo reverendo Martin Luther King.

Essas expressões de resistência, dissidência e rebeldia são acompanhadas por seus antecessores históricos que retornam a cada luta para acompanhar as novas gerações. De repente, surgem antigas histórias – graças a professores e historiadores herdeiros de Howard Zinn – que oferecem solidariedade ao momento contemporâneo, onde a direita busca censurar livros e história por todo o país, como no 70º aniversário da semana passada, quando estudantes da Universidade de Indiana iniciaram o que chamaram de Movimento das Penas Verdes. Na era do macartismo, houve um apelo das autoridades educacionais para proibir o livro Robin Hood nas escolas do estado de Indiana, já que esse personagem roubava dos ricos para dar aos pobres e isso, afirmaram, é comunista. Os estudantes foram encher sacos de penas de frango em uma fazenda, depois as tingiram de verde para representar Robin Hood e sua gangue e as espalharam por todo o campus em protesto contra a censura. Eles foram investigados pelo FBI por sua façanha, mas esse movimento se multiplicou em outras universidades do país.

Apesar da esmagadora onda de notícias desastrosas que alimentam a desesperança coletiva, sábios como Noam Chomsky, entre outros, têm reiterado por décadas que os movimentos sociais são forças civilizadoras que democratizam este e outros países com suas ações incessantes e que esta é a maneira de mudar as coisas neste país. Enquanto existirem essas rebeliões, dissidências e resistências, há um futuro possível apesar de tudo, e é por isso que é tão vital que suas façanhas, ações e histórias sejam contadas e cantadas todos os dias.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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