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ToggleA França viveu esta quinta-feira (29) a terceira noite de revolta por mais um jovem assassinado pela polícia nos subúrbios da capital. Nahel M., de 17 anos, morreu na última terça-feira com um tiro à queima-roupa durante uma operação stop. Como em ocasiões anteriores, a polícia alegou que o jovem tinha posto em risco a vida dos agentes, tentando atropelá-los. Mas as imagens captadas desmentem a versão policial e incriminam o agente, agora em prisão preventiva e acusado de homicídio voluntário.
O assassinato e a tentativa de encobrimento incendiaram os ânimos dos jovens de Nanterre, que se alastraram à periferia de Paris e depois ao resto do país, com tumultos noturnos em cidades como Marselha, Lyon, Toulouse, Lens. Para a noite de quinta-feira, a polícia mobilizou 40 mil agentes, incluindo forças de intervenção especiais.
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O balanço ao final da manhã de sexta-feira era de 875 detidos, dos quais 408 na região de Paris na maioria adolescentes entre os 14 e os 18 anos, e 249 polícias feridos. No conjunto do país houve 492 edifícios atingidos e dois mil veículos incendiados. Ao todo registaram-se 3.880 incêndios na via pública.
Por muito numerosas que fossem as brigadas policiais, seriam sempre insuficientes para a multiplicação dos incidentes ao longo da noite, conta uma fonte policial ao Mediapart. Além de inúmeras viatura incendiadas, registaram-se também incêndios e saques a supermercados, centros comerciais, lojas de artigos desportivos ou cadeias de fast-food.
A estação de carros em Aubervilliers também foi alvo do protesto dos jovens, com 12 automóveis incendiados por coquetéis molotov. O governo tinha decidido interromper a circulação de carros e trens na região de Paris a partir do início da noite. Em algumas localidades, houve tentativas de ataque a esquadras durante a madrugada.
Em três localidades da região parisiense (Clamart (Hauts-de-Seine), Neuilly-sur-Marne (Seine-Saint-Denis) et Savigny-le-Temple (Seine-et-Marne) foi decretado o toque de recolher obrigatório até segunda-feira. A câmara de Compiègne (Oise) também decretou toque de recolher obrigatório durante o fim de semana para os menores de 16 anos não acompanhados.
Gazeta do Povo
Policiais usaram gás lacrimogêneo contra uma manifestação de familiares de Nahel M.
Macron
O Presidente Emmanuel Macron, que participa em Bruxelas da reunião do Conselho Europeu, decidiu convocar para o início da tarde desta sexta-feira uma reunião de emergência do Governo, regressando a Paris. Uma fonte do Eliseu disse ao Le Monde que Macron aguarda propostas do executivo para adaptar o dispositivo policial “sem tabus” para conter os protestos.
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Também nesta sexta-feira, em Genebra, a porta-voz do Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos apelou à França que resolva os seus “problemas profundamente enraizados de racismo e discriminação racial entre os agentes da autoridade”, nas palavras de Ravina Shamdasan, citadas pelo Le Monde.
Marcha por Nahel juntou 20 mil em Nanterre
Em Nanterre, durante a tarde, a marcha branca por Nahel juntou milhares de pessoas, 20 mil, segundo os organizadores, e 6.200 nas contas da polícia. Mas ao contrário do desejo da família, não foi silenciosa. “Acabaram-se os minutos de silêncio e de pedir por favor, já não é altura disso”, dizia um jovem participante ao Mediapart.
Atrás de uma faixa onde se lia “Justiça para Nahel”, desfilaram familiares, políticos, rappers, mas sobretudo jovens racializados de vários bairros da periferia que também têm histórias de violência policial para contar. Os nomes de outras vítimas mortais da polícia foram lembrados. Quando o caminhão da organização se aproximou do local onde o jovem foi baleado, a polícia lançou gás lacrimogêneo, impedindo que a família pudesse se dirigir aos manifestantes.
A par da morte de Nahel às mãos da polícia, os manifestantes estavam indignados com outra prática recorrente em situações semelhantes: a de transformar as vítimas em culpados. Nas horas seguintes ao assassinato, políticos e comentadores voltaram a preencher o espaço mediático dissecando o passado das vítimas e os antecedentes judiciais que constam dos ficheiros policiais, mesmo que deles não tenha resultado qualquer condenação.
E até a porta-voz do Ministério do Interior teve de lembrar à jornalista da France Inter que o entrevistava que isso “não é o tema do debate. Pouco importa se ele era conhecido ou não dos serviços da polícia, o que aconteceu, esta tragédia, não é aceitável”, disse Camille Chaize.
Redação Esquerda.Net
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