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Rio+20 ou: A Revolução Cultural Necessária

Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

O mundo ou, mais precisamente, a Humanidade está em perigo. Lê-se e se ouve isso por todas as partes. E que é preciso que os governos busquem alternativas para um desenvolvimento ético, ou seja, menos poluidoras e menos destrutivas. A Rio+20 vem ai e se pretende mobilizar a opinião pública, os intelectuais e os políticos ante os riscos do aquecimento global e da necessidade de novos modelos de desenvolvimento. Fala-se até numa “economia verde”, salvadora, como se fosse possível,  como num passe de mágica, mudar os rumos desse modelo de desenvolvimento que está aí, consumista e predador, fundado no individualismo egocêntrico.

Paulo Cannabrava Filho*
O modelo de desenvolvimento constitui uma ameaça real e mensurável para a humanidade, mas, ha um perigo maior e iminente a que não se tem dado a devida importância que é a insanidade dos senhores das guerras, os riscos de novas guerras e de um holocausto nuclear. Não ha que duvidar de que os senhores das guerras estão se armando e tramando novas guerras com o fim de preservar suas hegemonias, garantir a continuidade do atual modelo.
Valle ressaltar a advertência de Fidel Castro diante das intervenções armadas contra países árabes e muçulmanos: “Quando uma guerra patrocinada pelos Estados Unidos se converte em ‘instrumento de paz’, com a aprovação e aceitação das instituições mundial e a mais alta autoridade, incluídas as Nações Unidas, não ha volta atrás: a sociedade humana se precipitou inapelavelmente rumo   a autodestruição”.
Em uma longa reflexão sobre os riscos de que os Estados Unidos, ou um de seus “aliados” venham a utilizar armas de destruição em massa contra povos indefesos, como fez em Hiroshima e Nagasaki em 1945, Fidel diz que “O sistema capitalista e a economia de mercado que lhe dá vida, não vai desaparecer da noite para o dia, porém o imperialismo com base na força, nas armas nucleares e nas armas convencionais de tecnologia moderna, têm que desaparecer se desejamos que a humanidade sobreviva”.
Para Fidel esse risco é real. Cita o fato de os EUA terem realizado 26 provas de armas nucleares desde 1997 aos dias de hoje e a certeza dos estrategistas de que é impossível derrotar o Irã numa guerra convenciona a inviabilidade de manter indefinidamente tropas de ocupação como no Afeganistão ou no Iraque.
Diante desses fatos Fidel propõe que se trave uma batalha mundial no âmbito das ideias: “somente uma grande batalha  de ideias poderia mudar o curso da história mundial”. E acrescenta… “ha que inventar como se chega às massas mais conscientes. A solução não está nos jornais diários. Internet existe. Internet é mais econômica, é mais acessível…” De fato, há que inventar como despertar o olhar crítico dos que pensam para que se formulem novos paradigmas e se construa a paz. O tema da paz deveria estar presente em toda a temática da agenda da Rio+20, e não está.
Qualquer mudança de rumo, para que seja realmente uma nova rota, terá de ser radical. Só com uma revolução cultural se poderá vislumbrar novos caminhos para um desenvolvimento ético e de paz para a humanidade. Uma Revolução Cultural que deve começar em casa com a reconstrução de nossas histórias, o resgate de nossas conquistas, a recuperação de nossa autoestima.
Uma revolução cultural que possibilite o reencontro do Estado com a Nação, que defina que país queremos para nossos filhos e netos e com que modelo econômico vamos construir esse país.
A Revolução Cultural deve ter como objetivo reinventar o ser humano, o indivíduo como espírito, ou seja, como ser pensante. Ou, como diria Gramsci, “Devolver à humanidade o papel de formadores da história, tirando-a do pedestal de espectadores”.
Eu diria que o compromisso maior do intelectual cidadão, do artista cidadão, do jornalista cidadão, do político cidadão é para com a sociedade. A sociedade de sua nação, em primeiro lugar, de seu país. Então, é necessário que se saiba que sociedade queremos, que país queremos, que democracia queremos. E o resultado tem que ter um sentido libertário.
O que nos tem sido imposto como paradigma é a sociedade consumista, do consumo estilizado; a sociedade da ditadura do capital volátil, do liberalismo transformado em libertinagem. A sociedade que privilegia sobretudo o indivíduo, em que só tem valor aquele que leva vantagem, o indivíduo que se sobrepõe a outro, pois, parafraseando Nietzsche: sem ética, tudo é possível.
Absurdo! O indivíduo não pode ser contraponto ao social porque o indivíduo é naturalmente um ser social! Portanto, há que recuperar a condição humana aos indivíduos e à sociedade.
A contracultura da pós-modernidade é contra a cultura da modernidade. Enquanto aquela vê o fim da história, esta trata de resgatar a história para forjar o futuro. A banalização dos valores culturais nacionais, a cultura de massa e a consequente alienação, a desesperança diante da ausência de futuro, a ridicularização de nossos líderes, tudo isso forma a contracultura da globalização que nada mais é do que a velha cultura de dominação.
A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente – dizia Soren Kierkegaard. A modernidade exige a construção da igualdade. Toda ação cultural deveria estar dirigida à construção da solidariedade, ao desenvolvimento da igualdade. Só assim se chegará à cidadania ética, capaz de viver em harmonia com a natureza e de construir a paz. De não ser assim, estamos fritos, literalmente. Do que se conclui que é necessário planificar o futuro de modo consistente e criativamente.
A humanidade está se dando conta de que é necessário buscar novos rumos com vistas a resgatar o sentido da existência humana.
Há quem perceba que se atravessa uma conjuntura semelhante a que precedeu a II Guerra Mundial: um irresponsável, senão um louco, governa uma grande potência ávida de espaço vital; em um número significativo de países os governos são meros instrumentos de grupos monopolistas, submissos ao império do capital, sob a ditadura do pensamento único.
O que se faz para mudar essa realidade?
A única alternativa é, como disse Fidel, que se trave uma batalha mundial em torno de ideias, ou, mais apropriadamente, uma revolução cultural que crie um sentimento de rechaço ao status quo. Caso contrário, toda e qualquer deliberação será cosmética e nada mudará neste mundo de crueldades.
 

Reflexões de Fidel Castro em diálogo com o economista e acadêmico canadense Michel Chossudovsky, in revista

Tricontinental No 170 fr 2011-

Reflexões do autor: resumo de conferência proferida na Feira Nacional do Livro da Cidade do México em agosto de 2004


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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