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Rússia avança sobre região de Soledar, rota de fornecimento do exército ucraniano

Segundo especialistas, tomar a localidade é uma questão de honra para Moscou
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

As reportagens e vídeos que chegam da zona dos combates mais cruentos na região de Donetsk, indicam que as tropas russas continuam o assalto, rua por rua, de Soledar e poderiam estar perto de controlar toda a localidade, já praticamente reduzida a ruínas, mas que oferece a possibilidade de cortar uma das rotas de fornecimento ao exército ucraniano na cidade de Bakenmut, situada 10 quilômetros ao nordeste. 

Pelas redes sociais russas circularam nesta terça-feira, nas contas afins à “companhia militar privada” Wagner, como se denomina oficialmente o grupo de 50 mil mercenários financiados pelo empresário Yevgueni Prigozhin, vídeos em que se podem ver seus combatentes no centro de Soledar, ao mesmo tempo que Denis Pushilin, o governador de Donetsk imposto por Moscou, anunciou na televisão russa sua “próxima libertação”. 

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Desde a segunda-feira anterior, quando as unidades do grupo Wagner romperam a linha de defesa e entraram em Soledar, a vice-ministra de Defesa, Anna Maliar, antecipou que a situação aí “é extremamente difícil”. 

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, em sua mensagem diária expressou na noite do mesmo dia seu agradecimento a “todos os nossos soldados que resistem com heroísmo aos novos ataques em Soledar, ainda mais violentos, dos invasores”. 

Zelensky assegurou: “A batalha pelo Donbás continua. E embora os ocupantes agora concentrem seus maiores esforços em Soledar, o resultado desta dura e longa batalha seguirá sendo a libertação de todo o nosso Donbas”.

Parece que o exército ucraniano faz todo o possível por manter a parte ocidental de Soledar, que apenas nesta terça-feira recebeu 86 impactos de distintos projéteis de artilharia, segundo declarou à agência de notícias Ukrinform o porta-voz do Grupo Leste do exército ucraniano, Serhii Cherevaty.

Segundo especialistas, tomar a localidade é uma questão de honra para Moscou

Fotos Públicas
Vladimir Putin

Batendo em retirada

Não se exclui que as tropas ucranianas, para evitar ser rodeadas, optem brevemente por deixar Soledar, que se assemelha a uma localidade fantasma, desabitada quase completamente, salvo as pessoas mais velhas que não querem ou não têm para onde ir, quando antes da guerra viviam aí cerca de 10 mil pessoas. A localidade dependia completamente do consórcio Artiomsol, o produtor de sal comum mais importante da Europa Central e do Leste que surtia toda a Ucrânia e que teve que fechar na primavera. Suas minas de sal estão unidas por corredores subterrâneos de 20 quilômetros de comprimento.

Para a Rússia tomar o controle do Soledar e Bakenmut, opinam especialistas militares, é uma questão de reputação, após tentá-lo infrutuosamente desde o mês de maio anterior. Do ponto de vista militar, ocupar ambas localidades não daria uma grande vantagem operativa, pelo desgaste das forças atacantes, enquanto os ucranianos podem recuar e reforçar a terceira linha estratégica de defesa no eixo Konstantinovka–Kramatorsk–Slaviansk, estimam. 

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Diante dos rumores de que o assalto russo em Soledar, muito mais intenso nos dias recentes, havia provocado a deserção das tropas ucranianas, o próprio Rogozhin o desmentiu nesta terça-feira em sua conta em Telegram:  

“O exército ucraniano luta com valentia por Soledar e Bakenmut. Nos subúrbios ocidentais de Soledar se dão cruentos combates e o exército ucraniano defende com honra suas posições. Por isso a informação sobre deserções em massa do exército ucraniano nada tem que ver com a realidade”, sublinhou.

Rogozhin, que a partir dos avanços logrados pelo grupo Wagner, se atribuiu excessivo protagonismo ao dar a entender nas redes sociais que a plana maior do exército está formada por “uns inúteis” e que só seus combatentes a soldo – muitos deles recrutados nas prisões russas em troca de ser indultados se sobrevivessem a seis meses de combates – são os “únicos” que podem derrotar os ucranianos, recebeu nesta terça-feira um balde de água fria por parte do Kremlin. 

A agência oficial TASS, quase ao mesmo tempo que o jornal RBK, ambos próximas ao magnata Yuri Kovalchuk, que forma parte do entorno presidencial mais próximo, informaram nesta terça-feira que o general Aleksandr Lapin, cuja destituição como comandante do grupo centro do exército russo na Ucrânia, em fins de outubro de 2022 após o recuo da cidade de Liman em Donetsk, o celebraram como um triunfo pessoal de Rogozhin e seu aliado Ramzan Kadyrov, governante da Chechênia, depois de exigir que se cesse com críticas inusitados por sua dureza, é o novo chefe do Estado Maior das tropas de infantaria do exército russo. 

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O politólogo Abbas Galiamov, que há alguns anos renunciou a seguir sendo parte da equipe que escrevia os discursos do titular do Kremlin, estima em Telegram que a promoção do defenestrado Lapin é toda uma mensagem a Rogozhin: 

“Putin não levou em consideração, e o fez com marcada dedicatória, a opinião de figuras chaves que atuam por conta própria (tipo Rogozhin e Kadyrov) e assumiu a posição oficiosa. No outono passou o contrário. Talvez se tenha decepcionado com o exército e depositou sua confiança em Rogozhin. Agora se convenceu de que o exército não é tão mau nem Rogozhin, tão bom”.

Juan Pablo Duch | Correspondente de La Jornada em Moscou

Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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